As minhas corridas na estrada

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

2020. Um ano mau?

Acho que nunca tinha estado tão desejoso de fazer um post de fim de ano como neste fatídico 2020. Talvez porque precise de arrumar e compartimentalizar este ano esquizofrénico, pelo menos no que à corrida diz respeito, porque o resto terá que ser processado durante muito tempo. Mas como ninguém vem aqui para ler sobre "o resto", vamos lá à corrida!

Se 2020 fosse uma expressão, seria esta, captada pelo Fritz na Arada.

O meu ano começou completamente imerso no universo APT, do Armando Teixeira e do Paulo Pires. Tinha começado em Dezembro de '19 e cheguei a Março com apenas 4 meses de treino acompanhado. A verdade é que foram precisos apenas 4 meses para sentir que entrei num nível completamente diferente de corrida! Os treinos diários mudaram completamente, estava a correr menos volume e muito mais intensidade. Fiquei mais rápido e, para surpresa minha, com mais resistência! A nível de provas tive resultados que nunca pensei possíveis, como o 20º lugar do GP Fim da Europa, e sentia-me muito mais competitivo em provas de Trail, como no Ultra Louzantrail. Sentia-me confiante, a bater records de estrada em treinos, a competir a ritmos altos sem me poupar, e cada vez mais ansioso para o grande objectivo da primeira metade do ano: o meu 6º MIUT. 

Mas, então, aconteceu....COVID.


Tudo mudou. Para sempre. 

Apesar de tudo, nunca deixei de correr. Nunca papei aquelas teorias do início do pânico, quando as pessoas se começaram a virar umas contra as outras e até ir despejar o lixo era alvo de olhares de lado e três processos na polícia secreta. Continuei a correr, sempre sozinho é certo, perto de casa, mas continuei. Passei mais de dois meses sem ir à Serra, coisa que hoje em dia me arrependo muito, porque, não pondo ninguém em perigo, na verdade nada me dá mais saúde que fazer o que gosto. Mas fui correndo, com maior ou menor intensidade. 

Neste período de lock down ainda deu para fazer alguns desafios engraçados. Primeiro corri uma maratona aqui no quintal. Meti-me a correr à volta de casa e em menos de 4 horas (que era o tempo limite do desafio "km em casa") percorri 43km. A principal consequência desta parvoíce não foram as dores de pernas, foi dar-me ideias....

Abastecimentos de luxo

Assim que acabei a maratona do quintal decidi que ia correr 100km... à volta da minha urbanização!

Dei-lhe duas semaninhas para recuperar dos 43km e, no primeiro de Maio, saí de casa antes das 6 da manhã com o objectivo de correr 100km num percurso de 500 metros. 

Ainda hoje me admiro com o que consegui nesse dia. Certamente ainda a aproveitar o treino da APT, corri os 100km mesmo em cima das 10 horas, uns minutinhos abaixo, que era o meu grande objectivo. Foi um dia espetacular, com muitos amigos a passarem por aqui, uns a darem meia dúzia de voltas, outros chegaram mesmo a correr uma maratona completa! Este foi sem dúvida o feito de 2020 que mais me deixa orgulhoso. Se não leram o post, aconselho a dar uma vista de olhos (modéstia à parte). 

Segundos depois de parar o cronómetro, completamente drenado.

Ainda na senda de desafio covideiros, o terceiro que vos apresento foi talvez o que atingiu o valor mais alto na escala de parvoíce. Sem nenhuma razão aparente, numa sexta feira qualquer, decidi que no dia seguinte ia fazer um Every Single Street em Almeirim. O que é isso? Pois bem, passar a correr em todas as ruas de Almeirim. Assim foi, sem plano nenhum a não ser ir riscando ruas no relógio, saí de casa de madrugada sem fazer ideia onde me tinha metido. Foram 66km que me custaram horrores, com um calor bruto, sozinho, a andar para a frente e para trás numa senda obsessiva para pisar cada rua de Almeirim. Consegui! Mas... se estiverem a pensar numa parecida, esqueçam lá isso, metam-se antes a correr no quintal!

Pronto. Foi isto.

Quando as fronteiras começaram a abrir, o primeiro impulso foi logo voltar aos montes. Nem acredito que estive mais de dois meses sem lá ir, o regresso soube-me mesmo pela vida, até me emocionava. Primeiro umas corridas solitárias nos quintais do costume, Aire e Montejunto, mas, na ausência de provas, os planos mais ambiciosos começaram a fervilhar. Houve dois que se destacaram neste período pós lock down. 

O Trans'Aire e Candeeiros, em que na companhia do João Tomás, um amigo do Covid, atravessei a extensão do Parque Natural das Serras d'Aire e Candeeiros, num percurso de 66km em trilhos, muito interessante e mesmo na medida certa. 

Com o João, um excelente companheiro de aventuras.

E, umas semanas depois (acho que nesta altura andava a ir com sede de mais ao pote), A Travessia dos Picos do Açor ao Vale Glaciar, novamente na companhia do João, mas ainda com os extraterrestres Guilhermo Lourenço e João Lopes. Andar atrás destes três cavalos durante 76km e 4600+ foi o mais parecido com uma prova de endurance que tive durante todo o ano!


No meio das ideias que iam surgindo, defini um objectivo que não se limitará a 2020: ascender aos picos mais altos de cada distrito de Portugal continental, na companhia de um local, num percurso desenhado pelo mesmo. O projecto teve um inicio perfeito, com a subida à Sra. da Serra no Marão, na companhia do Bruno. Logo de seguida aproveitei a minha amizade com o Aníbal Godinho e passei um dia espetacular na Serra d'Aire, do distrito de Santarém. Tudo estava a correr bem e os planos de próximos distritos estavam já na calha, mas... aconteceu 2020 e lesionei-me. Passei o verão inteiro a meio gás, sem conseguir treinar.

No topo do Marão

Grande grupo.

Ainda no capítulo do "só em 2020", aproveitei para fazer mais algumas coisas que andava a adiar. Uma delas foi subir montanhas pelo sitio mais improvável: a estrada.

A primeira subida foi a clássica Lousã - Trevim, num percurso de 25km com 1000+. Para a segunda reservei o Santo Graal das subidas de estrada portuguesas: Covilhã - Torre. Esta com sensivelmente a mesma distância, 24km, mais com 1600 metros de subida. Adorei fazer ambas e de certeza que mais se seguirão. Há pelo menos mais 3 na Estrela que gostava de fazer. 

Na Estrela, aos 1993m.

Vista do Trevim.

Este foi também o ano das provas virtuais. Não fiz nenhuma daquelas de estrada, em que se corria num sitio qualquer, enviava-se o tempo e recebia-se uma medalha em casa. Não condeno, cada um tem as suas motivações, mas essas para mim não fazem sentido. Corri algumas no monte, em percursos abertos, marcados ou guiados por GPX. Dou muito valor à malta que meteu estas provas de pé e nunca me importei nada de pagar os preços simbólicos que pediam, mesmo que não houvesse bónus nenhum. Só o trabalho que tiveram a abrir e manter trilhos é meritório! 

Passei pelos Trilhos de Óbidos e Arnóia, pelos dois percursos brutais da XFun Race na Serra da Arada, o Grande Treino Secreto da Corredoura, pelo Alcanena Trail Serra d'Aire e Candeeiros e pelo Sartela Virtual, organizado pela malta de Alpiarça. Em todos percebi o empenho das organizações e em todos me diverti bastante! No fim deste post meto os links do Strava para cada um, se quiserem algum track é só pedir. 



Duas fotos do grande Fritz, na Arada.

O fim de 2020 trouxe ainda o luxo de treinar com neve. Dois fins de semana perfeitos proporcionaram dois treinos inesquecíveis na Estrela e na Lousã. Com a companhia de sempre, o João Miguel, corri em neve acabadinha de cair em dois dos meus sítios preferidos.

Estrela

Estrela

Lousã (nota-se muito a cara de felicidade?)

Lousã

Por falar em Estrela, e antes de entrarmos na parte dos números do ano, assinalar um facto: 2020 foi o ano em que treinei mais vezes na Estrela! Entre o estágio da APT, a volta no meu dia de anos, a travessia, o Estrelaçor, etc, foram 7 visitas à serra!

Aqui a meio dos 43km do Estrelaçor, onde arranquei um inesperado 6º lugar!

Quanto a números, mesmo com os 2 meses de confinamento e os 2 meses de lesão, acabou por não ser nada mau! Menos que 2019, mas isso já se esperava, até porque alterei a maneira de treinar.

Distância - 3840km
Desnível - 106 mil +
Tempo - 400 horas

Já os números aqui do blog foram uma vergonha. De longe o ano com menos publicações, 13 com esta. Os visitantes também cairam bastante, mas isso não me chateia muito. Tenho muito orgulho no que tenho aqui feito nos ultimos 8 anos, e mesmo com a popularidade dos blogs a cair a pique, não me vejo a abandonar este cantinho. Obrigado a vocês que aguentaram ler este até ao fim, aposto que são os mesmos que leram os outros 12 que escrevi este ano! 

Resumindo: foi um bom ano de corrida. Mas já passou. Agora, vamos lá a 2021!

Links para o Strava das actividades principais do ano:

GP Fim da Europa

Maratona em Casa

100km da Adema

Every Single Street Almeirim

Trans'Aire e Candeeiros

Travessia dos Picos do Açor ao Vale Glaciar

Subida Lousã - Trevim

Subida Covilhã - Torre

Distrito do Porto

Distrito de Santarém

Trail Óbidos e Arnoia

XFUN Race Arada

Trail Sartela Virtual

GTS

Alcanena Trail