Nos dois últimos fins de semana, mais ou menos involuntariamente, experimentei um método de treino novo para mim: o chamado back-to-back. A diferença para fazer treinos diários, que faço, é que são dois treinos, ou provas, de grande intensidade, separadas por poucas horas. O que acontece é que as poucas horas que intervalam o esforço (no primeiro fim de semana foram apenas 7 horas) não são as suficientes para que o corpo recupere da prévia tareia, o que faz com que no segundo dia rapidamente se entre numa zona de esforço muito avançada. Quer dizer, eu não percebo nada de fisiologia, isto há-de ter alguma explicação cientifica, a minha opinião vem da experiência e da aplicação do coeficiente de arrasto, ou seja, a pouca capacidade de no 2º treino fazer algo mais do que arrastar-me.
Ora então, o menu foi composto por: Trail da Coruja + 28km em Montejunto no primeiro fim de semana e Santarém On Fire Trail + Moinhos Saloios no segundo.
A intensidade na linha da partida! |
O Trail da Coruja foi a primeira edição de uma corrida organizada em Coruche. Com começo às 21 e 15km de extensão. Muito rápida, divertida e interessante! A pedido da organização escrevi uma pequena crónica da mesma que podem ler aqui. O dia (ou madrugada) seguinte era de 28km com cerca de 1650D+, que é a volta base de Montejunto. Acabou por ser o treino naquela Serra que me custou mais fazer. De sempre!
Este fim de semana, por coincidência, o plano era muito parecido. Primeiro um trail nocturno, agora em Santarém, que se previa muito rápido, e na manhã seguinte os 25km desta vez de uma prova, o 3º Trail dos Moinhos Saloios na Venda do Pinheiro.
A subir uma encosta de Santarém |
O Santarém On Fire Trail foi a primeira edição de uma prova organizada em Santarém pelos Bombeiros Municipais (só a organização explica/desculpa o nome meio manhoso). Foram 18km pelas encostas e centro histórico da cidade com partida a umas ainda muito quentes 20h de sábado.
Ora, eu treino rampas em Santarém todas as semanas (Almeirim fica naquela planície que vêem lá atrás na foto anterior) desde há muito tempo. Pensava que conhecia os recantos e melhores sítios para treinar da cidade, por isso foi num misto de pânico e surpresa quando a meio da 3ª subida da prova comecei a pensar onde é que aquele pessoal tinha ido desencantar aquelas paredes! O percurso foi um constante sobe e desce por trilhos muito interessantes, com subidas demolidoras mas nunca maiores que 90D+ (a orografia não o permite), algumas descidas bastante técnicas e sempre, sempre no red line. Uma espécie de prova de 10km de estrada mas em trilhos! Muito bem marcada, apenas com algumas falhas por fitas claramente roubadas, com 3 bons abastecimentos onde bebi apenas água, quase com 700D+ num misto de trilhos, escadas, calçadas e estrada! 1h41 que me valeram um 14º lugar (não foram muitos pros, obviamente) passadas de pulmões quase em combustão.
Uma prova muito parecida com a de Coruche, apesar de mais dura, num formato que me atrai bastante. Ao contrário das ultras, onde o factor gestão é super importante, aqui é começar à morte e acabar a morrer, o que oferece um conjunto de sensações a que não estava habituado. De realçar também a excelência da prova e organização. Depois da Scalabis Night Race, para mim a melhor prova de 10km do país, Santarém atinge agora o seu potencial máximo numa prova de trilhos muito interessante que recomendo a todos. Ah, e no fim ainda houve banho no Complexo Aquático, Sopa da Pedra e bifanas para todos. A repetir!
Cartaz dos Moinhos Saloios |
Na manhã seguinte rumei à terceira edição do Trail dos Moinhos Saloios, em Venda do Pinheiro. Seriam 25km com 1000D+, o que não sendo um grande desnível era óptimo para complementar o treino anterior.
Avisado pelas dificuldades que tinha passado a semana anterior, estive uma boa meia hora a alongar em Santarém, na esperança de estar mais fresco nos Moinhos. Infelizmente fresco foi a palavra mais distante possível de tudo o que se passou no Domingo!
A prova teve inicio às 9 horas, no relvado sintético de Venda do Pinheiro. O estádio está um pouco fora da cidade, mas no sentido oposto da localização dos montes onde decorre a prova, o que implica alguns quilómetros (poucos) iniciais e finais necessariamente em estrada antes de chegarmos aos trilhos. Esta não é uma prova com grandes pretensões. Pelo contrário, é uma prova honesta, organizada com gosto e sem grandes manias. Está lá tudo: um percurso que explora ao máximo as potencialidades da zona, abastecimentos bem apetrechados e em bom número, um EXCELENTE abastecimento final, boas marcações e gente simpática. Estão lá bons trilhos (como o do javali, meu preferido e que me levou a pensar que todas as provas têm um trilho do javali), duas subidas desafiantes, a Manique e Atalaia, e muitas outras mais curtas e perfeitamente corríveis, também lá estão as necessárias ligações em estradões e até um chuveiro de água fresca numa localidade a meio da prova!
Infelizmente, uma prova que tinha tudo para ser tranquila, foi de um sofrimento atroz para mim! E atenção, o meu plano nunca era ir no limite, mas antes percorrê-la tranquilamente. Assim que saímos do estádio e temos uma PEQUENA rampa em alcatrão para subir, parecia que já ia com 40km nas pernas. Estive vai não vai para começar a andar logo ali! O que se seguiu foi um espectáculo deprimente e o definhar vergonhoso de um gajo que daqui a menos de 2 meses vai andar a correr 100 milhas nos Alpes. A certa altura apanhámos uns degraus para subir e lembro-me de pensar que aquilo me estava a custar mais que a travessia entre os picos no MIUT deste ano. O calor não ajudou, é certo, mas isso não é desculpa e até serve de aviso, o ano passado esteve muito calor no UTMB e é mau sinal ir-me abaixo desta maneira. A certa altura já estava tão desconfortável que só queria que aquilo acabasse. Assim que inclinava um bocadinho começava logo a andar!
No fundo era isto que eu queria, um treino intenso. O objectivo foi plenamente cumprido, apesar de todo o desconforto. Estou convencido que este método de treino tem mesmo efeitos, porque em condições normais e com o treino que ando a fazer, não teria grandes dificuldades em completar a prova, apesar do calor intenso. Fi-la em 2h56, com uma aparentemente boa classificação de 35 em 200 e tal, que mais uma vez só foi possível porque não havia muita gente a andar muito.
Destaque especial para o abastecimento no final, na meta. O melhor que já vi! Um dos patrocinadores da prova era um produtor de queijo, então havia queijo fresco com fartura. Eu mamei logo 3 e proponho a partir de agora que queijo fresco (juntamente com melancia) faça parte dos produtos obrigatórios em abastecimentos de provas no verão!
Com Simão, Dourado e Chico. Companheiros de muitas aventuras, antes da prova. |
Pois é, o mês de Julho está aí e com isso faltam menos de dois para o UTMB. Partindo do principio que as 3 ultimas semanas vão ser a descer, este é o mês do tudo ou nada. Estou confiante e tranquilo, há planos para ser um mês em cheio. Como sempre disse, se alguma vez fosse ao UTMB iria treinar como nunca treinei na vida para aproveitar a oportunidade, e acreditem, não a vou deixar fugir. Estou quase em Chamonix!
Tás tu e estou eu ... mas eu vou à dos meninos que ainda sou uma criança ;)
ResponderEliminartic, tac, tic, tac...
Abraço
Parabéns pela sequência de provas rumo à glória do UTMB :)
ResponderEliminarSobre o que se passou nos Montes Saloios, há dias assim e domingo foi o mesmo para todos. Eu fui treinar 14 km, a primeira metade muito bem, a segunda a morrer. Se ando em forma, o que sucedeu? Aquele calor! E estava junto ao mar que sempre alivia um pouco, agora tu no meio da montanha, mais irrespirável deve ter sido.
Relembra-me qual é a tua distância no UTMB?
Um abraço e em força para o final de Agosto! :)
168km (glup)
EliminarAh ok! Não chega a 170 (ih ih ih)
EliminarExacto, nem chega à distância de Lisboa-Almeirim e VOLTAR pela A1...(ahahaha).
EliminarJulgo que esse tipo de treino provas é muito bom para os teus objectivos. Habituas o corpo a outras rotinas e outra dose de esforço ao que o mesmo não estava habituado.
ResponderEliminarO único risco disso é alguma lesão por sobrecarga de esforço mas com cuidado e bem gerido não há problemas.
Em 2012 cometi o "suicídio" de fazer a Meia Maratona de São João das Lampas e a Corrida do do Avante e foi uma loucura e tanto pois só a Lampas já era um "petisco" bastante jeitosa para a forma que tenho na actualidade! Mas lá me safei mas nesse caso foi mesmo fazer as Lampas gerindo o esforço a pensar no Avante e no Avante limitar-me a sobreviver! Mas é claro que treinei para essa aventura!
Um abraço.
Estás a treinar muito bem Filipe. A fazer essas jornadas duplas o corpo fica em grande forma!
ResponderEliminarGostámos de te ver nos Moinhos Saloios, fizeste menos de 3h e achas que te correu mal...vai-te catar! =P
Força rumo a Mont Blanc!!!
Beijinhos
Xiça...até me dói os joelhos só de ler este post... ehehhe
ResponderEliminarDá-lhe lume Filipe.
Força nisso grande maquina.
(eu então é mesmo ao contrario, zero treinos e quase zero kms á duas semanas...acho que me vou dedicar é á pesca. ;)
abraço