Pronto,
já não há volta a dar. Neste momento esgotei todos os prazos, todos os créditos
e todas as oportunidades. Os frutos que colher de 26 a 28 de Agosto serão
direta consequência do que semeei nos primeiros oito meses de 2016, que é como
quem diz, do que treinei até agora.
Será que foi suficiente?
A resposta, como é óbvio, não é
fácil. Uma coisa é certa: fiz o melhor que consegui. Não foi de todo o treino
ideal, queria ter metido mais distancia, horas e desnível no derradeiro mês de
Julho (em comparação, por exemplo, com o mês anterior ao MIUT 2016, foi
ligeiramente abaixo), mas a vida é mesmo assim. Os constrangimentos familiares
e de trabalho fazem todos parte do processo. Afinal de contas, a corrida
continua a ser a mais importante das coisas secundárias da minha vida, apesar
de ocupar um lugar preponderante e central (por vezes até de mais).
A principal diferença para o MIUT
deste ano onde, modéstia à parte, considero que fiz uma prova bastante sólida,
é que estou num lugar mental muitíssimo melhor. O início deste ano foi de
convulsão para mim e para a minha família, desde o nascimento do meu filho
Manel, que tinha poucas semanas na altura da prova, ao trabalho que estava
tremido, a construção da nossa casa que ia a meio, a nossa morada, digamos,
"incerta" na altura… Enfim, alguns quilos de bagagem que me pesaram
muito na mochila enquanto atravessava a Madeira. Felizmente, tudo se conjugou
nas ultimas semanas e as coisas finalmente encarrilaram.
Com a cabeça no sitio certo,
restava preparar-me bem fisicamente, e nesse aspeto também estou tranquilo. Não
sou de todo o gajo mais experiente nisto, mas tenho noção que tenho em mim o
suficiente para chegar ao fim. Falando de números, tenho desde o início do ano
2219km e 85000D+. Um ano em que mudei completamente a abordagem que tinha aos
treinos, privilegiando muito mais o tempo no monte e desnível acumulado em
relação à distancia percorrida. O único arrependimento que tenho é de ter alinhado nos 90km do Estrela Grande
Trail, não pela prova em si, mas porque ainda não estava recuperado do MIUT o
que me fez perder as seguintes 3 semanas de treino, quando já só faltavam 2
meses para o UTMB. No entanto, consegui
que as ultimas 7 semanas tivessem em média 3000D+, 85km e pelo menos 10h de
treino, quase todas em trilhos, incluindo muitos treinos em Montejunto, Sintra
e o fantástico fim de semana na Serra Nevada. Podia ter sido melhor, mas penso
que foi o suficiente para fazer A MINHA prova.
Quer isto dizer que são favas
contadas? NÃO, de todo!! Como já falei variadíssimas vezes, há fatores e
variáveis quase infinitas que podem influenciar e ser determinantes para a
conclusão da prova. Aquele que me assusta mais é sem dúvida a alimentação. Pode
estar tudo a correr na perfeição, mas se o estômago vira vai tudo por água
abaixo. Na Estrela tive pela primeira vez a experiencia de não conseguir comer
ou sequer beber água, e o corpo como que se desligou. Há algumas estratégias
para lidar com a situação se chegar a este ponto, espero sinceramente não ter
que as pôr em prática porque tenho sérias dúvidas que chegaria ao fim.
Há aquela tradição de no fim do objetivo
cumprido se deixarem os agradecimentos. Mas o principal agradecimento que tenho
não será pelas horas que andarei a contornar o Monte Branco. É pelas 10h
semanais, pelos fins de semana que podiam ter sido mas não foram, pela atenção
e dinheiro que desviei para esta coisa tão pouco secundária que é a corrida,
pela paciência e pelo amor infinitos que tenho da parte da Sara e que possibilitaram
preparar-me minimamente para enfrentar os 170km que tenho pela frente. Dia 23
lá voará ela comigo, com os nossos dois miúdos, em vez de estarmos numa praia
descansados. Mais uma vez lá estará ela agarrada ao telemóvel, a segurar as
pontas, a tratar de uma bebé de 3 anos e outro de 6 meses, e, se eu conseguir cumprir a
minha parte do acordo, lá estarão os três à minha espera na meta. Ainda não
comecei a correr e já ganhei. Obrigado Sara!
Lindo!!! Revejo-me em muito do que escreves aqui. Duas semanas para aquele abraço, finalmente. Aquele abraço e até lá
ResponderEliminarNem imagino o que tu passaste e passas para conseguires treinar para essas provas. Então agora o treino para o UTMB com todas as variáveis que a vida te trouxe este ano... Faz-me pensar como eu posso ter a lata de me queixar sobre o que tenho fazer no dia a dia para conseguir treinar. És grande!
ResponderEliminarEssa questão da alimentação é realmente um bicho de sete cabeças. Pelo que vejo à muito boa gente bem fisicamente que desiste à conta disso. Só podemos prevenir com uma alimentação cuidada durante a prova e esperar pelo melhor!
Que estratégias são essas que falas?
Um abraço
Bem, na verdade tenho uma única estratégia. Ok, nem é bem estratégia, é um "hail Mary": não luto contra o homem da marreta, cedo, deito-me e tento dormir uma hora, com a esperança que quando acordar o sistema faça uma espécie de reboot. A alternativa, que é tentar continuar sem conseguir comer ou beber, não é viável, principalmente se estiver muito longe da meta.
EliminarPois a primeira hipótese parece viável, o problema mesmo é recomeçar a correr depois de dormir!
EliminarÉ tão mítico, mas nunca "acompanhei" uma prova do UTMB...
ResponderEliminarMas este ano estarei por aqui a torcer por todos os portugas!
Força nisso Filipe! Um pontapé nas canelas do homem das marretas! 👊🏼⛏
Embora lá! Não vai propriamente a subida da Compal mas o vizinho vai-se safar na boa! Mas o melhor prémio já tu tens ou sejas a Sara e os dois cachopos! Aquele abraço!
ResponderEliminarNunca estamos convencidos que fizemos o treino ideal, mesmo que até o tenhamos superado. Mas há um ponto que referes que é o fundamental, é a cabeça estar no sítio certo.
ResponderEliminarMuita força! Podes estar a correr sozinho fisicamente mas tens uma legião de admiradores a acompanhar-te em cada metro e a enviar energia positiva.
Um grande abraço
Boa prova e que corra (literalmente) tudo bem! Grande abraço
ResponderEliminarEu acho que vais conseguir. Apesar destas provas serem imprevisíveis creio, caso não tenhas nenhuma azar e NÂO terás, que vais cumprir a tua parte do acordo.
ResponderEliminarAté porque, sendo eu mulher, aviso-te já: quando vocês fazem acordos connosco e não cumprem... Nem te digo nem te conto. Pergunta ao Paul Michel o que lhe aconteceu nos Pirinéus no ano passado!... ;)