As minhas corridas na estrada

domingo, 11 de janeiro de 2015

Ano Novo, Proença a Nova (47km)

Três semanas depois do Ericeira Trail Run, este sábado foi dia de voltar a olhar para o Horizonte. Não estava nos planos até há pouco mais que uma semana, mas as saudades dos trilhos falaram mais alto e não resisti. A proposta era uma corrida de 40+ (47km, neste caso) que seria a primeira de 4 etapas do Circuito Território Centro, organizado pela Horizontes, esta a ser disputada em Proença a Nova. Como disse no post da Ericeira, apesar de não ter gostado especialmente da corrida, nunca seria fundamentalista ao ponto de dizer que não voltaria  a correr numa prova com aquela organização. Na verdade, tinha a certeza que mais cedo ou mais tarde iria correr outra, não pensei foi que fosse tão cedo!


Inscrevi-me na prova no último dia disponível para inscrições. O processo mental para a decisão foi o habitual: "ok, tenho os Abutres daqui a 4 semanas, Ericeira foi há duas, vou treinar bem e descansar até lá! ....Elaaaah!! olha aqui uma prova de 47km pra semana que vem! Pois claro que aceito!"

A primeira ultra do ano tinha partida marcada para as 9 horas de sábado em Sobreira Formosa. Arranquei de Almeirim com a Sara e o meu amigo e colega de equipa Vasco & família para a viagem de cerca de 150km que nos separavam de Proença, feitos sempre de noite. Foram 150km de temperaturas entre os 2 positivos e negativos, nada que não estivéssemos à espera! O levantamento dos dorsais foi feito sem problemas no secretariado que funcionava no local de partida. Já aqui, tive a primeira surpresa agradável do dia:

Provavelmente a t-shirt mais bonita que já recebi numa prova!
Como sempre, a imagem das provas da Horizontes é extremamente bem cuidada, e esta t-shirt é uma boa prova disso. 

O controlo zero e a concentração dos atletas para as duas provas foi feito no interior do museu Isilda Martins. Aqui foi dada uma partida simbólica seguida de um percurso de cerca de 200m para a verdadeira partida, nas ruas de Sobreira Formosa.

Concentração no interior do museu.
Temperaturas perto do zero, mas espírito e boa disposição em alta. Eram nove da manhã e estava na hora! A partida foi dada em conjunto para as duas provas (havia uma de 26km). Penso que não passou mais que um km para estarmos embrenhados na floresta. Um pinhal selvagem a perder de vista, cortado por estradas florestais cobertas de caruma que tapavam o xisto no chão. Sobe e desce constante que nos levava ou ao topo de montes, que nos mostravam um manto verde em 360º em todo o horizonte, ou a vales gelados cobertos de branco. Tudo dependia dos riachos que atravessámos vezes sem conta: se estávamos a chegar a ele é porque tínhamos deixado um pico e uma descida rápida, assim que o deixávamos para trás sabíamos que nos esperava uma subida!

Que venha a subida!
Como sempre, demorei algum tempo até estabilizar a respiração e o ritmo. Noto muito isto ultimamente, talvez por causa do frio. O que também demorou a estabilizar foi o equilíbrio: caí 3 vezes nos primeiros 6km! Acho que caí tantas vezes nestes 6km como no somatório de todos os trails que fiz. É do frio. Sim, vamos dizer que é do frio.

Os primeiros 15km foram assim. Trilhos apertados, uns mais outros menos técnicos, quase todos corríveis. Subidas duras, mas nunca demasiado duras ao ponto de não permitir desfrutar das descidas. E que descidas! Estou cada vez mais confiante no trabalho de reforço muscular que tenho feito, o que permite soltar-me nas descidas sem pensar nos quadrícepes dali a uns quilómetros. Ataco-as com um sorriso nos lábios e com adrenalina a sair por todos os poros!


Por volta dos 12/13km perdi-me, outra coisa que raramente acontece nas provas que faço. Não foi um grande desvio, talvez só 500 ou 600m, mas irrita-me muito perder-me! Ainda por cima foi completamente culpa minha, a sinalização estava impecável em todo o percurso. Estava a correr atrás de um colega e distraí-me. 

No briefing inicial o speaker avisou-nos para ter cuidado com os locais que estavam à sombra. Na altura não dei muita importância a isto, foi apenas durante a corrida que me apercebi. É verdadeiramente impressionante as diferenças de temperatura que se sente num espaço muito curto, quando passamos do sol para a sombra. Nunca senti nada assim! Os vales apertados por onde passámos provavelmente recebem poucas ou nenhumas horas de sol diárias, por isso o manto branco é permanente. Corremos ao longo de um desses vales brancos por um single track em cima de vegetação densa e fofa durante uns 2km, ao lado de um ribeiro. O branco da geada só era cortado pelo verde da erva no trilho. Dos sítios mais bonitos por onde alguma vez corri! 


A imagem possível. Claro que não faz justiça, mas conseguem ver o trilho na "neve".
O primeiro abastecimento sólido, aos 16km, chegou depois de um segmento bastante técnico numa encosta com muito xisto. Progressão muito lenta, com um precipício do lado esquerdo e uma montanha do lado direito. Até ali, melhor era impossível!

O abastecimento estava instalado na aldeia de Alvito e era completo QB, como é apanágio da Horizontes. Já aqui havia sopa quente, mas decidi não arriscar porque corria desde o inicio com um desconforto intestinal. Foi aqui o primeiro encontro com a minha equipa de apoio técnico, desta vez reduzida a um elemento já que temperaturas negativas e despertares às 5 da manhã são incompatíveis com crianças de ano e meio!

Esperavam-me agora outros 15km até ao próximo abastecimento. A julgar pelo perfil, seriam 10km com pouco desnível e 5km finais que nos colocariam a meio da grande subida da prova. Depois da Ericeira, a análise daqueles 10km deixaram-me com medo de apanhar um estradão longo e chato, mas não podia estar mais enganado. De facto, esta prova foi uma espécie de Anti-Ericeira. Disse na altura que me tinha desiludido a falta de critério na escolha do percurso, mas NUNCA senti isso em Proença! Sim, houve alguns (poucos) estradões e até asfalto para entrar e sair de 4 ou 5 localidades, mas tudo ali fazia sentido. 

Assim foi. Os 10km foram verdadeiramente espectaculares. Quase todos feitos num vale a acompanhar um riacho. O trilho era bastante apertado em terra mas com muito xisto. Ora numa margem ora na outra da linha de água. De vez em quando cortávamos para dentro da montanha e escalávamos uma parede, apenas para regressar logo a seguir ao rio. Muito bom!

A subida aos 650m da Serra das Talhadas foi feita em 8km. Com alguns segmentos muito duros. O ataque final foi feito por um trilho no meio de um pinhal, com uma inclinação brutal em zigue zague. Atingimos o ponto mais alto aos 35km. Seguia-se agora uma grande descida em estradão e estrada florestal.

Vista no topo da Serra, roubada do Google.
Foi na descida da Serra que levei uma lição de humildade. Afinal aquela confiança nos quadricepes era em excesso, e comecei a sentir isso a meio da encosta. Não abrandei, afinal já não faltava assim tanto, mas se quero pensar em objectivos maiores não posso chegar aos 40km com dores musculares daquelas! 

O ultimo abastecimento estava situado a 9km da meta, em Montes da Senhora. Era o mais completo dos três. Quanto à quantidade e posicionamento dos abastecimentos, foi completamente acertado. Quer em número quer na localização. Quando alguma coisa corre mal há que o dizer, mas o contrário também é verdade, e a organização desta vez esteve impecável em todo o processo. 

A personalidade do percurso manteve-se até ao ultimo quilómetro, mesmo antes da meta. 

O pórtico de chegada, instalado dentro do museu. 
Foram 5h44 para os 47km com 1800d+. Não faço ideia da classificação, mas para mim foi uma excelente prova. Cheguei em boas condições e diverti-me muito, como deve ser! 

Muito gira a medalha!
Mais uma vez levei a máquina de filmar. Já não me custou tanto transportar como na Ericeira, penso que já lhe apanhei o jeito. Ainda bem, porque gosto muito de ficar com estas imagens para recordação! Podem ver alguns dos sítios que descrevi. Ah, escusado será dizer para verem em HD e com som eheheh


Gostei muito da prova e adorei conhecer uma zona do país que conhecia muito mal. Já depois de chegar, em conversa com o campeão Luís Mota, ele dizia-me que a zona centro do país era das melhores para trails e completamente subvalorizada. Dou-lhe razão, e realmente em Portugal temos condições espectaculares para este tipo de provas.

Com os colegas de equipa Vasco e Francisco e o super Luís Mota. Atenção, o nosso Francisco Gaio foi 3º da geral! Um caso sério!
E pronto. Faltam agora 3 semanas para os Abutres. Vão ser 3 semanas de treino consciente, descanso QB e muito juizo. ....Elaaaahhhh uma prova de estrada com 17km a subir e descer a Serra de Sintra chamada GP Fim da Europa uma semana antes dos Abtures?? Claro que aceito!! :)



14 comentários:

  1. Parabéns pela prova e pela satisfação.
    Vemo-nos no Fim da Europa

    Um abraço e força para os Abutres

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  2. Parabéns por mais uma ultra!
    Tu não paras homem!

    Os Abutres, ai os Abutres....tu não me digas nada...a prova assustam-me mas pior que isso são os tempos-limite...pelo menos para nós...enfim....é desfrutar.

    Beijinhos e força!

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  3. só tenho uma palavra para ti: DOR!

    De cotovelo :) de Resto e antes de mais deixa-me salientar mais uma vez o excelente vídeo assim com a sincronização impecável com a banda sonora!

    Tenho mesmo que atinar com a minha forma e desatar a correr feito parvo por esses montes adentro, bom, até vila de rei.

    Abraços

    PS: 0ºC e calções , ahhhhhhhhh valente, até crescem pêlos no peito, né??!!!!

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  4. Muitos parabéns por mais uma ultra! És a inveja do mundo blogueiro (pelo menos minha)... No dia seguinte à prova mega post e video todo montado com música à maneira... :P
    Estás imparável!
    Grande abraço e até Miranda do Corvo! ;)

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  5. Muito bo0m relato Filipe, vejo-te no Fim da Europa!

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  6. Muito bom :):):) ...parabéns por mais uma :) ..tu não paras mesmo!!! Tive dois colegas que foram a esta prova e tb só dizem maravilhas...eles vão fazer o circuito e eu vou-me juntar na de Vila de Rei em meados de Março...tb lá vais estar, certo? :)
    Abraço

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  7. Tenho muita inveja destas provas do Circuito, as zonas são lindíssimas (opinião tendenciosa, mas sim) :)
    Ah pois é, julgas que te escapavas dos empenos?!! :P Continua a dar-lhe no treino muscular, olha o músculo flexionado nas fotos das provas... ;)
    Beijinhos e parabéns!

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  8. Um dos maiores privilégios do trail é dar-nos a conhecer locais incríveis, sobretudo no nosso país.
    Parabéns Filipe! Estás em grande!

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  9. Epa o que tu estás a investir nos trails, cheira me que daqui a uns tempos vais começar a olhar para a classificação :)

    Realmente bem gira a tshirt! E grandes vídeos que tens feito! Não pensas em por a câmara na cabeça em vez de ser com o braço?

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  10. "E tive o grande privilégio de cumprimentar a maior barba na competição", foi a frase que reti neste teu post..
    De resto, tirando a parte da prova que não fiz, acho que disseste tudo.
    E estás em grande forma.

    Vemo-nos na segunda etapa? :D

    Abraço

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    1. Deixa lá, eu acho que nem te disse o meu nome quando me estendeste a mão! :) Eduardo, caso não o tenha feito! :)
      Pena não ires a mais nenhuma. Ficarias com uma bela coleção de tshirts e uma medalha que desconfio que irá formar uma cruz bem catita! :D

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  11. Parabéns! estás cá com uma forma! Deve ser dos treinos na subida da Compal .)
    Grande abraço e bom ano!

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