As minhas corridas na estrada

segunda-feira, 9 de março de 2020

Ultra Louzantrail (43km) - Foram só mais 6h16

Estava a morrer de saudades de um bom dia de trilhos. Super motivado pelo treino que tenho andado a fazer com a APT, o Louzantrail apareceu como um primeiro teste a sério. Acabou por ser um sábado perfeito, em que todos os astros se alinharam para uma jornada épica de corrida de montanha. Choveu bastante durante a semana mas no dia da prova estava o céu limpo e temperaturas baixas. Havia água com fartura em todo o lado e os trilhos mesmo naquele ponto perfeito, antes de se tornarem demasiado empapados de lama e com os ribeiros todos quaaaase a transbordar mas ainda a correr no caminho certo. Era dificil pedir mais, mas ainda havia a cereja no topo do bolo. Uma cereja com 43km e 3100+!

Tenho uma foto do Matias Novo!
O percurso era exactamente igual ao do ano passado, por isso as comparações que fui fazendo com a minha prestação anterior foram inevitáveis. Na verdade, foi, a par da UTSF, das provas que me correram pior em 2019, por isso a ansiedade estava alta. Claro que com pouco mais que 3 meses de treino com a APT não estava à espera de subitamente ter uma mudança extra, mas já se sabe como nestas provas o estado mental pode alterar tudo.

Matias Novo
Às 8 em ponto de sábado lá partiram os mais de 300 atletas. Como sempre tenho feito ultimamente, aproveitei os primeiros km em que normalmente se dispersa o pelotão para acelerar e posicionar-me mais à frente, de maneira a evitar engarrafamentos. Desta vez, mesmo a dar gás, quando entrei no trilho, pelo menos 1 terço do pelotão estava à minha frente! Uma prova com um nível bastante bom, como era de esperar. A primeira subida da prova mostra logo ao que vamos: 1000 metros de subida em pouco mais que 6km, com algumas descidas pelo meio, como é típico na Lousã. Imediatamente entramos no verdadeiro parque de diversões que são estas encostas da Serra. Ao contrário dos trilhos Abutricos de Miranda, que são mais agressivos e técnicos, aqui corremos em trilhos idílicos, confortáveis, quase que desenhados por um artista.

Jaguar, pelo Matias Novo

No dia antes tinha discutido a estratégia para a prova com o Armando (ainda me custa a acreditar que ando a receber dicas para provas do Armando Teixeira...), que passava por andar na primeira parte da prova num certo regime, isto é, num certo intervalo de intensidade ou frequência cardíaca. Rapidamente encaixei nesse intervalo enquanto subia a trote e passava para caminhada quando ultrapassava. Engraçado como cada vez tenho que olhar menos para o relógio para perceber se estou no intervalo desejado. O certo é que cumpri a primeira subida muito bem, sempre soltinho e sem grande esforço.
 
Uma das várias aldeias do xisto, pelo Matias Novo
Os trilhos perfeitos sucediam-se, um atrás do outro. Às tantas perde-se a noção se se está predominantemente a subir ou a descer, vamos apenas cumprindo o percurso, de cascata em cascata até à aldeia do xisto seguinte. Passagem pela clássica Levada, que este ano estava mesmo no ponto, quase quase a transbordar. Subidas técnicas na rocha, outras na terra mole, descidas fáceis em trilho limpo, outras feitas de rabo a escorregar na lama.. perfeito! O culminar foi entre os 18 e 22km, a parte que me correu pior em 2019, um ligeiro sobe e desce (mais sobe que desce), embrenhado na floresta ao longo de um rio, com os raios de sol a espreitarem por entre as folhas só para reforçar a transparência da água, e que acaba literalmente na base de uma cascata. De outro mundo.


A cascata ao fundo do trilho. Foto do Miguel Cadalso!
A brutal levada, também pelo Miguel
A prova estava a correr-me exactamente como planeei, sem quebras nem nunca chegar perto do fio da navalha. Raramente ganhava ou perdia posições, a frequência cardíaca mantinha-se nos patamares que queria e as pernas só se queixaram, inevitavelmente, no medonho corta fogo que nos leva do Candal até ao Trevim. Simultâneamente a parte mais desinteressante e difícil da prova! Ultrapassado o Trevim senti que tinha pernas para os 10km e 1050D- da parte final da prova, o que me deixou muito satisfeito.

O corta fogo medonho, pelo Miguel Cadalso

A chegar ao baloiço, mesmo antes do Trevim. Trocaram o baloiço. Este está maior, mas o outro era mais giro... Foto do Matias Novo
Mais uma vez, digo: esta prova até podia valer só por esta descida gigante, não fosse o resto do percurso tão bom. Fi-la praticamente toda sozinho, só com o som dos meus passos e respiração. Mesmo como eu gosto. Primeiro 2 ou 3km num trilho dificil e com pedra, muito exposto, no topo da serra. Depois 1 ou 2km de estradão para desenrolar as pernas e finalmente um serpentear de trilhos macios, umas vezes mais outras vezes menos inclinados, que desaguam no Castelo da Lousã. Perfeito! Trotei em todas as pequenas subidas, acelerei quando o terreno o permitia e desfrutei quando ficava técnico. Sempre concentrado e a dar o que tinha. Que final!

Aproveitar enquanto eles adoram cruzar a meta comigo. Daqui a uns anos reviram os olhos e voltam ao telemovel!
Cruzei a meta com 6h16, menos 35 minutos que o ano passado, em 69ª da geral. Como disse lá atrás, em tão pouco tempo de treino com a APT não ia de repente ganhar uma mudança extra, pelo que o resultado é o costume do que tenho feito. Aliás, provavelmente nunca será muito mais que isso, mas o que me deixou satisfeito foi ter feito a prova toda, num percurso que, apesar de espetacular, nem é muito ao meu jeito (aquele típico parte-pernas da Lousã é terrível) sem quebras e perto do meu máximo. 

No fim foram só 6 horas e 16 minutos de um fim de semana que começou na sexta e acabou no domingo ao almoço, passado com a família, num sitio que adoro, com montes de amigos e a fazer o que mais gosto neste mundo: correr na montanha. 

Sabem que mais? Foi perfeito!

Passámos o fim de semana com o Alexandre e a família. O Alexandre é chef, pelo que o nosso jantar pré-prova foi ligeiramente melhor que a massa com natas do costume! Magret de pato com geleia de cebola roxa e puré de batata de doce.  A fotografia está longe de mostrar quão bom estava! Não é bem frango com batata de pacote, mas não está mau! Já agora, se tiverem possibilidade, não deixem de ir ao restaurante CISCO em Almeirim! O melhor restaurante de Almeirim! Digam que são do trail

Alexandre, Mariana e Sara


Os raposinhos Pipia (do Alexandre), Mel e Manel, numa corrida de 500m. Tive que dizer que o Manel tinha mais 3 anos do que realmente tem ahah o miúdo é rijo e, apesar de ter sido o ultimo, completou as duas voltas ao circuito a correr! É o maior!

Rapaziada toda a subir à capela da Senhora da Piedade

Já lá em cima

No trilho com a Mel