As minhas corridas na estrada

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Stairway to Heaven

Não, não é mais um post sobre musica.


Inscrevi-me no MIUT 115. 

Madeira Island Ultra Trail - 115km.


Pronto, já tirámos isso da frente.

Como estava a dizer, inscrevi-me no MIUT e comecei o treino especifico para esta prova, que só vai acontecer no dia 9 de Abril, esta semana. Como toda a gente sabe, MIUT é uma palavra do calão madeirense que o Cristiano Ronaldo usa quando quer dizer "escadas". Primeiro passo: não entrar num elevador até Abril. Segundo passo: treinar escadas!

Até há pouco tempo, pensava que treinar escadas significava subir e descer o maior número de degraus possível. Mas depois estive a procurar informações na net, e encontrei um conjunto de vídeos muito úteis da ATRP (Associação de Trail Running de Portugal) que mostra vários tipos de exercícios de complemento ao trail e reforço muscular, entre eles, este sobre treino em escadas. Tirei alguns apontamentos deste e doutros vídeos, falei com o Daniel Leandro, que é treinador na Associação 20km de Almeirim, e hoje fui testar o método pela primeira vez. 

É um treino especifico que tenciono fazer uma vez por semana, complementado com 20 minutos de corrida lenta antes e depois (os exercícios demoram cerca de 35/40 minutos). É muito fácil de entender, pouco monótono e, pelo menos a julgar pelo grau de dormência das minhas pernas, muito, MUITO eficaz! Já faço exercícios de reforço muscular pelo menos 2 vezes por semana há uns meses, e digo-vos que já não sentia as pernas assim desde as primeiras sessões!

Primeiro procurem um lance de escadas com pelo menos 20 degraus na vossa zona. Parece pouco, mas depois vão ver que é suficiente, e se acharem que não é só têm que aumentar as repetições. Eu fui para as bancadas do Pavilhão Municipal de Almeirim (25 degraus). Neste tipo de treino especifico gosto sempre de fazer uma corrida lenta antes, hoje fiz 20 minutos. Este foi o esquema de exercicios:

  • Subir em passo de corrida
  • Subir a levantar mais os joelhos.
  • Subir a bater com os calcanhares no rabo.
  • Sobe um pé de cada vez para o mesmo degrau, salto com os dois pés para trás, salto com os dois pés para a frente. Passa para o próximo degrau.
  • Agachamento e salto a cada degrau.
  • Agachamento e salto a cada 2 degraus.
  • Agachamento e salto a cada 3 degraus.
  • Subir tudo a pé cochinho (pé direito).
  • Subir tudo a pé cochinho (pé esquerdo).
  • Agachamento lateral e salto a cada degrau
  • Agachamento lateral e salto a cada degrau (virado para o outro lado)
  • Afundo e salto a cada degrau
  • Afundo e salto a cada degrau (virado para o outro lado).
  • Fazer 10 agachamentos lá em baixo e subir tudo em passo de corrida (repetir 5 vezes)
  • Fazer 10 agachamentos com salto lá em baixo, e subir tudo a passo de corrida (repetir 5 vezes)

Repetir tudo duas vezes e no fim 20 minutos de corrida descontraída.

Alguns podem parecer confusos assim explicados por extenso, mas vejam este video e este. Vão ver que são todos muito fáceis de perceber. 

PS - Algo me diz que amanhã vou estar com um andar engraçado!

Próximo passo - treinar escadas aqui.






segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Arrábida Ultra Trail (80km) - Uma corrida completa

Quando decidi voltar a apostar no trail, no inicio deste ano, andei a procurar provas no Calendário do Carlos Fonseca.  Logo na altura chamou-me a atenção uma prova em Novembro. A distancia, 80km, era uma loucura inatingível para mim, mas chamou-me a atenção a qualidade do site da prova, e a maneira como já tinham as coisas definidas a tantos meses do evento. Entretanto, lá para Julho, inscrevi-me na distancia ultra. O site continuava igual. Os meses passaram e não haviam novidades nenhumas. Quando entrei nas ultimas duas semanas, aquelas em que praticamente só pensamos na prova 24 horas por dia, comecei a ficar de pé atrás. Então não divulgam o track? E os abastecimentos? E um perfil em que diga onde é que eu me vou cansar mais? E uma folha secreta a dizer que tempo vou fazer?? Ui que isto vai correr tudo mal! Vai estar tudo mal marcado, os abastecimentos vão ser péssimos, vou torcer um pé, vai ser só estradões... AAAAAH
Foi assim, com este espírito, que acordei no domingo às 5 da manhã. Por causa disso, estou convencido que os deuses do trail me castigaram pela falta de fé, e decidiram transformar-me num bicho. Ou isso ou então em Setúbal há melgas mutantes que ainda sobrevivem a meio de Novembro, Senhoras e senhores, era esta a cara do bicho com o dorsal 32:

Obrigado melga, o lábio ficou fixe :)
A partida foi dada no Castelo de Palmela com um ligeiro atraso. Às 7:10, já de dia, lá foram os cerca de 150 bravos para enfrentar os 80km. 

4 dos 6 Almeirinenses presentes em prova
O percurso começou com uma grande descida técnica. Divertida e rápida qb, serviu para dispersar os atletas antes de entrar nos trilhos mais técnicos. Como podem ver no perfil altimetrico, nunca andámos em grandes altitudes, o ponto mais alto do percurso tinha 237m. 


Nesta altura, ainda desconfiado da organização que se estreava no trail com uma prova muito ambiciosa, andei sempre atento às marcações. A verdade é que até agora estas estavam impecáveis! Grandes e visíveis fitas amarelas marcavam o percurso exactamente onde tinham que marcar. Com maior densidade nas mudanças de direcção e em situações que pudessem provocar duvidas, e mais dispersas em trilhos compridos. Perfeito! Ainda cheguei a considerar que lá mais para a frente se podiam desleixar, mas não! Posso mesmo afirmar que foi a prova com melhor marcação que já fiz! Já nos atravessamentos de estradas, invariavelmente estavam elementos da organização, muitas vezes acompanhados de policias que paravam o transito, cinco estrelas!

Bem, mas voltando aos trilhos. Os primeiros 15km foram fantásticos. Sempre dentro da Serra da Arrábida, fomos subindo e descendo encostas muitas vezes com uma vista espectacular para Setúbal. O percurso, sempre em single tracks muito bem limpos e corriveis, serpenteava no meio de uma vegetação maioritariamente baixa mas com muitos pinheiros mansos que ofereciam sombra e um cheirinho que me iria acompanhar até ao fim. 

Eu seguia bem, sempre controlado e sem nunca forçar. Corria desde o inicio com um desconforto intestinal, o que me assustava, mas fisicamente estava impecável. Decidi levar os meus bastões, apesar da prova ter muito pouca altimetria. Sobre eles, falar-vos-ei mais tarde, mas posso desde já dizer que estou definitivamente rendido! Aliás, penso que vou começar a andar com eles no dia a dia :)
Calma, também não é preciso esse entusiasmo todo.
O primeiro abastecimento chegou aos 15km. Exactamente aos 15km, como anunciado. Era no sopé de uma montanha, junto ao Teatro o Bando. Era o meu segundo maior receio, e mais uma vez perfeitamente infundado. O  abastecimento estava quase impecável. Fez-me lembrar as festas de anos quando eramos putos, só faltavam os rebuçados de fruta espalhados em cima da mesa. A única coisa que faltava neste e nos outros abastecimentos todos (com excepção do que tinha comida quente) era mais comida salgada, que se cingia a amendoins. De resto estava lá tudo, muita fruta, marmelada, salame, bolo de chocolate, areias, bolos de manteiga, outros bolos que nem sei o que eram, água, isotonico, coca cola... Estava com fome e comi bastante. Sabia que logo a seguir tinha uma boa subida, que serviria para assentar a comida no estômago. Tinha esperança que isto atenuasse ou eliminasse o desconforto que sentia.

Junto ao teatro, e imediatamente antes de uma subida de cerca de 150m por escadas rudimentares, estava um grupo do Teatro, numa espécie de improvisação à volta de uma mesa de pique nique. Estavam com umas máscaras meio estranhas e em algumas cadeiras estavam uns bonecos de palha. Agradeço o esforço para animar o pessoal, mas aquilo pareceu-me muito sinistro! Lembrei-me da familia Sawyer do " The Texas Chainsaw Massacre", só lá faltava o Leatherface (desculpem o momento nerd de filmes de terror). Se tivesse visto aquilo já de noite borrava-me todo!

A familia Sawyer. Pessoas muito porreiras.
O segmento seguinte foram cerca de 10km num single track que passou junto de muitos moinhos, sempre na crista do monte. Como andámos sempre lá em cima, as subidas e descidas nunca eram muito acentuadas, por isso dava para correr sempre. Muito engraçada esta parte. Foi um dos segmentos que ao olhar para o track do percurso parece um grande e chato estradão, mas não podia estar mais enganado! 


No fim destes 10km descemos finalmente do monte e continuamos por trilhos estreitos. Neste segmento decidi tomar uma atitude quando às dores de barriga. Pequeno desvio, tratar da logística e....vocês sabem o resto. 
Obrigado internet, nunca me desiludes.
Aos 28km estava o segundo abastecimento, dois quilómetros antes do anunciado. Esta é a única (pequena) falha que posso apontar. Este estava dois quilómetros antes, e o que estava anunciado aos 72km só chegou aos 74. Nada de grave. O segmento seguinte passaria então dos anunciados 18 para 20km. Achei demasiado entre abastecimentos. Pelo sim pelo não abasteci bem de água e tomei um gel.

Destes 20km, cerca de 10 foram em estradões. Quando vi o track fiquei com muito medo que a maioria do percurso fosse nestas estradas de terra, mas felizmente estavam todos concentrados nestes 10km. Foram chatos, sem dúvida, mas não beliscaram a excelência da prova. 

O problema dos estradões, além da monotonia, é que dão quase sempre para correr. A certa altura já rezava para que na próxima curva estivesse uma grande subida para descansar. Esta parte foi quase toda corrida num vale na base dos grandes picos da Arrábida. Foi chato.. Parecia que não saímos do mesmo sitio. Comecei a ficar com medo que a prova fosse assim até ao final. Ia com uma média muito boa, mas correr durante longos períodos desgasta muito o corpo, e se assim continuasse ia pagar mais tarde. 

Felizmente, nos últimos 3km antes do abastecimento voltámos a entrar na serra. Voltaram os trilhos estreitos e divertidos, e o abastecimento lá chegou, aos 48km como anunciado. 

Entrávamos agora numa terceira fase da prova. Depois dos trilhos corriveis e dos estradões chatos, era agora altura de voltar a mergulhar na Serra e finalmente enfrentar subidas violentas! Oh, a alegria de ser massacrado!! :')


Puxa dos bastões e *tlec* *tlec* *tlec* por ali acima. 

Meus amigos, deixem-me falar-vos do meu amor pelos bastões. Acham que é uma mariquice? Pois bem, não quero saber disso para nada, só lhes vejo vantagens. São leves o suficiente para não incomodarem o percurso todo se tiver que correr, ajudam na postura quando subimos eliminando as dores de costas, poupam as pernas nas descidas mais violentas, ajudam a passar por obstáculos como possas de lama gigantes (e então se foram poucas...), e em caso de desespero ainda conseguem caçar um coelho e fazer um guisado! 

Foram 14km de sobe e desce até ao terceiro abastecimento, nos 62km. Com uma progressão muito mais lenta que no inicio. Sucederam-se as subidas muito inclinadas, apesar de curtas. Nas descidas comecei a sentir muito o desgaste, doíam-me muito as articulações dos tornozelos, nunca me tinha acontecido. Continuei sempre controlado e sem nunca forçar, encarei este desgaste como natural, de quem já tinha percorrido 60km.

O terceiro abastecimento era onde estava a nossa mala com roupa para trocar. Mas o que interessa falar aqui é da espectacular canja quentinha que comi. Aliás, das duas canjas quentinhas que comi! Qual tomate com sal, amendoins ou batata frita, não há nada como comida a sério. Com o estômago reposto e muito mais confortável depois de trocar de camisola e t-shirt, lá segui caminho. 

Sorry...
O percurso não se alterou muito até aos 74km. O que se alterou foi a minha condição física. Estava agora a entrar em níveis mínimos. Como previa, estava a pagar aqueles quilómetros todos seguidos a correr. É uma pena que não tenha aproveitado bem estes quilómetros, porque o percurso era espectacular. Todos, mas TODOS os trilhos eram bons para correr! Incrível, quem me dera ter pernas. 

Estávamos agora no coração da Arrábida, muitas vezes com vista para o mar. A certa altura vi a Península de Tróia de uma perspectiva espectacular, melhorada pela luminosidade do por do sol. Daqueles momentos que nos fazem lembrar porque gostamos disto.

Não há imagem que lhe faça justiça.
Continuei a correr já com muitas dores. Quando passava uns minutos a correr e parava numa subida parecia que todos os músculos bloqueavam e as articulações gritavam. Quando tinha que arrancar para nova corrida parecia um velho de 90 anos depois de se levantar de 2 horas de sofá. Haja sofrimento!

O abastecimento dos 72km lá chegou, mas aos 74. Completo como todos os outros, e com pessoas simpáticas, como todos os outros. O sol estava quase a por-se e estava a começar a sentir frio. Vesti o impermeável, que servia de corta vento, um buff na cabeça, outro buff no pescoço e frontal da testa. Sentei-me uns minutos numa cadeira que lá estava e comi calmamente. Faltavam cerca de 9km, já nada me tirava mais esta ultra, era só ir com calma.

A energia recuperada no abastecimento não demorou muito a ser dissipada nuns metros de trilhos. Seguia agora sozinho e raramente via alguém. Quando o sol finalmente se pôs ainda me faltavam cerca de 7 ou 8km, que demoraram uma hora a cumprir.

Não gosto muito de correr de noite, confesso. Para já perde-se o prazer de apreciar a paisagem, depois nunca conseguimos desfrutar dos trilhos porque vamos demasiado concentrados a tentar não cair e a procurar a próxima fita. 

Quanto às fitas, mais uma vez tenho que elogiar a organização. Utilizaram umas fitas reflectoras como nunca vi em mais nenhuma prova, eram gigantes e parecia que tinham luz própria, impecável! (Já devo ter utilizado o adjectivo impecável umas 5 vezes, acho que é um sinal).

Cruzei finalmente a meta passadas 11h16, com 83km certinhos. Na meta estava montada uma grande estrutura de apoio, com comida quente, musica e animação. Infelizmente esta parte não foi perfeita. Faltaram dois elementos importantíssimos, que é suposto estarem em todas as metas e todos os abastecimentos: a Sara e a Maria Amélia. Mas ok, para o ano a organização decerto fará esforços para que elas estejam presentes :)

Ok, um pin para finisher é que ficou um pouco a desejar..
Em resumo, foi uma prova que surpreendeu muitíssimo. Como perceberam, houve de tudo. Partes corriveis, partes técnicas, boas subidas (total cerca de 2200d+), bons abastecimentos... Foi uma prova rolante, mas nem por isso pouco dura. Com esta organização, parece-me que tem capacidade de ser uma referencia a nível nacional e uma excelente porta de entrada para as distancias mais, digamos, ultra. 

Ah, e lembram-se da batata que tinha no lábio? No fim já tinha desaparecido! Por isso já sabem, se algum dia uma melga vos picar no lábio e ficar inchado, vão correr 80km que isso passa!


segunda-feira, 10 de novembro de 2014

VI Trilhos de Casainhos - A FÚRIA!!!

Os Trilhos de Casainhos devem ser das provas de trail com mais tradição em Portugal. É uma distancia pequena, como cada vez há menos nos trails que se fazem, o que a torna uma excelente porta de entrada para a modalidade. Além disso é muito perto de Lisboa, o que permite uma grande afluência de pessoal da região, incluindo muita gente da estrada. Para mim era o culminar de uma semana de treinos durinha, a ultima a sério antes dos 80km do Arrábida Ultra Trail. 



A hora tardia da partida, 10:45, permitiu um acordar perfeitamente descansado. Saí de casa com o João, meu cunhado que se ia estrear no trail, por volta das 10 horas. Apesar de ser um horário pouco habitual, não me pareceu de todo desajustado. A prova era pequena, estamos em Novembro, acho que não havia necessidade de se começar mais cedo. Levantámos o dorsal sem qualquer problema, e fomos equipar para o carro. Até que, a 15 minutos da partida, desata a chover torrencialmente. A partida foi dada debaixo de chuva forte e num autentico lago que entretanto se tinha formado. 



Decidi que nesta prova, por ser curta, iria tentar acompanhar os mais rápidos pelo menos nos primeiros quilómetros. A ideia não era lutar por alguma classificação, mas evitar congestionamentos quando fosse a entrada nos trilhos e, admito, perceber em que ponto estava a minha forma. 

Os primeiros 2km seriam dentro de Casainhos, de forma a dispersar o pelotão. Colei-me a uma grupo de cerca de 10/20 pessoas que iam nos primeiros lugares e deixei-me levar pelo entusiasmo.

Gastei eu uma fortuna num impermeável para correr à chuva de tshirt....

A entrada nos trilhos deu-se por volta dos 1.5km. Continuava num grupo de +/- 10 pessoas agora a correr em trilhos bastante rápidos. Corria-se a subir, acelerava a descer, saltos por cima de riachos e rochas.. Os primeiros 4 quilómetros foram todos feitos abaixo de 5min/km. Nunca tinha corrido tão depressa num trail, mas estava sentir-me bem e continuei a acompanhar os cavalões que iam comigo. Como ia no meio de um grupo, acabei por dar pouca atenção às fitas. De vez em quando levantava a cabeça e lá via um ou duas, muito espaçadas. Eram aquelas fitas vermelhas e brancas, genéricas. Passávamos por cruzamentos sem fitas e o pessoal nem hesitava, é por aqui! diziam eles. Bem, eles devem saber o que fazem. Mais um cruzamento sem qualquer marcação, desta vez abrandámos todos. Alguém lá mais abaixo vê uma fita. Ok, boa, siga! Toca de descer a fundo! Cada vez menos e menos fitas, mais um ou dois cruzamentos e nada. 

Mau.. Estávamos agora num vale com cerca de 4km de prova. Ia concentrado numa descida em lama quando oiço alguém dizer: Pronto, já houve merda! .

Parou!

Olho para a frente e estão 10 colegas parados a olhar em volta, os 10 que lideravam a prova. Junto-me a eles com o meu grupo de cerca de 7 ou 8. Mas viste alguma fita?? Não, ninguém tinha visto. Quando é que foi a ultima que viste? Sei lá, lá pra cima! respondiam outros. 

Txiii o que para aqui vai...

Impropérios lançados para o ar, juras de ódio infinito ao Sporting Clube de Casainhos, acusações de falta de respeito, de vergonha, etc etc etc. A frustração era muita, e aumentou enquanto subíamos agora vagarosamente o monte que tínhamos acabado de descer. Continuamos a andar para trás. Pelos vistos, as tais fitas que vimos seriam de outras provas, mas eram iguais! 

Confesso que nesta altura estava bastante irritado. Já pensava no post demolidor que iria escrever e que milhares e milhares de pessoas iriam ler! Era uma vergonha! O primeiro elemento da organização que apanhasse ia levar com uma descarga de fúria enorme, isto era inadmissível!! 
Deslarguem-me que eu vou-me a eles!!
Voltámos ao percurso com quase 6km a mais que os colegas, éramos os últimos destacadissimos. Corríamos agora por uns trilhos estreitos engraçados, muito limpos, daqueles rápidos e técnicos onde eu adoro correr. 

Eh, calma, não te esqueças que estás furioso!!

Estávamos quase nos 5km (reais) de prova, onde estaria o primeiro abastecimento. Pronto, agora é que era, vou soltar um inferno em cima destes aldabrões que me fizeram pagar uma fortuna e depois gozam comigo!!!!

No sitio exacto lá estavam eles. Um rapaz e uma rapariga com um colete refletor a distribuir águas e...sorrisos. Passei por eles, recebi uma água, retribui um sorriso e agradeci os incentivos que eles gritavam a quem passava. 

Hm.. Estes eram dos bons, não devem estar ao corrente da enorme farsa que está a ser esta prova! Vou guardar o inferno e descarregar em cima de outro! Mas vou descarregar!!

Continuei a correr, e continuaram os trilhos de qualidade. Agora numa zona a descer, com muita lama. As subidas nunca eram demasiado duras nem as descidas demasiado perigosas, era tudo na dose certa. Trilhos bem abertos, bem sinalizados e muito divertidos. 

Uma passagem interessante pelas ruínas de um castelo e a subida ao cabeço de Montachique, no ponto mais alto do percurso com 409m. 

Castelo de Montachique 
A descida foi mais uma vez espectacular. Pela primeira vez arrisquei muito a descer, não pensei muito no "e se", deixei-me ir e a coisa compensou. Alguns quilómetros muito rápidos e descargas de adrenalina brutais enquanto voava por escorregas de lama. Estava agora a apanhar a cauda do pelotão, que se iam chegando para o lado e me deixavam passar, deixando sempre um incentivo.

Ah, a fúria, nem me lembrava dela... MAS ELA ESTÁ LÁ!! GRRRR

Aos 10km de prova encontro o João. Chamo por ele e explico-lhe entre sorrisos que me tinha perdido logo no inicio. Vai muito bem disposto e incentiva-me a continuar com força. 

Passei por mais algumas pessoas da organização que ali estavam à chuva e ao frio e orientar os atletas ou a distribuir água. Confesso que nem sequer me lembrei de falar do assunto, mas com certeza eles estariam ali a ganhar pelo menos 5 mil euros cada um e aqueles incentivos que gritavam eram perfeitamente cínicos, porque eles queriam era que eu me enganasse outra vez!!! Bem, mas isso fica pra depois, agora estou a gostar tanto do percurso que não me vou chatear. 

Pensando bem, são todos amadores, e a inscrição só custou 7.5€, incluindo almoço... MAS ELES SÃO MERCENÁRIOS!!

Aos 13km (reais) de prova, estava o maior desafio do percurso. A parede de Ribas. Seria um muro com cerca de 1km e 150m d+. Nada por aí além, mas o suficiente para me fazer subir agarrado aos joelhos. Chegado lá acima estavam duas pessoas da organização, muito simpáticas como sempre. Ainda não são estas que vão apanhar com a fúria...

O ultimo 1.5km até à meta é a descer por estradões com muita água e lama. Continuava a sentir-me muito bem e forcei o ritmo. Estava agora de volta a Casainhos e a entrar no largo do campo de futebol, onde estava o pórtico. A prova passou dos 15km anunciados para 21, que cumpri em 2h08. Vistas bem as coisas, adorei a prova e o percurso, diverti-me muito nos trilhos rápidos e foi um óptimo treino para a Arrábida. Também o João adorou e ficou com vontade de repetir uma aventura nos trilhos. Foi uma manhã perfeita!

Ah, não, espera, não foi nada.. A FÚRIA!!

Lá ao fundo vejo uma pessoa da organização a tirar os tempos e registar os números. Pronto, é agora.

Canalizei toda a fúria que restava e apontei-a à senhora da organização. Coitada, nem sabe o que lhe espera!! Vou largar aqui tudo, vai ouvir das boas, se for preciso ainda a deixo a chorar!!! NEM VAI SABER O QUE LHE BATEU!!!!!

PASSEI A META, DESLIGUEI O CRONÓMETRO, DIRIGI-ME À SENHORA E DISSE-LHE:

- Olhe, perdi-me.

E sorri.

A senhora olhou para mim, sorriu, e encolheu os ombros.

Pronto, ficamos assim :)





terça-feira, 4 de novembro de 2014

Sabes que és um corredor quando...

  • O par de sapatos mais caros que tens é o de corrida
  • Quando vais na auto-estrada e vês uma placa a dizer "Área de Serviço a 30km" pensas: conseguia correr até lá.
  • Já usaste pelo menos uma vez um par de calções sujos para correr porque não tinhas nenhuns lavados.
  • Ficas com inveja quando vais de carro e passas por alguém a correr.
  • Fazes planos para arquivar os dorsais das provas que participas, com data e tempo feito, e passado pouco tempo já tens dorsais espalhados por todo o lado. Que não deitas fora porque... Bem, porque não!
  • Não sabes onde guardar tantas t-shirts de provas.
  • És capaz de gastar mais dinheiro num impermeável do que num casaco para usar no dia a dia.
  • Alguém passa por ti a meio do treino e imediatamente assumes que ou está a correr há menos tempo ou vai fazer uma distancia menor.
  • Reviras os olhos com as seguintes perguntas: em que lugar ficaste; quanto tempo fez o primeiro; quantos quilómetros tinha essa maratona.
  • Tens pelo menos uma unha negra ou a cair.
  • Já leste o blog do João Lima
  • Sabes quando falta 1km até à tua casa, em todas as direcções possíveis.
  • Passas por um subida de carro e pensas "que bom sitio para treinar rampas!"
  • Pagas 15€ para correr num sitio onde podes correr de graça.
  • Acordas com alegria mais cedo ao sábado do que qualquer outro dia da semana, para poderes fazer um treininho longo
  • Ficas irritado com o médico quando ele te diz que tens que parar 2 semanas.
  • Não fazes planos para a sexta feira à noite há anos, porque sábado de manhã é dia de longo.
  • Planeias as tuas férias em função das corridas onde estás inscrito.
  • Não fazes alongamentos antes de correr. Mas sabes que devias fazer...
  • Sentes-te 1000 vezes mais badass (há falta de melhor termo) quando passas pelo mesmo sitio a chover do que quando está sol.
  • A primeira reacção que tens quando cais é parar o cronómetro.
  • Ouves "tás mas é maluco!" pelo menos 3 vezes por semana.
  • Dás uma volta ao bairro antes de parar, porque faltam 200 metros para os 15km.
  • Escolhes comprar meias escuras não porque fica bem, mas porque se nota menos a sujidade.
  • Fazer as tuas necessidades básicas no mato deixou de ser um problema. 
  • Aceleras o passo quando passas por um grupo de pessoas.
  • Sentes-te culpado porque só correste 3 vezes a semana passada.
  • Trocas mais vezes de sapatilhas do que os pneus do teu carro.

Se te identificas com pelo menos 20 das 26 alíneas atrás...... Tens um problema :)


domingo, 2 de novembro de 2014

Correr com amigos.

Este fim de semana tinha no menu um longo de 27km. Nada de especial, uma corrida tranquila igual a tantas outras! Começo a equipar-me, encho a mochila de água, um gel, uma barra, agora vou só ali à dispensa buscar as sapatilhas e.. AAAAAH, UM BICHO!!


Eishhh que já se me agarrou às pernas, tou lixado! 

Tentei livrar-me dela, mas nada. Estava para ficar. O problema é que agora já estava todo equipado e pronto a sair, faltam duas semanas para os 80km da Arrábida, é o ultimo longo que faço, por isso é muito importante! Pfff, tinha que aparecer logo hoje... 

Já sei, vou convidar um amigos para vir comigo, a coisa torna-se mais fácil e vou distraído.

Os meus companheiros habituais de corrida estavam todos com horários ou treinos desencontrados dos meus, por isso decidi ligar a um pessoal com quem já não corria há anos. Uns telefonemas rápidos e a coisa estava alinhada. Não os via há muito tempo, mas já me fizeram boa companhia há uns anos, talvez a coisa corresse bem.

Assim que desço as escadas do prédio já estava o Fachada à minha espera. A meio dos alongamentos ele começa a falar-me de prestidigitação, de monogamia, de um tal zé que tem um Cadilac.... Eu gosto do Fachada, a sério que gosto, mas o gajo é um bocado pretensioso e hoje estava com pouca paciência para ele, muito sinceramente. Corremos mais ou menos 1km e depois despachei-o, não estava para isso.


Por sorte tinha combinado com o Capitão Fausto ali ao pé do pavilhão. Mal o apanhei notei logo um aumento de ritmo! O Fausto nunca me falha. Apesar de não nos conhecermos há muito tempo sempre nos demos bem. 


Já com alguns quilómetros nas pernas, e enquanto falávamos sobre a Teresa, reparei lá à frente numa data de pessoal parado. Ao longe não percebi logo, mas assim que me cheguei perto percebi quem era. Já não via esta malta há que tempos! Penso que desde doismileoito! 



De repente estava no Santiago Alquimista, em 2009. Os quilómetros passam e nem me lembro que estou a correr. Esta é a melhor parte de correr com estes amigos. Normalmente gosto de ir absorto nos meus pensamentos, concentrado no caminho, nos sons que me rodeiam, na respiração, mas de vez em quando sabe bem partilhar a experiência. 

Entretanto juntaram-se a nós o Samuel Úria, que vinha com a Márcia. 


Como a menina não acertou o passo, segui sozinho com o Samuel. Calhou bem, ele é o companheiro ideal para esta parte do percurso. Entendo-me muito bem com o Samuel, e às vezes penso porque é que não corremos mais vezes juntos. As pedras rolam debaixo dos pés numa descida mais inclinada e já vou a pensar em tudo menos na corrida. Viajo para os anos de faculdade, para os trajectos Ajuda - Caparica, por cima da Ponte 25 de Abril a caminho da escola, tantas vezes acompanhadas por um Samuel que dava os primeiros passos. 


O ritmo do treino segue assim certinho mais uns quilómetros. O melhor destes longos, sem uma maratona no horizonte, é que não estou minimamente preocupado com o ritmo, vou à velocidade que me apetece. Aliás, à velocidade que me provocar o mínimo de desconforto! Vou a correr só pelo prazer de correr, e a companhia ajuda muito. 

Entretanto a coisa ficou séria. O Samuel cansou-se e começou a atrasar-me o ritmo. Os excessos do Halloween estavam a fazer-se sentir e eu também estava a ir abaixo. Nessa altura passei por uma casa ocupada e estava lá dentro uma mulher a dias, que se juntou a mim.

Bem, suponho que o oficio de mulher a dias seja bom para reforço muscular, porque esta senhora deu-me uma abada do caraças! Dei por mim a fazer os quilómetros mais rápidos de todo o treino, e isto aos 20km!


Entusiasmado, lembrei-me de outros amigos meus que também adoram correr a ritmos altos. Fiz imediatamente um desvio no caminho para passar pela zona onde eles costumam andar, com sorte estariam lá.

...e estavam mesmo!!


Continuam obcecados pelo aspecto. Já lhes tinha dito que o Variações já morreu, mas eles querem uma tesoura na barba.. 

Acertei o passo com o deles, e assim fui mais uns quilómetros. Até que à beira do trilho por onde andava vejo uma guitarra. Peguei nela. Era bom treino para os bastões, pensei eu. De repente o trilho transformou-se numa praia, corria agora na areia solta. Lá ao fundo estavam o Ângelo, Nuno e Tito. No mar via o pessoal do surf. Olhei para baixo e em vez das Adidas Boost tinha umas havainas! 

Vejam lá se reconhecem o cromo da guitarra branca :) 

Era como se já não estivesse a correr, não fazia o mínimo de esforço! A amiga Preguiça há muito que tinha ficado agarrada a um eucalipto e eu continuei com outro pessoal até chegar finalmente a casa. O treino estava feito e revi uma data de amigos antigos! Nada mau para uma manhã de sábado :).

No fim os meus amigos foram-se todos embora neste autocarro.
E vocês, gostam de correr sozinhos ou "acompanhados"? :)