As minhas corridas na estrada

sexta-feira, 21 de junho de 2019

A FREITA - Descrição e dicas pela Alice Lopes.

A Alice, uma amiga e leitora do blog, decidiu descrever-me quase metro a metro o percurso dos 100km da Freita. Ora bem, a Alice Lopes é uma das melhores atletas do trail nacional (vice campeã de Ultra em 2019, vencedora da Freita Elite o ano passado), disso já todos sabemos. O que eu me apercebi nestes dias em que fui trocando mensagens com ela é que é uma apaixonada pela Serra da Freita e por este percurso. As dicas e descrições dela valem ouro para quem, como eu, se vai estrear e devem ser deliciosas de ler para quem já passou por lá. Como não sou egoísta, e porque ela concordou, deixo aqui a descrição e muitas fotos do percurso por, provavelmente, a pessoa a seguir ao Moutinho e à Flor Madureira que conhece melhor a Freita. Depois agradeçam-lhe!




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Sais de Arouca e sobes ao Miradouro, bem no cimo da serra (1096m), encontras o primeiro abastecimento . fácil :) é a tua subida mais fácil de todo o percurso . Vais dos 290m para os 1096. D+ 878 e D- 78. Na subida encontras o Moutinho que te vai cumprimentar com o entusiasmo normal dele.


Partida - Malhada
O Moutinho a receber a Alice

Miradouro
Da Malhada a Tebilhão, segundo abastecimento, tens pela frente 12.1km. Vais ter D+362 e D-670. Tens cerca de 6km de planalto. Para mim é a parte mais chata da Freita (para o ano já não vai existir 🙂) tens uma subida ligeira e uma boa descida.. Pedra, começas a sentir que algo vai acontecer, mas tudo está ainda muito fácil. Não te entusiasmes. Tens agora em Tebilhao 21.100kms

Malhada - Tebilhão
A tua prova está quase a começar.

As provas de 100 e 65km separam-se aqui, seguem-se 35km exclusivos da prova ELITE. E Prepara-te, vão ser qualquer coisa!

Sais do 2º abastecimento, tens pela frente até Covêlo de Paivó 10.800kms D+ 376 e D-844. Ai que bom, é sempre a descer! ... mas não !!! Lembra-te de mim na divisão das provas (aliás, vais encontrar indicação que a tua prova começa lá 😉 ) VAI COMEÇAR A FREITA!!!


Tebilhão - Covêlo de Paivó
Desces pelo trilho do carteiro para o Rio Paivô e, meu caro amigo, tens 3 kms dentro, nas margens, com cordas, com arames, com travessias de rio que dá para nadar .... (eu no meu metro e meio houve um ano que não tinha pé, também não é dificil 🙂 ) e à saída com jeitinho tornas a encontrar o mestre Moutinho e um fotografo com certeza. Sais, fazes uma subidita que te leva à estrada e depois serão, digo eu, uns 500m até ao abastecimento de Covêlo Paivô.

No Rio


A Alice no Rio 
Dicas 1: Neste trajecto não tentes ligar a médias nem estejas stressado com o passar dos km. Desfruta.

Dica 2: Chega bem ao segundo abastecimento. É a partir daí que começa e os erros nesta prova pagam se muito caros.

No Covêlo Paivó levas 31.9kms e tens 14kms para chegar à Pena (lembras-te da subida das Almas Penadas que te falei na Serra Amarela? É a primeira grande subida, para mim a mais dificil. Mas para muitos não).


No 3 abastecimento, Covêlo de Paivó aconselho a comeres, serão 11h 12h máximo... mais coisa menos coisa. Se tiveres quentes, come. Para a Pena são 14kms com 1221 de D+ e 873 D-.

Covêlo de Paivó - Pena
Sais do abastecimento e começas a fazer uma subida em pedra, grande robusta, e desces a Regoufe, onde vais caminhar/correr junto à um riacho. Sempre em single track, onde podes escolher o teu trilho. As fitas são orientadoras. Esta subida vai terminar num estradão. Não, não vais correr em estradão (depois vais perceber porque se demora tanto para fazer estes 100kms 🙂). Voltando ao percurso: atravessas o estradão e .... meu amigo tens uma descida brutal com xisto, pedra pontiaguda, mas o mais magnífico é mesmo a paisagem que está a tua frente. A descida é single track claro está, e termina em pedra solta. Aí dás com um estradão que sobe. Aproveita o estradão a subir para um trote, quando começares a descer, segues por um single track que te leva a um rio. E que bem sabe esta água! Aproveita para encher as garrafas e molhar a cara.

Começas a subir a ESCARPA. Todos julgam estar a subir as almas penadas, mas não. Até lá ainda vais penar muito! Aqui, para mim ,os bastões pouco ajudam. Mãos e pés ... A trepar a escarpa, mais uma vez, mas agora a subir pedra pontiaguda que termina a escalar. Das a um estradão e .... não entras no estradão ... Só o atravessas e ainda sobes mais um bocadito! Aí a descida é a meu gosto, pedra grande. Olhos atentos para não correr mal. Esta descida é curta e termina na estrada. Rapidamente entras novamente no monte numa descida em single track que vai alargando. Quando passares numa bica abastece de água, vais penar! Sim entras no trilho das almas penadas!! (o homem da marreta anda sempre lá.. tu foge)

Almas Penadas
a ESCARPA
Começa com um caminho largo que rapidamente se fecha. Caminho aberto pelo Moutinho para a prova. Se fores como eu pensamentos do género "foda-se como foi ele fazer isto??" É verdade, até ao cimo foi ele que abriu com máquinas grandes, pequenas, tesouras e outras ferramentas. Incrível o trabalho do homem. Quando pensas que estas a acabar, nada disso. Mais um docinho! Chegando ao topo, uma descida em single track, claro está, linda e no início perigosa, que te vai levar a Pena. Uma sopinha ou duas ou trreees é garantido aqui. Estás com 45.9 km e já sentes a Freita!

Descida antes da Pena
Vamos lá sair da Pena.

Rumo ao Portal do Inferno, são 5.8 kms com D+598 e D-399.

Pena - Portal do Inferno
Sais do abastecimento e não segues pela estrada, vais logo para um riacho que te leva a uma subida entre montanhas.

Vais subir essa colina e terás à tua frente uma descida íngreme e curta de pedra solta. Perigosa, que te vai levar ao inicio da subida do portal do inferno. Primeiro um caminho de pedra tipo xisto e depois por entre a floresta ... magnifica ....

Chegas ao topo do portal do inferno, abastecimento, viras-te para a subida que fizeste e deparas com uma paisagem magnifica.

Estás agora com 51.700kms e 3435 de D+. Vamos a meio portanto. Segue-se a base de vida, Povoa das Leiras. Tens 11.4km pela frente irmãmente distribuídos por 826 D+ e 888 D-.





Ora bem saímos do Portal do Inferno. Temos a nossa frente D+ 826 e D-888 em 11.4kms. Começa a segunda parte do empeno. A primeira é do Rio à Pena.


Portal do Inferno - Póvoa das Leiras
Vens de subir o portal do inferno, comes qualquer coisa e abasteces água. Com jeitinho o Miro tira-te aqui uma foto! Começas a descer, mas é coisa pouca, uns 200m, a seguir sobes. Uma subida relativamente curta mas íngreme que te leva ao Planalto. Corres cerca de 1000m em plano e encontras o inicio da descida para Drave.


Início da descida para Drave
A primeira vez que fiz parei a contemplar a parede que estava a minha frente. A descida é a meu gosto. No início sem trilho definido entre pedras fixas e tojo. Depois single track, com desnível muito acentuado. Esta descida termina num rio/ riacho que o vais acompanhar (vontade vai faltar de dar um mergulho) Até à aldeia de Drave. A aldeia encantada.


Drave.
A subida seguinte.

Já ouviste falar da "garra"...? 3 montanhas que vistas de Drave parecem uma garra. Sim, é a mais forte e poderosa que vais subir. Entras no trilho dos 3 Pinheiros. Só vais encontrar 2 pinheiros porque um ardeu. Costumo dizer que não resistiu ao Moutinho. Vamos ver se nós este ano resistimos como os 2 desgraçados dos pinheiros que ainda se aguentam.


Boa sorte para a subida... não é tão longa como as que fizemos na Madeira, mas é técnica de lenta progressão. Tens que pensar para escolher o caminho mais simples de modo a poupares energia... que jogo mental! Até que passas por 2 pinheiros... estás quase....😳 o trilho começa a ficar planoooo e dás por ti a fugir à subida.... que bom vais descer, estás quase na base de vida.... só falta descer os Incas 😍

Desces por um trilho técnico, pedra mais pedra e mais pedra. Passas riachos e passas entre pedras .... magnífico. Terminar num estradão de 500m e sobes para o abastecimento. Uma estrada com 100m máximo mas que correr se torna missão impossível.

Aqui vês bombeiros, normalmente atletas em hipotermia.... come bem, porque vamos voltar ao trilhos em comum com os 65kms. Sim, pensas tu... tudo isto foram só 35kms [desde Tebilhão que fazemos 35km exclusivos para a prova ELITE. Lembrem-se que passámos pelo Rio, pelas Almas Penadas, a ESCARPA, o Portal do Inferno e estamos prestes a enfrentar a Besta com esta bagagem toda. Não admira que a Alice frise bem que estes 35km são A prova!] ???? Sim meu caro Filipe ... ai que empeno em 35kms!

Da Póvoa das Leiras a Bondança são 7.550kms. D+533 D- 622. Sais assustado porque te dizem q ue vais subir a Besta....


Povoa das Leiras - Bondança
Ora bem a besta são cerca de 800m com qualquer coisa de 400D+ e o trilho é.... nem sei como te dizer.... vou-te mostrar:




No fim, és cuspido da Besta desta maneira:


Corres (ou não) num Planalto até que começas um trilho novo, rumo a Bondança. Plano, subidas curtas ... fácil não, porqe já nada é fácil.... Passas pelos moinhos e abordas o abastecimento numa descida espetacular.... Chegas então a Bondança e tens 70.650kms. Parece quase, só faltam 29km. Mas ainda vai faltar tanto!

Sais de Bondança e vais para a lomba. 7.800kms fácil !!! ComD+532 D-717


Bondança - Lomba
Mal sais do abastecimento vais subir cerca de 130 D+ em +/- 2km (a confirmar). É novo o trilho para este ano. Depois começas uma descida brutal, onde desces em céu aberto por trilhos com pedra, com vegetação, entras num PR tipo bosque... chão fofinho, castanho ,numa descida a serpentear e dás as Porqueiras. Uma cascata que te vai fazer lembrar a Mizarela (esta é a prima). Se não a vires lembra-te dela quando tiveres que saltar para um penedo que terá umas correntes para te segurares. 🤪

Sobes quase nada e a descida continua, voltamos ao bosque, voltamos a pedra, vamos ao serpentear até que...🤐🙏🙏viras à direita e ....ESCADAS MARTÍRIO. 800 degraus em pedra com 400 sim 400D+. Degraus pequenos, degraus largos... escadaria ora de 1m de largura ora 50cm. Água a escorrer pelas paredes da escadaria.... Tens que conseguir fazer de dia.


Escadas do Martirio
Terminas este trilho na aldeia da lomba. Costuma cheirar um pouco mal, muito mal mesmo. Mas uma canja aqui sabe a lagosta!

Sais da Lomba rumo ao Merujal, com 78.45kms e tens cerca de 7.68 até ao próximo e último abastecimento. D+ 712 e D-325.


Lomba - Albergaria da Serra
Vieste das Escadas do Martirio, pensas que não pode piorar, mas ainda vais bradar aos céus! Depois de começar a subir numa estrada com grande inclinação, entras num trilho largo e finalmente um single track que te vai levar à parte final do quilómetro vertical do Freita Sky Running. A subida e curta mas muito técnica e poderosa!


A Alice no fim da subida
Acabas na Torre Meteorológica e desces pelas pedras parideiras [esta parte é em comum com a Freita Sky Running]. Aproveita para correr, a progressão foi lenta até aqui e não vejo jeito de ser mais rápida no PR7!

Entras no PR7 e vais sair muito perto do abastecimento. Cerca de 1500m que parecem não ter fim! [o PR7 já eu conheço do skyrunning. Muito dificil, muito técnico. Parece não ter fim é a descrição perfeita, nem quero imaginar com 90km já feito!].

Pensas tu que nos últimos 13km vai ser só descer em direção a Arouca. Não é mentira, mas não é de todo fácil! D+333 E D-951.
Albergaria da Serra - Arouca
Mal sais sobes. Que treta, mas não era sempre a descer? Sobes cerca de 2kms e começas a descer. Single tracks, atravessas estradas entras em campos e vês casas. Que bom estou a chegar! Pensas tu, MAS NAO! Tornas a entrar em trilhos, em campos, em sei lá mais o quê! Ouves cães, vês luzes.... Entras numa estrada, vês casas e...... finalmente.... finalmente nada, tornas a entrar em trilhos, campos blá blá blá.... Quando vires um cemitério estas quase 🤣 agora sim! Mas aquela estrada não tem fim ... raios partam.... até qe viras à direita e vês um insuflável. Ganhas força para correr nas escadas da escola e dentro do pavilhão está o Joca e a Flor e o Paulo o fotógrafo e uma camisola quentinha para vestirmos!!


Com o Moutinho.

Com a Flor.


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Parece fácil, não? Bem, na verdade não parece mesmo nada fácil. Se ainda não estava muito dentro da prova, agora estou a 100% e posso dizer que o factor cagaço aumentou muito!

O que gosto mais nesta descrição da Alice é que ela fala de cada segmento como se fosse algo único e especial. Cada subida e descida é como uma peça do puzzle. Não parece haver ali nada fora do plano, nada para encher. No próximo dia 29 de Junho, sábado às 6 da manhã, lá vamos estar em Arouca para mais uma grande aventura!






segunda-feira, 17 de junho de 2019

II Serra Amarela SkyMarathon (48km)

Para mim, foi A prova de 2018. Incluí-a na lista das 10 provas da minha vida e foi, sem dúvida, uma das melhores que já fiz até hoje. Em todos os aspectos! Este ano voltei para a dose inteira, os 48km, que incluíam uma descida e subida extra, mais 15km de Parque Nacional Peneda-Gerês (PNPG). Mas não foi essa a principal diferença para o ano passado. Essa notou-se assim que saí à porta da nossa Casa da Árvore no parque de campismo Lima Escape: o céu estava azul!

Sim, já viram esta foto noutro lado. É do grande Perneta, Carlos Cardoso, que fez a gentileza de me deixar roubar umas quantas fotografias já que não tirei uma única durante a prova. Obrigado, Perneta!
Chegámos ao Gerês logo na sexta feira, para dois dias que incluíram passeio mas, principalmente, descanso e boa vida no parque de campismo. Os miúdos adoram andar pelo monte a brincar e nós adoramos o descanso, o ar fresco, as refeições com o Vasco e a família na rua, dormir a sesta e acordar com vista para o Rio Lima no nosso bungalow. Se não conhecem, aconselho a todos irem passar uns dias ao Lima Escape, é um paraíso! Além disso, saí com o Vasco, às 7:30 da manhã do Parque para nos deslocarmos a pé para a partida, que foi às 8. Um luxo!

A nossa casa na árvore
O céu estava limpo e ainda antes da partida tirei os manguitos que me deixaram mais confortável a sair de casa. O dia previa-se quente, com temperaturas a rondar os 30º em cotas baixas, diametralmente oposto ao temporal épico de 2018. O ano passado foi especial também por essas condições extremas, mas confesso que estava curioso para realmente ver as paisagens em vez do nevoeiro.

O perfil da Serra Amarela é perfeito. Duas subidas, duas descidas, 48km e 2800m de subida. O percurso da ultra repete na integra os 33km da prova longa, por isso já conhecia a primeira subida e ultima descida. Lembrava-me dos engarrafamentos do ano passado, muito por culpa do elevado caudal do rio Froute, por isso decidi partir a dar tudo para ficar posicionado de forma a não apanhar muita gente na entrada dos trilhos. Objectivo cumprido, não só andei sempre bem nos primeiros 5km, que sobem só ligeiramente, como a travessia do rio foi tranquila, nem deu para molhar os pés.

Estes trilhos são nos tais 5km iniciais. Fotografia do Carlos.
Passados estes primeiros trilhos ligeiramente inclinados, a primeira grande subida começa um bocadinho antes de chegar à Ermida e termina na Louriça, o ponto mais alto da Serra Amarela. Nada menos que 10km e quase 1300+! A subida é perfeita, muito variada, com vários locais a permitirem um trote fácil misturados com outros super inclinados e técnicos. Percorremos parte de uma Grande Rota, com caminho de calçada granítica arrumada à mão, trilhos difíceis já perto do planalto.Foi aqui que o céu limpo compensou, deu para perceber bem a imensidão do PNPG enquanto andávamos no estreito trilho que percorria a crista que nos levaria à Louriça. Do lado direito, entre as encostas agrestes cinzentas do granito, flutuava o espelho de água da Albufeira de Vilarinho das Furnas, perto dos 1000m de cota, e do lado esquerdo montanha a perder de vista, pontuada pelo azul muito escuro do Rio Lima que serpenteava pelo vale. Uma maravilha.

Um trilho espetacular e VIlarinho das Furnas ao fundo. Eu vou lá atrás! Foto da organização.
Há uns meses que ando a correr com uma confiança que nunca tinha tido e, mais uma vez, decidi ir com tudo nesta prova. Sentia-me super bem a subir, nesta primeira ascensão à Louriça demorei menos 20 minutos que o ano passado! Duas horas depois da partida fiz-me à descida desconhecida, que nos levaria até ao Lindoso, para voltar a subir e vir dar ao mesmo sítio. Olhando para o percurso esta parte é um pouco estranha, descemos e subimos de forma quase paralela e acabamos exactamente no mesmo sitio (daí os 33km da prova longa serem integralmente cumpridos). Pelo que me explicaram, e ouvi-o da boca do mestre Carlos Sá, o PNPG não autoriza a passagem em certos sítios da montanha, de forma a preservar a fauna e flora, o que é totalmente compreensível. Aliás, a sensação de andar em sítios virgens e inexplorados é um dos grandes atractivos desta prova.

O planalto antes de chegar à Louriça. O muro de pedra percorria a crista. Foto do Perneta Carlos Cardoso!
A descida acabou por não ser grande coisa em termos técnicos mas serviu muito bem outro propósito, que foi descansar as pernas para o que viria. Foram 7.5km a descer, 2 ou 3 em estradão e o resto em trilhos não muito difíceis e pouco inclinados. Demos a volta no espetacular Castelo do Lindoso, antes de apanhar uma Grande Rota e, aí sim, fazer valer a pena aqueles 15km a mais.

O Castelo do Lindoso, onde demos a volta para subir. Foto do Carlos Cardoso
A subida foi excelente! 7km com 800+ feios de rajada, num caminho cheio de pedra, muito trabalhoso, mesmo como eu gosto. Daqueles que exigem pensar passo a passo qual é a maneira mais económica de subir. Liguei o piloto automático e senti-me muito bem a subir, recuperando mesmo algumas posições. O sol do meio dia começava a apertar quando passámos por uma pequena fonte. Um oásis já perto do topo, onde praticamente tomei banho e aproveitei para voltar a encher os dois flasks que iam na reserva!

Um dos trilhos por onde descemos, até ao Lindoso. Foto do Carlos Cardoso
Quatro horas de prova, 19km para o fim. Uma descida. O ano passado estes 19km ficaram marcados como uma das coisas mais incríveis que já fiz, muito por culpa das condições climatéricas que fomos apanhando, mas este ano consegui ver a serra em toda a plenitude e foi tão bom ou melhor. Primeiro cerca de 5km no planalto, onde descíamos mais, mas também fomos apanhando pequenas subidas, todas cumpridas a trote. Corríamos em paisagens de granito, sem trilho, por cima da pedra cinzenta rugosa ou em tufos de erva, escalámos autenticamente maciços e passámos por manadas de vacas e cavalos. Descidas técnicas, difíceis, mas sempre espectaculares para correr.

A Antena na Louriça. Foto do Perneta, pois claro.
Desde a segunda passagem pela Louriça, antes da descida final, que estava em modo competição. Estava a sentir-me com pernas para descer e a subida tinha-me corrido na perfeição. A primeira metade da descida foi feita sempre no limite, mas já cheguei ao Germil, a 10km da meta e local do penultimo abastecimento, em défice, já não estava solto a descer. Eis senão que, chega a grande Alice Lopes lançada. Tinha andado a trocar de posição (e na conversa, já agora) com ela desde praticamente o inicio, e se a tinha deixado para trás na subida ela vinha lançadissima na descida a defender a primeira posição. Lança-me um "Bora, Filipe!" e eu, ainda a meio de um bocado de aletria, arranco atrás dela a tentar acompanhar. 

Logo a seguir ao abastecimento entramos numa das partes mais rápidas da descida, em caminhos de calçada de granito e trilhos cheio de tufos de erva que escondiam pedras. Vou a dar tudo para acompanhar a Alice, mas claramente está mais forte, mesmo assim não abrando. Sei que a meio destes últimos 10km há uma pequena subida (cerca de 100+, por aí), vou conseguir descansar aí. Já vou a implorar pela subida quando entramos num bosque e finalmente começo a ver o ribeiro que havíamos de atravessar antes de subir. 

Parte final da subida, foto do Carlos.
Ufff, subida! 

O pior é quando abro as pernas para escalar as pedras no ribeiro, estas explodem numa cãimbra generalizada! Ui, como isto está! Respirei fundo e comecei a subir muito devagar, até que, como previa, consegui relaxar, ganhar fôlego e, mesmo assim, subir bem. Seguem-se mais 2km a descer a um ritmo muito alto (para mim, claro), em trilhos cheios de pedra, ligeiramente a descer. Nesta altura apanhámos mais dois companheiros dos 48km (desde a Louriça que vinha a passar pessoal dos 33) que se juntaram ao comboio e estávamos agora muito perto de começar os espetaculares 4km roubados às margens do rio Tamente. Mas ainda havia um obstáculo dificílimo para ultrapassar: um murete de pedra com 50cm de altura. Ah pois, mais cãimbras!

Deitei a toalha ao chão e deixei-os seguir, ia gerir até ao fim. Faltavam 4km, seriam feitos num trilho a direito, pouco técnico, nas margens do Tamente. Os dois primeiros quilómetros fi-los integralmente a correr, ganhando energia vital em cada travessia do rio, onde praticamente tomava banho. O trilho, ora na margem esquerda ora na direita, é todo à sombra e ao lado das águias cristlinas do rio, o que ajudava a refrescar num dia que já estava quentíssimo. 

O Tamente, numa das travessias. Fotografia da página "Sapatilhas Pensadoras"
A dois quilómetros do fim, depois da 5ª ou 6ª travessia do Tamente, depois do 5º ou 6º refrescar na água fresca, já não consegui meter o trote no plano. Agora sim, tinha acabado. Arrastei-me até ao fim e nem consegui correr na rampa final, onde me esperavam a Sara, os miúdos e a família do Vasco!

Mesmo com este estoiro no fim, considero que fiz uma boa prova. Acabei com 6h40, na 26ª posição, em 130 que acabaram! É verdade que ultimamente tenho andado a treinar muito melhor e a correr com mais confiança, mas andar a melhorar os meus resultados só me faz dar mais valor a quem anda na frente. O Ricardo Silva fez só quase 2 horas a menos que eu! Uma palavra também para a impressionante Alice, que não deu hipótese na classificação feminina!

Quanto à prova, nem sei se devo deixar mais elogios, ainda pensam que estou a ser falso. É, para mim, uma das melhores, se não a melhor que já fiz. Percurso, localização, a animação na partida, na chegada, o Tamente, os abastecimentos, o Lindoso, o Gerês, o prémio de finalizador.. Nada, mas mesmo nada, falha aqui. Mais nada a dizer. 

Restam agora duas semanas para a Freita. Se devia ter feito uma prova destas tão perto? Não me parece. Se devia ter ido para os Alpes fazer quase 90km com 6000+ uma semana antes da Serra Amarela? Também não me parece. Mas não trocava o que vivi, quer no Gerês quer nos Alpes, nem que fosse por duas horas a menos na Freita! 

Fotografia pela muito simpática Marta Lopes, da organização.
Antes de acabar, só uma referencia a estes dois miúdos que estão na foto acima. Umas semanas antes da prova a organização anunciou que iria haver uma corrida para os miúdos. Assim que disse isso aos meus, andaram durante dias excitadíssimos, a Maria Amélia não falava de mais nada! Inscrevi-os, levantei os dorsais, e foi muito giro ver o nervosismo deles, principalmente dela. Infelizmente ainda estava em prova quando eles correram, mas acho que foi lindo. O percurso, que seria de 150m acabou por ser bem maior, uns 400m, e incluía uma subida jeitosa em trilho, a mesma que nós fizemos no fim. A Mel meteu a game face e desatou a correr por ali a fora. O Manel, de longe o mais pequeno de todos, quando viu aqueles cavalões todos a ganharem avanço ficou assustado, parou, olhou à volta e voltou para a meta a correr para a mãe ahahah acho que foi um sucesso! A Maria Amélia descreveu-me ao pormenor cada passo, cada ultrapassagem e dificuldade. Depois andou o dia todo com o dorsal e a medalha ao peito e até a levou para a escola! Pequenos pormenores desta prova, que nunca nos vamos esquecer. O primeiro trail da Mel e do Manel! :)

Depois do levantamento do dorsal, a foto obrigatória

Acertar de estratégia de ultima hora. Reparem que o Manel levava o dorsal nas costas, dizia que no peito não dava jeito para correr. Eu acho que era para o estilo.

Linha de partida. Aqui se vê a confiança do Manel, já está à procura da mãe ehehe

Aí está, o primeiro isolado, com o Joca a puxar por ele! Pronto, foi só até ao fim da passadeira vermelha e voltou para trás ahaha

A chegada da Maria Amélia. Diz que ultrapassou uma data deles. Incluindo alguns meninos!! (palavras dela)

Parámos no Mac de Santarém para lanchar, ainda vinha assim.