O Vale Garcia. Fotografia tirada num outro treino |
Eu sei que a malta lá atrás está desfocada, mas eu também queria era mostrar o Aníbal! |
Com o grande Henrique Dias. |
Foto do Fojo, numa madrugada destas. |
679 metros. Pico Aire |
O Vale Garcia. Fotografia tirada num outro treino |
Eu sei que a malta lá atrás está desfocada, mas eu também queria era mostrar o Aníbal! |
Com o grande Henrique Dias. |
Foto do Fojo, numa madrugada destas. |
679 metros. Pico Aire |
Sou fã da malta do Spotcriativo Eventos. A primeira prova que fiz deles foi a Zela, logo na primeira edição, desde então já corri duas vezes no Pisão e outra na Arada Night Race. Têm sabido criar provas com uma identidade muito própria, principalmente aquelas que acontecem na magnifica Serra da Arada, cujas encostas exploram a fundo, não se limitando a aproveitar os muitos trilhos existentes. Para este ano tinham grandes planos, como uma prova de etapas a acontecer em Junho, mas claro que isso foi tudo ao ar. Como compensação souberam adaptar-se à nova realidade e criaram alguns desafios muito interessantes. Primeiro uma corrida vertical no Caramulo (palco da Zela) e agora a XFun Race, na Arada, onde participei no fim de semana passado (continua activo até dia 15 de Agosto).
Ah, até me estava a esquecer de outro atrativo das provas do Spotcriativo: a probabilidade de ficarem com uma fotografia tirada pelo Fritz é muito grande! |
O desafio consiste em dois percursos a rondar os 12km e 1000+. Dentro de cada um exista uma subida mítica da Arada. A primeira é a subida do Fujaco (todas as distâncias do Pisão lá passam) e a segunda a subida da aldeia da Pena, que inclui o Trilho do Morto que Matou o Vivo e o Monstro da Pena. Daqui resultavam 4 classificações: uma para cada percurso completo e uma para cada subida. A orientação é feita pelo track, não há marcações, e o tempo para a classificação é retirado de segmentos do Strava. Simples. Bora lá.
Eu disse que valia a pena pelas fotos! |
Percurso do Fujaco - 13km, 1080D+
Às 6 da manhã já estava ao pé das eólicas, nos 1000m, com o João Tomás (devem lembrar-se dele de aventuras como a travessia do Parque da Serra d'Aire e Candeeiros e da de Arganil - Manteigas). Tínhamos dormido a noite anterior na Pousada da Juventude de São Pedro do Sul e saímos às 5:30 para começarmos a correr ao nascer do dia. Já lá estava o grande Samuel, aka FRITZ, fotografo por excelência da Arada mas sobretudo um gajo super porreiro. O sol ainda demoraria uma boa meia hora a nascer, por isso aproveitamos para conversar um bocado com o Fritz enquanto tomávamos o pequeno almoço trazido numa box da Pousada (excelente opção para pernoitar quando se quer treinar na Arada, Freita ou Caramulo!). Entretanto juntou-se o Sérgio, mentor do Spotcriativo, e às 6:40, minutos depois do nascer do sol, lá partimos.
Já conhecia praticamente todo o percurso do Fujaco das participações no Pisão. Começámos mesmo em cima de um dedo da Garra, num trilho espetacular e técnico (como foram todos) que nos afundaria bem até ao fundo do vale, aos pés de Gourim. Há uns meses passei ali com água pelo meio do peito, desta vez mal molhei os pés.
A descer a garra. Aquela estrada a serpentear foi onde o Tiago Ferreira bateu o record de subida em 24h de BTT, lembram-se? Foto do Fritz. |
É claro que perdi logo o João de vista (só para verem o nível, está no pódio das 4 classificações), mas isso não me impediu de descer a fundo, como já não fazia há meses! Quando comecei a muito inclinada subida já ia ofegante e com as pulsações bem lá em cima. Que saudades! Mãos nos joelhos, dobrado para a frente e toca a içar-me pelos trilhos xistosos. Mesmo sem abrandar ainda saquei do telemovel para tirar uma foto à Garra antes de começar a descer.
Fritz, desculpa meter uma foto minha aqui no meio das tuas! |
O modo era totalmente de prova. E prova rápida! Por isso, por cima de Gourim, dei só uma espreitadela ao relógio para saber a direção e lancei-me num trote esforçado para vencer os últimos metros de desnível positivo antes de começar a descer pelo estradão do Fujaco. Aí, mais uma vez, foi abrir a passada e martelar todos os músculos das pernas que passaram os últimos meses a folgar!
Restava agora a demolidora subida do Fujaco. Mais ou menos 4.5km e 700+, com o desnível concentrado quase todo nos primeiros 2km. Não é uma subida muito técnica, o chão é em xisto solto e dá para meter uma passada constante, mas ao facto de ser muito longa e inclinada juntou-se um dia muito quente, mesmo àquela hora da manhã!
Acham que ia em esforço? Foto do Fritz. Viemos lá do fundo, do Fujaco. |
Pulsações no red line, completamente encharcado, pernas a arder e à beira do colapso, respiração ofegante e muito sonora. Caraças, como eu sentia falta disto! Baixei a cabeça, cerrei os punhos e meti um trote muito esforçado sempre que conseguia. Lá em cima já se viam as antenas onde estava a meta, o desnível era pouco acentuado nos últimos 2km, o que "obrigava" a abrir a passada e subir mais depressa.
Foto do Fritz |
Foram quase duas horas (1h54) para completar o percurso. Quase 2 horas de muito esforço em que não deixei nada no depósito! ...espera, não deixei nada? Pois, isso vai ser um problema, porque dali a uns minutos ia ter um encontro com um Monstro...
Link para o Strava do Percurso do Fujaco
Percurso da Pena - 11km, 1000+
Chegamos ao fim do Fujaco, trincámos qualquer coisa, e arrancámos de carro para o São Macário, onde iniciava o percurso da Pena. Foram cerca de 15 minutos de viagem. Já tinha avisado o João sobre o Monstro da Pena, podem ler sobre isso aqui, naquela que foi certamente das maiores aventuras da minha vida. Mais uma vez, conhecia mais ou menos todo o percurso, sabia que, ao contrario do Fujaco que tinha aqueles km de estradão a descer, todos os metros deste 11km seriam desafiantes. O que não esperava era ser de tal maneira triturado como fui!
Desculpem a imodéstia, mas acho que esta é a minha melhor foto de sempre! Pelo Fritz |
Mal arrancámos percebi que tinha deixado um bocado das pernas no Fujaco. Normal, dei tudo e isso é coisa que não fazia há algum tempo. Desta vez nem tentei acompanhar o João, antes decidi fazer a muito dificil descida inicial resguardado para ter pernas para o Monstro. Foi a descida mais técnica que apanhámos, muito desafiante. Pedras e socalcos por todo o lado, usei mãos e rabo para conseguir descer, sempre em esforço, concentração máxima. Tricotámos uma crista vertiginosa e avançámos para o precipício que nos levaria até ao fundo do vale.
Logo no início começaram as dificuldades. Foto do Fritz. |
O litro de água que levava depressa se esgotou e a meio do percurso percebi que isso ia ser problemático. O dia estava muito quente e abafado. Não me estava a sentir nada solto, mesmo quando era a descer fácil, por isso desliguei um pouco o modo prova e liguei o modo sobrevivência, o meu amigo das ultras. Bebi água diretamente de ribeiros e enchi os flasks sempre que podia, enquanto subia o incrível trilho do Morto que Matou o Vivo, que me levaria até à aldeia da Pena.
Esta é minha, a meio do Morto que Matou o Vivo. |
Para quem não sabe, este trilho tem esse nome porque, reza a lenda, estavam a transportar um caixão da Pena para Covas do Rio quando o deixaram cair em cima de um homem que morreu. Não sei se é verdade, o que me lembro sempre deste trilho é das impressionantes escarpas verticais que o ladeiam, formando uma garganta muito apertada. Só para verem a imponência, o relógio perdeu várias vezes o sinal de GPS durante a subida!
Chegado à aldeia da Pena voltei a encher os flasks, terceira vez neste curto percurso, e preparei-me para enfrentar o Monstro da Pena, parte final da subida. Não o vou conseguir descrever tão bem como naquele artigo que fiz referência lá atrás sobre a minha participação nos 65km do Pisão, porque, na verdade, o impacto foi bastante maior na altura. Mas adorei revisitar os blocos enormes, subidos a força de braços, as cristas proeminentes e os caminhos impossíveis da verdadeira loucura sky running que é este troço da subida.
Já com pernas a latejar, constantemente a dar sinal de câimbras, o Monstro literalmente cuspiu-me aos pés do São Macário. Desta vez já nem consegui trotar nos últimos metros, tudo o que tinha ficou naquela subida.
Foi aqui que me libertei do Monstro. Mais uma grande foto do Fritz. |
Mais um vez foram duas horas para completar este percurso. Este muito mais técnico e desafiante que o primeiro. Fazê-los de seguida é claro que não foi a melhor das ideias, mas para quem não é de perto parece-me mesmo assim uma boa opção. Se optaram por os fazer de seguida, aconselho muito a começarem pelo Fujaco, fiz a subida às 8 da manhã e o calor era insuportável, não quero imaginar às 11 ou meio dia!
Link do strava para o percurso da Pena.
Bem, dizia eu que fazê-los de seguida não foi a melhor das ideias. Então o que se faz depois de acabar os dois? Pois claro, vamos ao terceiro!
Percurso dos Incas - 11km, 720D+
O nosso bonus track estava fora da Xfun Race. O Sérgio arranjou-me um percurso para passar pelo incrível trilho dos Incas, que o João não conhecia. Eu já tinha feito uma parte na UTSF e outra no Pisão, mas nunca tudo seguido. Pois bem, estava decidido!
Começámos nada mais nada menos que ao meio dia e meia. Yep. Já tinha perdido e bebido litros de água e estava completamente derretido. Tinha tudo para correr bem.
Arrancámos no parque de campismo do Retiro da Fraguinha e, agora mais descontraídos e sempre juntos, fomos papando a descida bastante difícil até à aldeia do Candal. Aos 4km, quando lá chegámos ao Candal, já implorava por uma bica de água, quando encontrámos um pequeno tanque. Milagre. Mas o melhor foi mesmo o oásis por onde passámos antes da Póvoa das Leiras:
Aqui não parece, mas ali no meio dava para mergulhar. Nem pensámos duas vezes! |
Notei logo no início da subida que a coisa não estava fácil. Não conseguia subir confortável de maneira nenhuma. Mãos nos joelhos, mãos na cintura, mãos atrás das costas, suspiros pelos bastões.... Enfim, quando não há pernas tudo atrapalha. O calor estava a tornar-se insuportável já na parte de baixo do vale, tínhamos constantemente 5 ou 6 moscas a chatearem-nos e a pousar na pele pegajosa do suor. Mas o pior, o inferno, chegou depois da Póvoa das Leiras, quando saímos da sombra das árvores.
O Trilho dos Incas. |
A imponência deste trilho é inacreditável. Quando lá passei a primeira vez, na UTSF, lembrei-me muitas vezes da travessia entre os picos do MIUT. Mais uma vez, é impossível uma fotografia de telemóvel fazer jus ao que vimos ali.
O trilho é numa encosta totalmente exposta ao sol mas protegida do vento. O piso é todo ele em lajes de xisto e quartzo, brilhantes, que refletem a luz solar e conservam o calor. A sensação era literalmente a de estar dentro de um forno, calor por cima e por baixo. Estava completamente encharcado em suor e tentava racionar a água, sabia que agora já só teria no final. Voltei a ter aquela sensação de ter que lutar por cada passo, também ela afastada há meses. A certa altura tive que me sentar numa pedra e foi como se tivessem aumentado a temperatura do forno! Levantei-me logo e batalhei pelos metros finais, que teimavam em aparecer.
No total foram cerca de 35km e 2800D+. Três percursos muito desafiantes, difíceis e igualmente interessantes. Foi de tal maneira violento que hoje, terça feira, ainda me custa a levantar. No domingo mal me mexia! Já não estava habituado a levar tanta porrada, mas foi um excelente treino para um desafiozinho que vai acontecer lá para Outubro do qual mais tarde vos falarei melhor, o Trans Peneda Gerês, de 160km. Por agora não quero pensar muito nisso, até porque estou cheio de dores nas pernas!
Pumba, só assim para acabar! |