As minhas corridas na estrada

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Também odeio 12 coisas no trail

No seguimento do post do TopMáquina sobre as 12 coisas que ele odeia no trail, venho eu próprio destilar algum azedume e acrescentar os meus 12 pontos:

13 - Aquele pessoal que vai o caminho todo a gritar "PAU!", "PEDRA!", "BURACO!!". Pronto, agradeço a preocupação, mas quando vou num trilho qualquer não estou à espera que seja tipo ciclovia. Avisem quando virem alcatrão.

14 - Aquele artista que apanhamos a meio de uma prova e nos diz "aaah, eu hoje venho em modo treino!!"

15 - Enganar-me numa descida e ter que voltar para trás a subir.

16 - No inicio de alguma subida lixada alguém dizer "ui, isto não é nada comparado com o que apanhei no Ultra Trail da Charneca!!". 

17 - Aqueles minutos de horror quando se despe o impermeável num dia frio depois de chover e temos a tshirt toda transpirada.

18 - Aquele pessoal que vai o caminho todo a mandar bocas parvas alto e bom som. Normalmente é uma tendência mais acentuada nos primeiros quilómetros, depois amansam.

19 - Aquele "aaaaaah" condescendente quando confirmamos a alguém que algumas partes dos "x"km da prova são feitos a andar. Depois lá temos que explicar que há subidas que são coiso, e que algumas partes do percurso são não sei o quê...

20 - Atletas a ouvirem musica alta durante uma prova. A probabilidade da musica não prestar para nada é alta e toda a gente sabe os perigos de ficar com uma musica má na cabeça numa prova que pode durar horas. Palavra chave: headphones.

21 - Desculpas pré prova. O vosso interlocutor até pode parecer muito interessado, mas na verdade muito pouca gente quer saber se vos dói a barriga, se dormiram mal, se vêm em modo treino, se vêm só acompanhar um amigo, etc etc etc.

22 - Corta-fogos. No outro dia li um estudo que 1 em cada 10 pessoas já adormeceram a subir um estradão a pique.

23 - Perceber a meio de uma corrida que nos esquecemos de cortar as unhas dos pés e ter plena consciência que vamos acabar a prova a contorcer-nos nas descidas.

24 - Batatas fritas moles nos abastecimentos.

EDIÇÃO (lembrei-me de mais duas)

25 - Engarrafamentos na entrada dos trilhos.

26 - Quando vais a meio de uma prova, já todo desfeito, e ouves alguém dizer "agora é que isto vai começar eh eh eh eh!" (normalmente é só fogo de vista, ainda estão piores que nós).




quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Ultra-Trail du Mont-Blanc

Acho que já todos fizemos aquele exercício de parar um pouco e pensar nas acções e decisões que fizemos ao longo da nossa vida e que nos trouxeram até àquele preciso momento. É engraçado, faz-nos sentir intimidados e pequeninos. Infinitas pequenas variáveis ou acontecimentos marcantes que alteram por completo o rumo das coisas, tudo a fluir até este preciso momento. 

Não consigo sequer imaginar tudo o que me trouxe até às 08:56 de ontem. Estava dentro do carro, à porta do trabalho e com o telemóvel na mão. Lembro-me que desliguei o rádio e olhei para o relógio. Foi um ou dois minutos antes das 9 que fiz refresh no site. Consegui identificá-lo claramente. Um daqueles momentos que sabemos vai mudar TUDO. Fui seleccionado para participar no Ultra-Trail du Mont-Blanc.

Podia dizer-vos que a minha participação no UTMB começou naquele momento, mas é mentira. Começou muito antes, quando comecei a correr. Quando a meia maratona me parecia uma parvoíce que não dava prazer nenhum. Mais tarde foi a Maratona que passou do reino dos super-heróis para o dos comuns mortais. Continuou quando fiz a minha primeira corrida em montanha em 2012, dia em que jurei para nunca mais. Foi ganhando forma quando passei pela primeira vez a barreira dos 42km no ano seguinte. De repente estava nos 80km, depois 100, depois 115 na Madeira, cada vez mais alto, com uma vista mais desafogada do horizonte, limites alargados, mais confiante! Tudo isso levou até àquele típico momento de viragem. Parei, e pensei: "e se....?". 

E se tentasse o UTMB?

Hoje, aqui sentado, sei que a minha vida não vai voltar a ser a mesma depois daquele sorteio.

Fiquem por aí, acho que a viagem vai valer a pena.