As minhas corridas na estrada

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

II Trail Vila de Nisa (30km)

Eu adoro treinar. A sério! Gosto de seguir um plano e saber que se fizer bem o meu trabalho vou receber uma recompensa. Mas, ao contrário dos puristas, o treino para mim não chega, preciso de recolher essa recompensa. Já muito foi dito sobre a diferença entre ir para as provas passar um bom bocado ou competir, eu não consigo separar as duas coisas. Podia pegar na família, ir passar o fim‑de‑semana ao alto Alentejo e aproveitar para dar uma corridinha, mas não é a mesma coisa. Gosto de estar na linha de partida. Gosto de olhar para trás e não ver ninguém, gosto de perseguir o gajo que vai 200 metros à frente e não sabe descer e adoro passar pessoas nas subidas. Dar tudo o que não daria num treino, sentir aquela adrenalina de recta da meta que nos faz esquecer as cãibras, ser recebido pela família e passar o pórtico de sorriso nos lábios! É um vicio tão grande como a própria actividade de correr e é incomparável a qualquer treino, por mais perfeito que este seja. Foi por isso que, ressacado, decidi inscrever-me no II Trail Running Vila de Nisa. 


A travessia do distrito de Santarém para Portalegre foi feita no próprio dia, na companhia do meu companheiro de equipa Joel e dos meus companheiros de aventuras Vasco e Rita. Tinha decidido com a Sara que, para poupar dinheiro, desta vez iria sozinho, por isso foi com surpresa e alegria que a meio da viagem recebo uma sms dela a desejar boa sorte e a avisar que estariam na meta à minha espera :) há coisas que o dinheiro não paga...

Eu e o Joel com a nova camisola do clube. Espectáculo!
Levantado o dorsal, equipamento preparado, pedi a um amigo um pouco de pomada de aquecimento para colocar no sítio onde tive a lesão depois de Arga. Foi a primeira vez que usei aquilo, talvez por isso tenha achado desnecessário lavar as mãos no fim e, já a correr, limpar o suor da testa, permitindo que a pomadinha de aquecimento me escorresse para os olhos durante as 4 horas seguintes. Sim, foi tão estúpido quanto soa...

Obrigado Google.
A partida foi dada às 9 em ponto para os cerca de 100 atletas que alinhavam à partida do trail longo (30km). Tenho, aliás, todos temos, aquele hábito de quando se vai a um sitio desconhecido fazer uma prova de montanha olhar à volta à procura dos montes mais altos. Em Nisa foi uma missão fácil, havia um que se destacava muito de todos os outros. No topo, melhor do que qualquer fita perfeitamente colocada a indicar o caminho, quase como um sinal gigante em Neon a dizer "vais passar aqui", lá estavam elas: as antenas! No trail há duas certezas, em caso de dúvida é para subir e se há antenas vais lá passar!

Até lá chegarmos tivemos que percorrer cerca de 5km de estradões com ligeiras inclinações. Bons para correr, aquecer e conseguir deixar de pensar de 5 em 5 segundos "está a doer?". A paisagem foi mudando muito à medida que avançávamos e nos aproximávamos do sopé da serra, a tal que se via à distancia. Esta atingiu a sua plenitude quando atravessámos uma linha de água na sua base, aos 9km. Agora sim, ia começar.


Como podem ver no perfil, a prova tem 9km iniciais praticamente só a descer, depois 8km finais onde se sobe ligeiramente. Quer dizer que os 1500d+ estão basicamente concentrados nos 13km intermédios. É precisamente nestes 13km que está a alma desta prova. Um Alentejo diferente que se explana em paisagens graníticas com muita vegetação e uma elevação até perto dos 500m. Os estradões foram substituídos por trilhos que serpenteavam na encosta à medida que nos elevávamos centenas de metros acima da planície alentejana, que se estendia até ao infinito. Depois de uma primeira subida de 150m verticais descemos por um trilho rapidíssimo até à aldeia de Pé da Serra, onde atacaríamos a maior subida da prova: uma parede de 250+ percorridos em 1km. 

Gosto destas subidas! Cada vez gosto menos daquelas subidas em estradão tipo corta fogo. Gosto de subidas que dêem trabalho, que se mostrem lentamente, que surpreendam depois de cada curva e não nos deixem adormecer a olhar para as sapatilhas. 

Marco geodésico no topo da subida. Outro ponto de passagem obrigatória no trail!
Chegados ao fim da subida havia o segundo abastecimento, muito completo, como todos os outros. Mas o melhor dos abastecimentos de Nisa não era o isotónico ou os salgados, eram os voluntários! Pessoas impecáveis, simpáticas e prestáveis, espalhadas por inúmeros pontos do percurso! Foi provavelmente a prova onde vi mais pessoas por quilómetro, não havia um único cruzamento que não estivesse vigiado. Não que fosse preciso, a marcação estava irrepreensível. 

Se esta subida tinha sido o prato principal, a descida e quilómetros seguintes foram a sobremesa de uma refeição de luxo. Foram quilómetros de trilhos apertados, limpos, abertos à mão. Descidas brutais, aos ésses, super divertidas. Há pouco descrevi-vos a minha subida ideal, já a descida aproxima-se muito das que apanhei em Nisa. Longa, técnica e com muitas curvas e contra curvas. Um contraponto perfeito àqueles estradões que descem a pique, onde a única preocupação é não massacrar demasiado as pernas a travar.  Muito, muito bons, aqueles trilhos! O percurso manteve-se espetacular até à Sra. da Graça, no topo da ultima subida de destaque da prova, que acabou numa estrada em calçada que me fez lembrar muito a subida a Marvão do UTSM. 

Sra. da Graça, lá em cima
Estávamos no km 22, ultimo abastecimento. A partir daqui o percurso tornou-se um bocado desinteressante, de volta aos estradões e as tais subidas e descidas que não gosto. Já foi em contagem decrescente de quilómetros que me arrastei até ao fim da prova, de volta a Nisa onde estava a minha comitiva de recepção!

Dá para ver as duas lá atrás, vieram a correr atrás de mim :)
Gostei desta prova. Aqueles 13km intermédios valem o regresso todos os anos! Organização imaculada, voluntários espectaculares, trilhos abertos de fresco, um percurso muito interessante num local inesperado. Aconselho toda a gente a experimentar para o ano! Infelizmente, tenho uma coisa a apontar. Algo que nunca falei aqui no blog, talvez por fazer parte da organização de uma corrida e saber que os custos de uma prova destas, ainda por cima sem patrocinadores, podem ser muitíssimo mais elevados do que as pessoas pensam. Mas os 15€, que apenas me deram direito ao dorsal e um íman como prémio de finisher (quando mo deram na meta pensava que era um daqueles papeis que diz logo o tempo e classificação), sem tshirt, sem almoço, sem um queijinho de Nisa (!!!), pareceu-me exagerado!


Quanto à minha prestação, dizer que foi sofrível é o mínimo, apesar do 31º lugar. Não tive pernas para a prova e acabei derreado, pela primeira vez com cãibras até quando tentava correr a direito. Disse no início que gostava de competir, e esta prova voltou a lembrar-me como o treino é importante. Não desfrutei da prova como gostaria e várias vezes senti-me frustrado por não estar a render. Depois de um mês parado é normal que assim seja, pelo menos estou satisfeito por a lesão não se ter manifestado! Felizmente o resultado foi sentir-me ainda mais motivado para voltar aos níveis que atingi na preparação para o UTAX. Porque há sempre algum gajo que pode ser ultrapassado numa subida!


Sessão de crioterapia que me soube pela vida!
Ah, a seguir fomos os 3 almoçar. Não nos deram nenhum, mas raios me partam se saio de Nisa sem comer um queijo! :)

8 comentários:

  1. Ahhhh essa crioterapia final... devia ser obrigatória em todas as provas!! :)
    Parabéns Filipe, bom ver que estás de regresso, e sem lesão.
    Beijinhos

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  2. O que tu deves ter sofrido com o creme de aquecimento na vista... Eu também fui uma vez, em Grândola, o gajo mais estúpido ao cimo da terra pois após o ter colocado, e como estava com comichão numa vista, cocei-a... com a mesma mão! Que sofrimento!!!

    Parabéns por este regresso e é giro como gostas de ultrapassar atletas nas descidas enquanto eu é nas subidas (sabendo que quando chegar a descida serei ultrapassado por todos, inclusive uma tartaruga)

    Um abraço e boa continuação

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    1. Esquece que já me baralhei todo. Tu também referiste subidas e não descidas...
      Põem cotas a comentar e é no que dá... (ih ih ih)

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    2. ahaha percebo-te! No meu caso o ponto fraco são as subidas, por isso é que me dá gozo ultrapassar nelas, quer dizer que estou a evoluir :)

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  3. Às vezes é nos trilhos menos conhecidos que se encontram as melhores surpresas. :) e o Alentejo é o local ideal para as pessoas se espantarem.

    Quanto ao prémio finisher, sou como tu, gosto de chegar ao fim e ter ali uma medalhita ou uma coisa qualquer alusiva à prova que sirva de "busca recordações". No Trilhos de Bellas não houve nada de nada no final, apenas pasteis de nata e bifanas. No saco da entrega do dorsal, a tshirt e duas sopas chinesas (sim, daquelas de juntar água quente). Nunca organizei uma prova, mas acredito que haja pequenas empresas/comércio local que gostariam da publicidade em troca de fornecerem um prémio finisher giro. Just my 2 cents.

    De resto, olha, treina treina para não ficares atrás de mim em Abril. :D

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  4. WTF??? Prova em Nisa e nem um queijinho????

    Bom, ainda bem que já voltaste e sem lesão, isso é o mais importante.
    Isso e o sprint impressionante das tuas meninas :)

    Bjs

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  5. Ainda bem que tás de volta ... agora é recuperar a forma.
    Dá-lhe. Abraço

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