Esta ultima semana, depois dos 66km da Ericeira, decidi fazer tudo bem. Andei de bicicleta no dia a seguir à prova, comecei com treinos curtos e lentos, comi e dormi bem, fiz duas sessões de alongamentos e acabei com um treininho tranquilo de 15km no sábado. Foi uma recuperação perfeita e sinto-me a 100%!
Hmm... Pois.... Mas foi mais ou menos isso, vá.
Depois de um domingo de preguiça e de uma segunda feira que misturou muito trabalho com compras de ultima hora, o primeiro treino pós Ericeira ficou marcado para terça feira. E que melhor maneira de iniciar a recuperação do que um treino de escadas e rampas?
De escadas até ao Natal.
Terça feira foi o dia de finalmente experimentar o "Escadinhas e Subidinhas", do João Campos. O plano era simples, sair de comboio de Santarém, chegar lá uma hora antes, equipar tranquilamente no carro de um amigo e fazer o treino. Isto tinha corrido tudo muito bem se não tivesse perdido o comboio! O resultado foi ter que esperar hora e vinte na estação por um comboio que chegaria à hora exacta do inicio do treino (espera responsável pela constipação que ainda hoje me assola). Para não perder tempo com o equipamento, tive a ideia luminosa de me equipar na casa de banho da estação e vestir a minha roupa por cima, para depois a tirar na casa de banho do comboio. Podia escrever um post inteiro sobre equipar em casas de banho da CP, mas por agora chega dizer que os alongamentos para o treino ficaram feitos.
À chegada estava um grupo de cerca de 30 pessoas à minha espera, literalmente (o comboio atrasou-se 20 minutos). O João, autentico Mestre de Cerimonias, foi o primeiro a cumprimentar-me. Um pequeno briefing dado pelo comandante e estávamos todos sintonizados. Não sei há quanto tempo ele faz isto, mas fiquei impressionado pela maneira como conseguiu organizar um grupo muito heterogéneo num treino quase sem períodos de espera e que deu para que cada um andasse a seu ritmo, e não ao ritmo imposto pelos outros. O que eu pensava ser mais um convívio que treino transformou-se numa jornada bastante dura (668d+) de quase duas horas de sobe e desce de escadas e rampas, na companhia de gente bem disposta, alguns dos quais "conhecidos" do Facebook. Foi uma muito boa surpresa que só não vou repetir mais vezes porque, somadas as coisas, saí de casa às 18 e cheguei às 23:30!
O perfil mais geométrico que alguma vez vi! |
São Silvestre não era milagreiro, pois não?
Este sábado foi dia de participar na minha segunda corrida de 10km de 2014. Depois da Scalabis Night Race, onde bati o meu record pessoal, corria agora na São Silvestre de Lisboa.
Perdão, o nome é "El Corte Inglés São Silvestre de Lisboa". |
Já aqui tinha dito que gosto de provas de 10km. Dificilmente há provas que elevem tanto os níveis de adrenalina e, neste caso em particular, a descida final da Avenida da Liberdade tem o condão de aumentar exponencialmente estes níveis.
Pelo tempo conseguido na SNR obtive um dorsal para partir na zona SUB40, o que me permitiu arrancar praticamente debaixo do pórtico. Não que tivesse pretensões a ganhar alguma coisa, mas é óptimo evitar aquela confusão inicial destas corridas.
Depois de uma apresentação individual das estrelas da corrida, que achei muito interessante, foi altura de dar o tiro de partida.
PUM - lá foram elas!
Espera lá, elas? Pois, a HMS teve a ideia peregrina de redifinir os conceitos de igualdade de sexos e faz com que a elite feminina parta quase 3 minutos antes da masculina! "Vá, vocês são mais fraquinhas, podem partir antes para ver se ganham alguma coisa ;)" Sou só eu que acho isto parvo? Enfim, paternalismos à parte, era altura de correr!
Estava no meio dos aviões, já devia estar à espera, mas aquele primeiro quilómetro foi uma loucura! Não me lembro de alguma vez ter feito um km tão rápido em prova, e fui muito mais ultrapassado do que ultrapassei! O declive negativo ligeiro ajudava e as pernas quase que mexiam sozinhas. Foi assim até chegar ao Terreiro do Paço, onde um reality check provocado pelo desnível que tinha passado de negativo a nulo me gritou aos ouvidos "ELAAHHH calma miúdo, não tens andamento pra isto!!".
Até voltar ao Terreiro do Paço foram 5km muito planos. Consegui estabilizar o ritmo (muito acima do km inicial, claro), mas nunca me senti confortável a correr. Ao contrário do habitual nas provas de 10km, onde nem dou pelos quilómetros a passar, agora estava sempre a olhar para o relógio à espera que os metros passassem. Algo não estava bem...
De volta ao Terreiro do Paço, era altura da subida até ao Marquês. Há aquele lugar comum do pessoal do trail estar tão habituado às subidas das montanhas que uma inclinaçãozinha na estrada não faz mossa, mas cá para mim isso só é verdade no papel e se alguém vos disser o contrário está a mentir! Tudo depende da intensidade, e numa prova de 10km em que vamos a dar o máximo, uma subida de 3km, por menos inclinada que seja, faz muita mossa. Se no primeiro km consegui manter o ritmo, a muito esforço, foi a meio da Avenida da Liberdade que levei uma marretada como não levava há muito, as pernas simplesmente cederam. Estava a pouco mais de 200m da rotunda e ia começar a descida, mas as pernas não respondiam. Forcei, forcei, forcei... De repente penso que um tubarão mutante invisível, porque sobreviveu fora de água e eu não o vi, me deu uma dentada por baixo das costelas o que me provocou uma dor aguda insuportável! Há quem lhe chame dor de burro e o Google diz-me que é uma caimbra dos músculos do diafragma. O que eu sei é que não a sentia há anos, e naquele momento nem respirar conseguia, quanto mais correr!
Aí mesmo. |
Olhei para o relógio e o meu ritmo era mais de um minuto mais lento que o resto da prova. Fiz umas contas rápidas e percebi quanto tinha que fazer no último km para pelo menos cumprir serviços mínimos. Lembrava-me perfeitamente da dose brutal de adrenalina que foi o ultimo km no ano passado, e foi com esse pensamento que, enquanto corria com uma mão no flanco, me arrastei pela rotunda.
Só falta 1 e é a descer!
A dor estava lá, mas as pernas falaram mais alto. Abri a passada e comecei a voar. Assim que tirei a mão do flanco, o movimento natural dos braços amplificou a dor. Eishhh que está pior! Nesta altura comecei a desviar-me para a berma e com a meta a 500m estive muito, muito perto de parar. Passaram por mim mais de 50 atletas, haja sofrimento!! Foi com um esgar de sofrimento que consegui cruzar a meta. Sem sorrisos, sem braços no ar, sem objectivo cumprido e sem record pessoal cilindrado.
Os serviços mínimos foram cumpridos, honrei o meu dorsal sub40 e fiz 39:21. É um bom tempo, mas muito sinceramente o tempo era o que menos me preocupava nesta prova. Para mim, como em todas as provas, o mais importante era acabar bem disposto e com a sensação que dei tudo o que tinha. Bem, pelo menos metade do objectivo foi cumprido! Detesto inventar desculpas, por isso não vou andar para aqui com justificações. Para a próxima corre melhor!
Tirando pequenos pormenores, a organização desta corrida megalónama esteve irrepreensível. E o melhor de tudo é que a cidade ajudou - nunca corri com tanto apoio das pessoas em Portugal! Todas as ruas estavam cheias e em festa! O percurso é o mais óbvio e fazem bem em não arriscar. Houve uma boa camisola de oferta, um gorro/buff, alguns brindes, uma bonita medalha e ainda um saco de plástico para me embrulhar que me salvou a vida durante a quase hora completa que andei à procura da Sara e dos meus amigos no fim da prova! Regra nº1 de provas gigantes: combinar um ponto de encontro no fim :\ Com isso tudo ainda tive a oportunidade de ouvir o speaker dizer o meu nome "FILIPE TORRES DE ALMEIRIM, OS SEUS AMIGOS ESTÃO NA STARBUCKS À SUA ESPERA! REPITO, FILIPE TORRES DE ALMEIRIM!".
Esses mesmos amigos que estavam na Starbucks foram comigo no pós-prova cumprir a segunda parte da tradição São Silvestriana. Porque esta semana ainda não tinha comido o suficiente, venha de lá então esse naco na pedra!
E pronto, agora sim. Foi a ultima do ano, vou tirar um tempo para descansar e atacar a preparação para os Abutres....
...que começa amanhã de manhã, quando for treinar escadas :)