As minhas corridas na estrada

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Saltar às Fogueiras

Um mês e uma semana depois da maratona do Luxemburgo tive finalmente o meu regresso a uma prova. E que regresso! Há qualquer coisa de especial nesta corrida que não se consegue explicar. Foi só a minha segunda participação (já fiquei 2 anos apeado por me ter atrasado com a inscrição),  mas não tenho problema nenhum em dizer que só não é a minha prova preferida por razões sentimentais - os 20km de Almeirim continuam a ocupar o primeiro lugar do pódio.

21:30, Peniche, 2300 atletas, dois foguetes rebentam e está dada a partida para a 35ª Edição das Corridas das Fogueiras!


Desde o Luxemburgo que tenho corrido pouco. Nas duas semanas seguintes fiz um autentico reset à corrida e desde então tenho aumentado suavemente o volume, incluindo 1 ou 2 treinos de fartlek por semana. O que não tem abrandado nada são os treinos de reforço muscular. Felizmente consegui meter na cabeça (e na minha rotina) os tais 3 treinos por semana e ainda não falhei nenhum. Os dias de andar dorido já passaram há muito e andava a sentir-me muito bem nas ultimas semanas, inclusivamente quando puxava pelo corpo durante os fartleks. Mas o primeiro teste a sério ia ser em Peniche. Não que esperasse bater o meu record dos 15km (até porque nem sei bem qual é eheheh), mas pela primeira vez em algum tempo fiz uma prova sem saber muito bem como estava o meu corpo.

Costuma dizer-se que aprendemos com os erros, mas não foi o meu caso. O ano passado disse a mim mesmo que ia para a partida pelo menos meia hora antes para evitar a confusão inicial, mas outros valores se levantaram (estava a dar o Colômbia - Uruguai, mundial é mundial...) e só fui para lá 15 minutos antes. Toda a gente que fez esta corrida já passou por isto - os primeiros 500m são um suplicio. É muita gente afunilada numa estrada estreita, é quase impossível correr a não ser que se parta nos 100 primeiros. No entanto não aponto isto como um defeito da prova. Pareceu-me ouvir o speaker dizer que para o ano iriam alterar o percurso para poderem ter mais gente. A ser verdade ficava triste. Esta confusão faz parte da prova, trocava 50 avenidas largas por aquela estrada estreita cheia de gente a apoiar sem problema nenhum! Enfim, o resultado de chegar tão tarde foi demorar quase 3 minutos a passar por baixo do pórtico e um primeiro quilometro 1 minuto mais lento que o mais lento dos outros 14. Mas isso interessa pouco, a viagem tinha começado!

Mais zigue zague, menos zigue zague, e do 1º ao 6º km lá consegui meter o ritmo que queria. Aliás, até estava uns bons 15s abaixo dele, mas sentia-me super bem! É aproveitar enquanto dá, até porque a Corrida das Fogueiras só começa verdadeiramente aos 6km. É por volta dessa distancia que passamos a 2ª de 3 vezes pela tal estrada estreita da partida, desta vez em sentido contrário, para nos enfiarmos dentro da cidade e começar o sobe e desce até chegarmos finalmente ao mar. 

É incrível o que passamos dentro de Peniche. A cidade sai verdadeiramente toda à rua para apoiar do 1º ao ultimo atleta! Não há nenhum sitio em Portugal assim, pelo menos que eu tenha visto. Toda aquela envolvencia resulta num boost brutal de adrenalina e nem mesmo o sobe e desce de ruas estreitas me abrandam o passo. Mas chegámos ao km 8 e era hora de subir, a mais longa longa do percurso, +/- 1km imagino eu. Foi nesta subida que mergulhámos finalmente na escuridão e começamos a melhor parte da corrida. 

Quero fazer aqui um apelo. Toda a gente, repito - TODA a gente que corre, tem que vir obrigatoriamente pelo menos uma vez às fogueiras. Está escuro? Sim, escuro de mais, assusta nem sequer ver a estrada. Está vento? Sim, uma ventania que nos empurra pra trás. Tem subidas? Sem dúvida, do inicio ao fim. O fumo das fogueiras às vezes intoxica? Yep, por causa do vento. Trocava estes 4 ou 5km por outra prova qualquer, seja ela qual for? É que nem pensar! Só nós, o som das sapatilhas a bater no alcatrão (há lá coisa mais bonita?), o barulho do mar e o crepitar das fogueiras. Estava de tal modo a gostar que quando vi finalmente a luz artificial, sinal que estávamos a voltar a Peniche, fiquei triste por a prova ter 15 e não 21km! Agora já só faltavam mais 2km e mais uma vez levávamos um banho de multidão e de apoio dentro de Peniche. Que contraste, que loucura de prova!

Entretanto lá fui olhando para o relógio e para surpresa minha nunca abrandei o ritmo daqueles primeiros 6km. O melhor de tudo é que me senti sempre muito bem a correr e subir e nunca tive a impressão de estar a chegar ao limite. Queres ver que os agachamentos e as pranchas resultam?? :)

Cruzei a meta com 1h02 (média de 4:05min/km). Não me lembro se é o meu melhor tempo aos 15km, mas a partir de agora vou considerar este o meu record! Esta prova merece esta lembrança, e para o ano que não há mundial, nem europeu, nem jogos olímpicos (convinha também que o Benfica não jogasse nenhum particular de pré-época eheheh), vou fazer por estar mais cedo na meta e pelo menos recuperar o primeiro minuto.

Em suma, foi uma noite muitissimo bem passada. Como sempre com as minhas miúdas e desta vez com a companhia dos meus cunhados. Que fique já aqui dito - para o ano, nem que seja de muletas, vou voltar a saltar às fogueiras!




9 comentários:

  1. Acabo de escrever o meu relato e é curioso ver como acabamos todos por sentir as mesmas coisas ao longo da prova independentemente da velocidade... e aqui reconheci que partir junto à linha da frente foi realmente um descanso... Boas provas!!

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  2. Mas ca ganda tempo, Filipe! :)

    Esta corrida é mesmo especial. Falas em Almeirim, que também é outra clássica e da qual tenho pena de não poder ir este ano. Não vou fazer 20 kms uma semana antes da Maratona do Porto! :)

    Um abraço e até à próxima

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  3. As fogueiras é sem dúvida uma corrida espectacular. Este ano tive pena de ter falhado, mas quero fazê-la para o ano sem falta. Em relação ao dizeres "Não há nenhum sitio em Portugal assim, pelo menos que eu tenha visto.", tens de ir também fazer a São Silvestre da Amadora (outra que só falto por questões de força maior). Em ambas o público é excelente e na Amadora nem a chuva os afasta da rua.
    Parabéns pelo excelente tempo.
    Abraço e boas corridas

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  4. Bom, já estava estragado por me ter esquecido de inscrever, agora então...
    Bela descrição, até tenho os olhos a lacrimejar, por causa do fumo :) e que Belo tempo!
    Para a ano não me escapam! Ainda não sei a data exacta mas vou já por o aviso para a inscrição ;)
    Abraço

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  5. Parabéns, Filipe, óptimo tempo! É uma prova que está em falha no meu "cv" de corridas. Talvez para o ano!
    Bjs

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  6. Parabéns, Filipe, óptimo tempo!
    Esta é uma prova que está em falta no meu "cv" desportivo. :) Talvez para o ano.
    Bjs

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  7. Bem tinha comentado mas pelos vistos não ficou.

    Tu descreves na perfeição aqueles momentos à beira mar. A escuridão, o não saber quando é a próxima curva, os ténis a bater no chão a um ritmo alucinante. Mas após isso, aqueles últimos quilómetros são realmente fantástico, um apoio como nunca vi, eu próprio já batia palmas aquelas pessoas todas.

    Para o ano caraças lá estaremos!

    Um abraço!

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  8. A Corrida das Fogueiras é magia pura! E como descreves bem essa magia!
    Pois fala-se que a partida vai ser alterada de local. Tens uma certa razão pode fazer-se uma partida muito melhor mas corre-se o perigo de perder aquele público fantástico uma partida que é única em Portugal! Mas acredito que a gentes de Peniche se desloquem para a nova partida (fala-se junto aos bombeiros) pois a prova está completamente enraizada na população.
    E fizeste uma excelente prova!
    Um abraço.

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  9. Excelente prova e excelente descrição, eu fiz 1h03m53s (1h04h15s chip)
    Foi a minha primeira vez, e fiquei completamente apaixonado pela prova

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