As minhas corridas na estrada

domingo, 28 de dezembro de 2014

Escadinhas de São Silvestre

Esta ultima semana, depois dos 66km da Ericeira, decidi fazer tudo bem. Andei de bicicleta no dia a seguir à prova, comecei com treinos curtos e lentos, comi e dormi bem, fiz duas sessões de alongamentos e acabei com um treininho tranquilo de 15km no sábado. Foi uma recuperação perfeita e sinto-me a 100%! 


Hmm... Pois.... Mas foi mais ou menos isso, vá.

Depois de um domingo de preguiça e de uma segunda feira que misturou muito trabalho com compras de ultima hora, o primeiro treino pós Ericeira ficou marcado para terça feira. E que melhor maneira de iniciar a recuperação do que um treino de escadas e rampas?

De escadas até ao Natal.


Terça feira foi o dia de finalmente experimentar o "Escadinhas e Subidinhas", do João Campos. O plano era simples, sair de comboio de Santarém, chegar lá uma hora antes, equipar tranquilamente no carro de um amigo e fazer o treino. Isto tinha corrido tudo muito bem se não tivesse perdido o comboio! O resultado foi ter que esperar hora e vinte na estação por um comboio que chegaria à hora exacta do inicio do treino (espera responsável pela constipação que ainda hoje me assola). Para não perder tempo com o equipamento, tive a ideia luminosa de me equipar na casa de banho da estação e vestir a minha roupa por cima, para depois a tirar na casa de banho do comboio. Podia escrever um post inteiro sobre equipar em casas de banho da CP, mas por agora chega dizer que os alongamentos para o treino ficaram feitos.

À chegada estava um grupo de cerca de 30 pessoas à minha espera, literalmente (o comboio atrasou-se 20 minutos). O João, autentico Mestre de Cerimonias, foi o primeiro a cumprimentar-me. Um pequeno briefing dado pelo comandante e estávamos todos sintonizados. Não sei há quanto tempo ele faz isto, mas fiquei impressionado pela maneira como conseguiu organizar um grupo muito heterogéneo num treino quase sem períodos de espera e que deu para que cada um andasse a seu ritmo, e não ao ritmo imposto pelos outros. O que eu pensava ser mais um convívio que treino transformou-se numa jornada bastante dura (668d+) de quase duas horas de sobe e desce de escadas e rampas, na companhia de gente bem disposta, alguns dos quais "conhecidos" do Facebook. Foi uma muito boa surpresa que só não vou repetir mais vezes porque, somadas as coisas, saí de casa às 18 e cheguei às 23:30! 

O perfil mais geométrico que alguma vez vi!

São Silvestre não era milagreiro, pois não?

Este sábado foi dia de participar na minha segunda corrida de 10km de 2014. Depois da Scalabis Night Race, onde bati o meu record pessoal, corria agora na São Silvestre de Lisboa.

Perdão, o nome é "El Corte Inglés São Silvestre de Lisboa".
Já aqui tinha dito que gosto de provas de 10km. Dificilmente há provas que elevem tanto os níveis de adrenalina e, neste caso em particular, a descida final da Avenida da Liberdade tem o condão de aumentar exponencialmente estes níveis. 

Pelo tempo conseguido na SNR obtive um dorsal para partir na zona SUB40, o que me permitiu arrancar praticamente debaixo do pórtico. Não que tivesse pretensões a ganhar alguma coisa, mas é óptimo evitar aquela confusão inicial destas corridas.

Depois de uma apresentação individual das estrelas da corrida, que achei muito interessante, foi altura de dar o tiro de partida.  

PUM - lá foram elas!

Espera lá, elas? Pois, a HMS teve a ideia peregrina de redifinir os conceitos de igualdade de sexos e faz com que a elite feminina parta quase 3 minutos antes da masculina! "Vá, vocês são mais fraquinhas, podem partir antes para ver se ganham alguma coisa ;)" Sou só eu que acho isto parvo? Enfim, paternalismos à parte, era altura de correr!


Estava no meio dos aviões, já devia estar à espera, mas aquele primeiro quilómetro foi uma loucura! Não me lembro de alguma vez ter feito um km tão rápido em prova, e fui muito mais ultrapassado do que ultrapassei! O declive negativo ligeiro ajudava e as pernas quase que mexiam sozinhas. Foi assim até chegar ao Terreiro do Paço, onde um reality check provocado pelo desnível que tinha passado de negativo a nulo me gritou aos ouvidos "ELAAHHH calma miúdo, não tens andamento pra isto!!".

Até voltar ao Terreiro do Paço foram 5km muito planos. Consegui estabilizar o ritmo (muito acima do km inicial, claro), mas nunca me senti confortável a correr. Ao contrário do habitual nas provas de 10km, onde nem dou pelos quilómetros a passar, agora estava sempre a olhar para o relógio à espera que os metros passassem. Algo não estava bem...

De volta ao Terreiro do Paço, era altura da subida até ao Marquês. Há aquele lugar comum do pessoal do trail estar tão habituado às subidas das montanhas que uma inclinaçãozinha na estrada não faz mossa, mas cá para mim isso só é verdade no papel e se alguém vos disser o contrário está a mentir! Tudo depende da intensidade, e numa prova de 10km em que vamos a dar o máximo, uma subida de 3km, por menos inclinada que seja, faz muita mossa.  Se no primeiro km consegui manter o ritmo, a muito esforço, foi a meio da Avenida da Liberdade que levei uma marretada como não levava há muito, as pernas simplesmente cederam. Estava a pouco mais de 200m da rotunda e ia começar a descida, mas as pernas não respondiam. Forcei, forcei, forcei... De repente penso que um tubarão mutante invisível, porque sobreviveu fora de água e eu não o vi, me deu uma dentada por baixo das costelas o que me provocou uma dor aguda insuportável! Há quem lhe chame dor de burro e o Google diz-me que é uma caimbra dos músculos do diafragma. O que eu sei é que não a sentia há anos, e naquele momento nem respirar conseguia, quanto mais correr!

Aí mesmo.
Olhei para o relógio e o meu ritmo era mais de um minuto mais lento que o resto da prova. Fiz umas contas rápidas e percebi quanto tinha que fazer no último km para pelo menos cumprir serviços mínimos. Lembrava-me perfeitamente da dose brutal de adrenalina que foi o ultimo km no ano passado, e foi com esse pensamento que, enquanto corria com uma mão no flanco, me arrastei pela rotunda.

Só falta 1 e é a descer!

A dor estava lá, mas as pernas falaram mais alto. Abri a passada e comecei a voar. Assim que tirei a mão do flanco, o movimento natural dos braços amplificou a dor. Eishhh que está pior! Nesta altura comecei a desviar-me para a berma e com a meta a 500m estive muito, muito perto de parar. Passaram por mim mais de 50 atletas, haja sofrimento!! Foi com um esgar de sofrimento que consegui cruzar a meta. Sem sorrisos, sem braços no ar, sem objectivo cumprido e sem record pessoal cilindrado. 

Os serviços mínimos foram cumpridos, honrei o meu dorsal sub40 e fiz 39:21. É um bom tempo, mas muito sinceramente o tempo era o que menos me preocupava nesta prova. Para mim, como em todas as provas, o mais importante era acabar bem disposto e com a sensação que dei tudo o que tinha. Bem, pelo menos metade do objectivo foi cumprido! Detesto inventar desculpas, por isso não vou andar para aqui com justificações. Para a próxima corre melhor!

Tirando pequenos pormenores, a organização desta corrida megalónama esteve irrepreensível. E o melhor de tudo é que a cidade ajudou - nunca corri com tanto apoio das pessoas em Portugal! Todas as ruas estavam cheias e em festa! O percurso é o mais óbvio e fazem bem em não arriscar. Houve uma boa camisola de oferta, um gorro/buff, alguns brindes, uma bonita medalha e ainda um saco de plástico para me embrulhar que me salvou a vida durante a quase hora completa que andei à procura da Sara e dos meus amigos no fim da prova! Regra nº1 de provas gigantes: combinar um ponto de encontro no fim :\ Com isso tudo ainda tive a oportunidade de ouvir o speaker dizer o meu nome "FILIPE TORRES DE ALMEIRIM, OS SEUS AMIGOS ESTÃO NA STARBUCKS À SUA ESPERA! REPITO, FILIPE TORRES DE ALMEIRIM!".

Esses mesmos amigos que estavam na Starbucks foram comigo no pós-prova cumprir a segunda parte da tradição São Silvestriana. Porque esta semana ainda não tinha comido o suficiente, venha de lá então esse naco na pedra!


E pronto, agora sim. Foi a ultima do ano, vou tirar um tempo para descansar e atacar a preparação para os Abutres....

...que começa amanhã de manhã, quando for treinar escadas :)




segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Ericeira Trail Run (66km) - Horizontes pouco claros


Dezembro é o mês das são Silvestres, provas curtas, urbanas, muitos amigos, ambiente de festa... A verdade é que as festividades, juntamente com o trabalho que aperta e os surtos consumistas que roubam o resto do tempo para treinar, a época convida a repouso e boa vida! É um mês que pomos de lado os desafios maiores, só queremos sopas e descanso! Não há mesmo nada que nos faça mudar isto! ....A não ser que alguém diga as palavras mágicas:

"Vai haver um trail de 60 e tal quilómetros em cima do Natal... bora?" Pronto, já que usas um argumento tão convincente...



Este sábado foi dia de correr a distancia maior do Ericeira Trail Run. Esta corrida contrariou teorias Darwinistas e apareceu por geração espontânea +/- 2 meses antes da data do evento. Como é apanágio das corridas da Horizontes a imagem era muito cuidada, mas desde o momento do anuncio da prova deu a ideia que a falta de informação (nas primeiras semanas o "site" da prova era uma única imagem) significava que o próprio conceito ainda estava a ser cozinhado na cabeça dos organizadores. No entanto, os ingredientes para o sucesso estavam todos lá: boa promoção via redes sociais, uma distancia convidativa para estreias no trail e outra maior numa altura em que há poucas provas grandes, e boa localização, perto de Lisboa. Pronto, temos um vencedor! Ou será que não?

Nas semanas que antecederam o dia, os meus receios foram sendo completamente abafados pela natural ansiedade e vontade de correr. No sábado lá fiz então a hora e pouco que separam Almeirim da praia de Ribeira D'Ilhas com a Sara, onde me encontrei com mais 7 (!!!) elementos da minha equipa, A20KM. 

A equipa com o herói, Luís Mota
O muito frio que se fazia sentir convidava os atletas a aguentarem nos carros o máximo de tempo possível até se dirigirem à meta. Às 7:45 (a partida era às 8) dirigi-me finalmente com os meus colegas para o controlo zero, a 20 metros da meta. Cerca de metade dos 100 atletas presentes já tinham feito o controlo, enquanto os outros 50 esperavam pacientemente que dois elementos da organização fizessem um controlo rigorosíssimo (como eu nunca vi) do material obrigatório. Enquanto isso, o speaker dizia que não adiaria a partida. Às 7:58 lá me consegui despachar e fui para o pórtico, com o speaker a repetir várias vezes que a partida era às 8, e que os meninos deviam ter ido fazer o controlo mais cedo. Entretanto bate as 8 horas, e com cerca de 20 atletas ainda no controlo zero, dá o sinal de partida! Vamos lá ver, nada contra o rigor no controlo, até acho muito bem! Mas, porra, haveria assim tanto problema em adiar a partida 5 minutos?? Enfim, a verdade é que regras são regras, e realmente já se podia ter feito o controlo há muito.. Bem, está na hora de correr!



Os primeiros quilómetros de prova foram feitos junto ao mar, subindo e descendo por trilhos e estradões largos que entravam e saiam de praias. Como sempre, e ainda por cima com o frio que estava, preciso de alguns minutos até estabilizar a respiração e correr com algum conforto. O caminho convidava a correr, mas a prova era longa e os constantes sinais na minha cabeça aconselhavam-me a precaver-me e avançar com cautela. 

Nas ultimas duas semanas antes da corrida a organização avisou vezes sem conta que o percurso seria todo ele passível de ser feito a correr, o que aos olhos de alguém (ainda mais) inexperiente poderia significar facilidades. No entanto, qualquer pessoa que já tenha feito distancias longas (mais que 30km), sabe que mesmo que o percurso não seja sinuoso, muitas horas a correr, mesmo devagar, desgastam brutalmente o corpo.


O primeiro abastecimento, apenas de líquidos, chegou aos 8km de prova. Portanto, íamos com 8km, praticamente todos feitos a correr e com os obrigatórios reservatórios de água cheios. Eu pergunto, será que alguém parou neste abastecimento? Ok, estava lá, mal não há-de fazer. 

Os próximos 8km, que nos separavam do primeiro abastecimento de sólidos aos 16km, foram feitos a afastar-nos da costa para dentro da mata. Tinha finalmente estabilizado a respiração e sentia-me bastante bem a correr. O percurso continuava igual, muitos estradões e asfalto que convidavam a correr, convite esse que eu aceitei. 

No abastecimento dos 16km, em Monte Bom, estava a Sara à minha espera.

Correr? Nah, primeiro há que pousar para a foto.
Este abastecimento deixou boas indicações. Muita variedade e qualidade, numa altura que já corria com bastante fome (o pequeno almoço foi às 5 da manhã). 

Foi com o estômago reconfortado e ânimo redobrado que voltei a enfrentar a estrad...perdão, os trilhos! O percurso agora levava-nos até Mafra, onde iríamos passar pelo Palácio Nacional e eu iria rever a Sara. 

Ponto prévio: eu adoro correr, seja em estrada ou trilhos. Não me importo demasiado que o percurso tenha algum alcatrão ou estradões. Como expliquei aquando do Reccua Douro Ultra Trail, às vezes é imperativo e até faz algum sentido que se façam alguns segmentos em estrada. No Douro serviu para mostrar aldeias escondidas que caracterizavam fortemente a região e as gentes da zona. Para mim, muito mais importante que haver obstáculos complicados a cada quilómetro, é que o percurso tenha carisma! Não sei se estou a romantizar demasiado a coisa, mas gosto de perceber que um trajecto faz sentido, que não se chega do ponto A ao B pelo caminho mais óbvio ou mais complicado, mas pelo que se enquadre mais na personalidade do trail! (Ok, esta se calhar foi pseudo-intelectual de mais :) )

Dito isto, na minha opinião, o que se passou nos quilómetros antes e após Mafra não fez sentido nenhum. Estrada atrás de estrada, cruzamentos, rotundas, passagem pelo MacDonalds (!!!) e até houve lugar a uma surreal volta de cerca de 2km pelo parque desportivo de Mafra, para sair quase pelo mesmo sitio! Eu percebo, o Palácio de Mafra é um ex libris, e sinceramente gostei de lá passar. Mas será que aquele era o único caminho??

Photobomb no Palácio de Mafra
Escusado será dizer que tanto alcatrão e estradão me obrigaram a correr ininterruptamente. Estava agora com 30km de prova em cerca de 3 horas, algo estranho num trail. A primeira consequência foi o desgaste brutal dos pés. As minhas Salomon são muito boas em trilhos técnicos, mas são muito duras para correr na estrada, parece que tenho duas tábuas nos pés a baterem com estrondo no chão. A segunda consequência derivada do desgaste foi correr com cada vez mais fome. Aqui entramos no que para mim foi outra grande falha nesta corrida.

Os 6 abastecimentos em 66km parecem perfeitamente adequados. Mas dos 6 abastecimentos, 3 deles eram só de líquidos (abastecimentos só de líquidos numa prova tão longa não me parece que faça muito sentido), o que quer dizer que os 3 abastecimentos sólidos estavam demasiado afastados uns dos outros - 16km até ao primeiro, 22km até ao segundo e 23km até ao terceiro! A juntar a isto, o terceiro abastecimento de sólidos estava a 5km da meta!! Apesar de estarem bem apetrechados, estavam muito mal posicionados. Corri quase sempre com fome, e pela primeira vez não trouxe para casa nenhum dos géis ou barras que levei (4 geis + 3 barras).

Bem, problemas à parte, antes do segundo abastecimento de sólidos, por volta do km 30, entrámos na que para mim foi a zona mais interessante da prova, a subida ao Penedo de Lexim. 

O Penedo de Lexim é uma formação geológica muita interessante situada no topo de uma colina. Segundo o Google era uma antiga chaminé vulcânica, e o magma que a formou sofreu arrefecimento lento e gerou minerais bem desenvolvidos. Para o alcançar subimos por um trilho bastante técnico (que saudades) que desembocou numa grande clareira no topo da colina! A descida? Adivinhem... Sim, foi pelo alcatrão :)

A descer a colina, onde estava a minha fotografa favorita :)
O segundo abastecimento sólido chegou depois de descer do Penedo. Cheguei lá esganado de fome. Como sempre, estava bem apetrechado, e desta vez até tinha uma sopa de legumes quentinha que me soube muitissimo bem! Se eu soubesse que já só ia comer na meta tinha repetido... 3 vezes!

Nesta altura tinha passado o meio da prova. Faltavam cerca de 30km que, segundo um membro da organização que estava no abastecimento, seriam mais interessantes e com menos estrada. De facto foram, andámos muito mais tempo em terra (mesmo assim, maioritariamente estradões), mas já estava de tal maneira desgastado que a partir dos 40km já fazia contagem decrescente!

A corrida confortável e controlada dos primeiros 30km estava a transformar-se num trote lento e muito difícil. Olhava para o estradão plano e recto que se estendia à minha frente como para uma encosta da Serra da Estrela, era um pé à frente do outro, olhos baixos e cabeça a fugir para outras paragens. O treino de reforço muscular anda a fazer bem, porque as descidas deixaram de me custar nos músculos. Por outro lado, os pés e articulações dos tornozelos gritavam por piedade a cada pancada no alcatrão ou terra dura. 

E os quilómetros não passavam...

Mais uma subida enorme...em alcatrão... e no topo da colina avisto finalmente o mar. Estamos no quilómetro 60, já não falta muito! Começa a descida para a Foz do Lizandro.

Sim, em alcatrão.

Era aqui que estava o ultimo abastecimento sólido. A 5km da meta. Como é óbvio, o cheiro a meta, o cansaço e o desgaste acumulado fizeram com que nem pensasse em comer. Depois como na meta, pensei eu. Pois, comi mas paguei, e bem, no bar da praia, porque abastecimento na meta nem vê-lo!

Edição - Soube, depois de escrever o post, que afinal havia mesmo um abastecimento na meta!! Só não reparei na sinalização (se existia) e ninguém me avisou. De qualquer maneira, critica retirada :)

Os 5km que faltavam até à meta foram também muito sofríveis. O trail era baseado na Ericeira, tem que haver mar, concordo. Mas aqueles quilómetros parecem ter sido traçados por alguém que vai fazer um treininho de 5km à Ericeira, e decidem correr no calçadão. Se há pouco fazia a contagem decrescente dos quilómetros agora era quase metro a metro!

Quanto à chegada, dificilmente poderia ser mais idílica. A descer por uma escadaria de madeira, com o pórtico à beira mar e o sol a pôr-se no horizonte. 


Cruzei a meta com 66.5km no relógio e 7h46 depois. O banho quente foi tomado no Parque de Campismo da Ericeira, e o repasto foi no Bar da praia. Do dia ficam as boas recordações passadas com amigos e com a Sara, algumas partes do percurso, mais um objectivo cumprido e principalmente o prazer imenso que dá correr. Seja em trilhos, em estrada ou estradões, a subir ou a descer - gosto de correr. 


Quanto à Horizontes, de quem tinha ficado com muito boa imagem no Monte da Lua, não queria estar a bater mais. Não tenho por sistema dizer mal da organização de provas, até porque sei que a grande maioria das vezes é trabalho voluntário e com gosto. Mas desta vez fiquei bastante desiludido, simplesmente porque me pareceu tudo planeado em cima do joelho e com algumas falhas básicas. Não vou ser fundamentalista e dizer que nunca mais participo em provas deles, mas espero que tenham aprendido com o que se passou no sábado.

Ah, já me esquecia, esta prova marcou a estreia oficial da minha nova companheira, a GoPro. Transportei-a no bastão (sim, levei bastões) e fui fazendo pequenos clips que editei quando cheguei a casa. O resultado é este video de 3 minutos. Façam o favor de ver, de preferência com som, que deu uma trabalheira a sincronizar com os tempos da música!


Quanto a mim, vou finalmente ceder ao ócio do fim de ano e ... participar numa São Silvestre! :D 

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Um fim de semana solidário

O evento Toca a Todos foi memorável, ou é impressão minha? A campanha organizada pela RTP (principalmente a Antena 3) em conjunto com a Cáritas Portuguesa, além de conseguir juntar mais de 360 mil euros em donativos, teve o condão de despertar e sensibilizar o país para O elefante na sala de todos nós - em Portugal uma em cada três crianças está em risco de pobreza. 
Durante 72 horas o Diogo Beja, a Joana Marques e a Ana Galvão conduziram uma emissão de rádio ininterrupta num estúdio improvisado no Terreiro do Paço. A Antena3 é, e sempre foi, "a minha rádio" e foram 3 dias magnetizantes com dezenas de convidados de todas as áreas, que ofereceram variadíssimos momentos memoráveis (alguém ouviu a história que a Isabel Alçada e Ana Maria Magalhães escreveram para a causa??) sempre centrados num tema principal: a pobreza infantil. 

Paralelamente a esta maratona de rádio começou a desenvolver-se uma outra iniciativa que achei muito interessante. A ideia era juntar os melhores ultra maratonistas de Portugal e dividi-los em grupos que iriam percorrer o país a correr, terminando em conjunto no Terreiro do Paço em Lisboa numa grande festa da corrida. Foi assim que quatro grandes grupos partiram de Caminha, do Porto, de Sagres e de Manteigas. Não sei se por estar tão embrenhado na campanha (as minhas cerca de 6 ou 7 horas diárias de Antena3 passaram quase ao dobro nestes dias) mas principalmente por perceber a magnitude e a tarefa hercúlea a que estes corredores se tinham proposto, a verdade é que senti sinceramente que algo especial de estava a passar, e não quis ficar de fora.


Juntamente com 4 colegas da minha equipa, A20KM (Associação 20km de Almeirim), no sábado às 7 da manhã estávamos em Santarém para acompanhar o grupo de Manteigas, liderado pelo GRANDE Armando Teixeira nos cerca de 30km que separavam Santarém da Azambuja, onde se iriam encontrar com os grupos do Porto e de Caminha.


Foi um grupo de cerca de 15 pessoas cansadas e derreadas que encontrámos. Quinze pessoas que não dormiam há duas noites e dois dias, que corriam ininterruptamente, ainda que por turnos, há muitas horas. O Armando Teixeira, que voltei a encontrar depois do KM Vertical e do Trail Serra da Lousã, explicou-nos que várias confusões e derivações do percurso original os tinham desgastado e atrasado. A juntar a isso, cada um deles já tinha mais de 80km de estrada nas pernas! Foi este grupo de bravos heróis que acompanhámos durante mais de 34km, sempre com a leve esperança que o nosso pequeno contributo fosse o suficiente para lhes devolver uma réstia de animo, necessária para terminar esta epopeia solidária. 

Como previsto, foi na Azambuja que os deixámos. Parece-me que a nossa ajuda resultou, porque foi entre abraços, agradecimentos e desejos de boa sorte que nos despedimos do Armando, do Pedro Trindade e restante espectacular e simpática equipa. Foi então com 34km e um modesto donativo monetário que contribuímos para esta importante causa.

Ficou para a história um incrível evento social e, quando menos se esperava, um dos dias mais memoráveis da corrida de estrada e trilhos em Portugal! O que não gostei nada foi da cobertura que a RTP fez à iniciativa. Pobre é dizer pouco, não compreenderam nem de perto nem de longe a magnitude do feito. Se fosse um passe de calcanhar do Ronaldo davam-lhe mais importância! 


Ah, e quanto a assuntos mais terrenos, aproveitei este treino para testar a minha nova companheira de provas: a gopro hero, que saiu agora num modelo muito mais acessível que as irmãs mais profissionais (e caríssimas)! Aqui está a minha primeira tentativa de edição de video, manchada nos primeiros segundos por uma calinada! Se não conseguirem ver no browser, este é o link.


Vejam com som sff, deu uma trabalheira a sincronizar com a música :)

O Domingo foi dia de nova corrida solidária. Desta vez em Almeirim, num treino/convívio anual que junta todo o pelotão Almeirinense,  numa volta em homenagem a um dos mais veteranos corredores da terra, o António de Jesus. 


O plano é simples: juntar a malta toda que corre em Almeirim, levar géneros alimentares para doar a uma instituição, e qualquer coisa para um petisco/pequeno almoço. Ah, e correr 10km! Como é habitual, foi uma manhã muito bem passada entre amigos e ainda se juntou uma quantidade muito considerável de alimentos para doar! Quanto ao petisco... bem, chega dizer que no fim dos 10km procurei uma garrafa de água para beber e não havia. Por outro lado havia tinto, abafado, moscatel, whisky, vinho do porto, ginjinha, etc etc etc ehehe Os Ribatejanos não perdoam :)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

40 coisas que me irritam na corrida.


  1. Lesões.
  2. Lesões.
  3. Lesões.
  4. Começar uma prova e esquecer-me de ligar o cronometro.
  5. Correr com dores de barriga.
  6. Encomendar umas sapatilhas on-line e ficar com uma bolha na primeira corrida.
  7. Calçar sapatilhas molhadas.
  8. Cães sem coleira.
  9. "Maratonas de 10km". A sério?
  10. Encontrar uma foto minha duma prova e os músculos da perna não estarem flexionados de uma maneira fixe.
  11. Acabaram as festas de sexta feira à noite.
  12. "Correr dá cabo dos joelhos".
  13. Aperceber-me que a corrida afinal não é "um desporto barato".
  14. Esperar que os carros passem para atravessar a rua.
  15. Ficar com assaduras.
  16. Tomar banho depois de ficar com assaduras.
  17. "O melhor é ficares 2 semanas de repouso...".
  18. Passo por alguém a correr e digo olá - não me respondem.
  19. Parar para atar os atacadores.
  20. Aqueles 15 minutos antes da prova, depois de já termos feito o aquecimento e estamos só ali especados de braços cruzados.
  21. Cuspir contra o vento. Não é preciso dizer mais nada.
  22. Bronze à pedreiro.
  23. Silvas.
  24. Andar a correr sozinho num trilho novo e de repente estou com mato pelo pescoço.
  25. As meias enrolarem-se dentro das sapatilhas.
  26. Quando alguém não percebe que TENHO que falar sobre corrida.
  27. "Se fosse pa pegar numa enxada não saías da cama ao sábado de manhã!!"
  28. Quando um carro passa por mim numa estrada deserta e apita. 
  29. Correr contra vento forte.
  30. Parar o cronometro quando alguém nos chama para falar na rua (ponto 1) e depois esquecer de voltar a ligar (ponto 2).
  31. Relógio ficar sem bateria a meio do treino.
  32. Engolir um mosquito.
  33. Perguntarem-me por direcções.
  34. Uma pedra dentro da sapatilha.
  35. Encontrar on-line AQUELAS sapatilhas que andávamos à procura por um super preço - não há o nosso número.
  36. Ir a correr numa subida e passarem camiões por nós.
  37. Parar o cronometro no fim do treino e reparar que faltam 100 metros para a distancia certa.
  38. Esperar que o relógio apanhe sinal GPS
  39. Fazer XX minutos e 01 segundos numa prova de estrada.

E finalmente, a coisa que mais me irrita na corrida:

   40.   Não correr.







terça-feira, 25 de novembro de 2014

Stairway to Heaven

Não, não é mais um post sobre musica.


Inscrevi-me no MIUT 115. 

Madeira Island Ultra Trail - 115km.


Pronto, já tirámos isso da frente.

Como estava a dizer, inscrevi-me no MIUT e comecei o treino especifico para esta prova, que só vai acontecer no dia 9 de Abril, esta semana. Como toda a gente sabe, MIUT é uma palavra do calão madeirense que o Cristiano Ronaldo usa quando quer dizer "escadas". Primeiro passo: não entrar num elevador até Abril. Segundo passo: treinar escadas!

Até há pouco tempo, pensava que treinar escadas significava subir e descer o maior número de degraus possível. Mas depois estive a procurar informações na net, e encontrei um conjunto de vídeos muito úteis da ATRP (Associação de Trail Running de Portugal) que mostra vários tipos de exercícios de complemento ao trail e reforço muscular, entre eles, este sobre treino em escadas. Tirei alguns apontamentos deste e doutros vídeos, falei com o Daniel Leandro, que é treinador na Associação 20km de Almeirim, e hoje fui testar o método pela primeira vez. 

É um treino especifico que tenciono fazer uma vez por semana, complementado com 20 minutos de corrida lenta antes e depois (os exercícios demoram cerca de 35/40 minutos). É muito fácil de entender, pouco monótono e, pelo menos a julgar pelo grau de dormência das minhas pernas, muito, MUITO eficaz! Já faço exercícios de reforço muscular pelo menos 2 vezes por semana há uns meses, e digo-vos que já não sentia as pernas assim desde as primeiras sessões!

Primeiro procurem um lance de escadas com pelo menos 20 degraus na vossa zona. Parece pouco, mas depois vão ver que é suficiente, e se acharem que não é só têm que aumentar as repetições. Eu fui para as bancadas do Pavilhão Municipal de Almeirim (25 degraus). Neste tipo de treino especifico gosto sempre de fazer uma corrida lenta antes, hoje fiz 20 minutos. Este foi o esquema de exercicios:

  • Subir em passo de corrida
  • Subir a levantar mais os joelhos.
  • Subir a bater com os calcanhares no rabo.
  • Sobe um pé de cada vez para o mesmo degrau, salto com os dois pés para trás, salto com os dois pés para a frente. Passa para o próximo degrau.
  • Agachamento e salto a cada degrau.
  • Agachamento e salto a cada 2 degraus.
  • Agachamento e salto a cada 3 degraus.
  • Subir tudo a pé cochinho (pé direito).
  • Subir tudo a pé cochinho (pé esquerdo).
  • Agachamento lateral e salto a cada degrau
  • Agachamento lateral e salto a cada degrau (virado para o outro lado)
  • Afundo e salto a cada degrau
  • Afundo e salto a cada degrau (virado para o outro lado).
  • Fazer 10 agachamentos lá em baixo e subir tudo em passo de corrida (repetir 5 vezes)
  • Fazer 10 agachamentos com salto lá em baixo, e subir tudo a passo de corrida (repetir 5 vezes)

Repetir tudo duas vezes e no fim 20 minutos de corrida descontraída.

Alguns podem parecer confusos assim explicados por extenso, mas vejam este video e este. Vão ver que são todos muito fáceis de perceber. 

PS - Algo me diz que amanhã vou estar com um andar engraçado!

Próximo passo - treinar escadas aqui.






segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Arrábida Ultra Trail (80km) - Uma corrida completa

Quando decidi voltar a apostar no trail, no inicio deste ano, andei a procurar provas no Calendário do Carlos Fonseca.  Logo na altura chamou-me a atenção uma prova em Novembro. A distancia, 80km, era uma loucura inatingível para mim, mas chamou-me a atenção a qualidade do site da prova, e a maneira como já tinham as coisas definidas a tantos meses do evento. Entretanto, lá para Julho, inscrevi-me na distancia ultra. O site continuava igual. Os meses passaram e não haviam novidades nenhumas. Quando entrei nas ultimas duas semanas, aquelas em que praticamente só pensamos na prova 24 horas por dia, comecei a ficar de pé atrás. Então não divulgam o track? E os abastecimentos? E um perfil em que diga onde é que eu me vou cansar mais? E uma folha secreta a dizer que tempo vou fazer?? Ui que isto vai correr tudo mal! Vai estar tudo mal marcado, os abastecimentos vão ser péssimos, vou torcer um pé, vai ser só estradões... AAAAAH
Foi assim, com este espírito, que acordei no domingo às 5 da manhã. Por causa disso, estou convencido que os deuses do trail me castigaram pela falta de fé, e decidiram transformar-me num bicho. Ou isso ou então em Setúbal há melgas mutantes que ainda sobrevivem a meio de Novembro, Senhoras e senhores, era esta a cara do bicho com o dorsal 32:

Obrigado melga, o lábio ficou fixe :)
A partida foi dada no Castelo de Palmela com um ligeiro atraso. Às 7:10, já de dia, lá foram os cerca de 150 bravos para enfrentar os 80km. 

4 dos 6 Almeirinenses presentes em prova
O percurso começou com uma grande descida técnica. Divertida e rápida qb, serviu para dispersar os atletas antes de entrar nos trilhos mais técnicos. Como podem ver no perfil altimetrico, nunca andámos em grandes altitudes, o ponto mais alto do percurso tinha 237m. 


Nesta altura, ainda desconfiado da organização que se estreava no trail com uma prova muito ambiciosa, andei sempre atento às marcações. A verdade é que até agora estas estavam impecáveis! Grandes e visíveis fitas amarelas marcavam o percurso exactamente onde tinham que marcar. Com maior densidade nas mudanças de direcção e em situações que pudessem provocar duvidas, e mais dispersas em trilhos compridos. Perfeito! Ainda cheguei a considerar que lá mais para a frente se podiam desleixar, mas não! Posso mesmo afirmar que foi a prova com melhor marcação que já fiz! Já nos atravessamentos de estradas, invariavelmente estavam elementos da organização, muitas vezes acompanhados de policias que paravam o transito, cinco estrelas!

Bem, mas voltando aos trilhos. Os primeiros 15km foram fantásticos. Sempre dentro da Serra da Arrábida, fomos subindo e descendo encostas muitas vezes com uma vista espectacular para Setúbal. O percurso, sempre em single tracks muito bem limpos e corriveis, serpenteava no meio de uma vegetação maioritariamente baixa mas com muitos pinheiros mansos que ofereciam sombra e um cheirinho que me iria acompanhar até ao fim. 

Eu seguia bem, sempre controlado e sem nunca forçar. Corria desde o inicio com um desconforto intestinal, o que me assustava, mas fisicamente estava impecável. Decidi levar os meus bastões, apesar da prova ter muito pouca altimetria. Sobre eles, falar-vos-ei mais tarde, mas posso desde já dizer que estou definitivamente rendido! Aliás, penso que vou começar a andar com eles no dia a dia :)
Calma, também não é preciso esse entusiasmo todo.
O primeiro abastecimento chegou aos 15km. Exactamente aos 15km, como anunciado. Era no sopé de uma montanha, junto ao Teatro o Bando. Era o meu segundo maior receio, e mais uma vez perfeitamente infundado. O  abastecimento estava quase impecável. Fez-me lembrar as festas de anos quando eramos putos, só faltavam os rebuçados de fruta espalhados em cima da mesa. A única coisa que faltava neste e nos outros abastecimentos todos (com excepção do que tinha comida quente) era mais comida salgada, que se cingia a amendoins. De resto estava lá tudo, muita fruta, marmelada, salame, bolo de chocolate, areias, bolos de manteiga, outros bolos que nem sei o que eram, água, isotonico, coca cola... Estava com fome e comi bastante. Sabia que logo a seguir tinha uma boa subida, que serviria para assentar a comida no estômago. Tinha esperança que isto atenuasse ou eliminasse o desconforto que sentia.

Junto ao teatro, e imediatamente antes de uma subida de cerca de 150m por escadas rudimentares, estava um grupo do Teatro, numa espécie de improvisação à volta de uma mesa de pique nique. Estavam com umas máscaras meio estranhas e em algumas cadeiras estavam uns bonecos de palha. Agradeço o esforço para animar o pessoal, mas aquilo pareceu-me muito sinistro! Lembrei-me da familia Sawyer do " The Texas Chainsaw Massacre", só lá faltava o Leatherface (desculpem o momento nerd de filmes de terror). Se tivesse visto aquilo já de noite borrava-me todo!

A familia Sawyer. Pessoas muito porreiras.
O segmento seguinte foram cerca de 10km num single track que passou junto de muitos moinhos, sempre na crista do monte. Como andámos sempre lá em cima, as subidas e descidas nunca eram muito acentuadas, por isso dava para correr sempre. Muito engraçada esta parte. Foi um dos segmentos que ao olhar para o track do percurso parece um grande e chato estradão, mas não podia estar mais enganado! 


No fim destes 10km descemos finalmente do monte e continuamos por trilhos estreitos. Neste segmento decidi tomar uma atitude quando às dores de barriga. Pequeno desvio, tratar da logística e....vocês sabem o resto. 
Obrigado internet, nunca me desiludes.
Aos 28km estava o segundo abastecimento, dois quilómetros antes do anunciado. Esta é a única (pequena) falha que posso apontar. Este estava dois quilómetros antes, e o que estava anunciado aos 72km só chegou aos 74. Nada de grave. O segmento seguinte passaria então dos anunciados 18 para 20km. Achei demasiado entre abastecimentos. Pelo sim pelo não abasteci bem de água e tomei um gel.

Destes 20km, cerca de 10 foram em estradões. Quando vi o track fiquei com muito medo que a maioria do percurso fosse nestas estradas de terra, mas felizmente estavam todos concentrados nestes 10km. Foram chatos, sem dúvida, mas não beliscaram a excelência da prova. 

O problema dos estradões, além da monotonia, é que dão quase sempre para correr. A certa altura já rezava para que na próxima curva estivesse uma grande subida para descansar. Esta parte foi quase toda corrida num vale na base dos grandes picos da Arrábida. Foi chato.. Parecia que não saímos do mesmo sitio. Comecei a ficar com medo que a prova fosse assim até ao final. Ia com uma média muito boa, mas correr durante longos períodos desgasta muito o corpo, e se assim continuasse ia pagar mais tarde. 

Felizmente, nos últimos 3km antes do abastecimento voltámos a entrar na serra. Voltaram os trilhos estreitos e divertidos, e o abastecimento lá chegou, aos 48km como anunciado. 

Entrávamos agora numa terceira fase da prova. Depois dos trilhos corriveis e dos estradões chatos, era agora altura de voltar a mergulhar na Serra e finalmente enfrentar subidas violentas! Oh, a alegria de ser massacrado!! :')


Puxa dos bastões e *tlec* *tlec* *tlec* por ali acima. 

Meus amigos, deixem-me falar-vos do meu amor pelos bastões. Acham que é uma mariquice? Pois bem, não quero saber disso para nada, só lhes vejo vantagens. São leves o suficiente para não incomodarem o percurso todo se tiver que correr, ajudam na postura quando subimos eliminando as dores de costas, poupam as pernas nas descidas mais violentas, ajudam a passar por obstáculos como possas de lama gigantes (e então se foram poucas...), e em caso de desespero ainda conseguem caçar um coelho e fazer um guisado! 

Foram 14km de sobe e desce até ao terceiro abastecimento, nos 62km. Com uma progressão muito mais lenta que no inicio. Sucederam-se as subidas muito inclinadas, apesar de curtas. Nas descidas comecei a sentir muito o desgaste, doíam-me muito as articulações dos tornozelos, nunca me tinha acontecido. Continuei sempre controlado e sem nunca forçar, encarei este desgaste como natural, de quem já tinha percorrido 60km.

O terceiro abastecimento era onde estava a nossa mala com roupa para trocar. Mas o que interessa falar aqui é da espectacular canja quentinha que comi. Aliás, das duas canjas quentinhas que comi! Qual tomate com sal, amendoins ou batata frita, não há nada como comida a sério. Com o estômago reposto e muito mais confortável depois de trocar de camisola e t-shirt, lá segui caminho. 

Sorry...
O percurso não se alterou muito até aos 74km. O que se alterou foi a minha condição física. Estava agora a entrar em níveis mínimos. Como previa, estava a pagar aqueles quilómetros todos seguidos a correr. É uma pena que não tenha aproveitado bem estes quilómetros, porque o percurso era espectacular. Todos, mas TODOS os trilhos eram bons para correr! Incrível, quem me dera ter pernas. 

Estávamos agora no coração da Arrábida, muitas vezes com vista para o mar. A certa altura vi a Península de Tróia de uma perspectiva espectacular, melhorada pela luminosidade do por do sol. Daqueles momentos que nos fazem lembrar porque gostamos disto.

Não há imagem que lhe faça justiça.
Continuei a correr já com muitas dores. Quando passava uns minutos a correr e parava numa subida parecia que todos os músculos bloqueavam e as articulações gritavam. Quando tinha que arrancar para nova corrida parecia um velho de 90 anos depois de se levantar de 2 horas de sofá. Haja sofrimento!

O abastecimento dos 72km lá chegou, mas aos 74. Completo como todos os outros, e com pessoas simpáticas, como todos os outros. O sol estava quase a por-se e estava a começar a sentir frio. Vesti o impermeável, que servia de corta vento, um buff na cabeça, outro buff no pescoço e frontal da testa. Sentei-me uns minutos numa cadeira que lá estava e comi calmamente. Faltavam cerca de 9km, já nada me tirava mais esta ultra, era só ir com calma.

A energia recuperada no abastecimento não demorou muito a ser dissipada nuns metros de trilhos. Seguia agora sozinho e raramente via alguém. Quando o sol finalmente se pôs ainda me faltavam cerca de 7 ou 8km, que demoraram uma hora a cumprir.

Não gosto muito de correr de noite, confesso. Para já perde-se o prazer de apreciar a paisagem, depois nunca conseguimos desfrutar dos trilhos porque vamos demasiado concentrados a tentar não cair e a procurar a próxima fita. 

Quanto às fitas, mais uma vez tenho que elogiar a organização. Utilizaram umas fitas reflectoras como nunca vi em mais nenhuma prova, eram gigantes e parecia que tinham luz própria, impecável! (Já devo ter utilizado o adjectivo impecável umas 5 vezes, acho que é um sinal).

Cruzei finalmente a meta passadas 11h16, com 83km certinhos. Na meta estava montada uma grande estrutura de apoio, com comida quente, musica e animação. Infelizmente esta parte não foi perfeita. Faltaram dois elementos importantíssimos, que é suposto estarem em todas as metas e todos os abastecimentos: a Sara e a Maria Amélia. Mas ok, para o ano a organização decerto fará esforços para que elas estejam presentes :)

Ok, um pin para finisher é que ficou um pouco a desejar..
Em resumo, foi uma prova que surpreendeu muitíssimo. Como perceberam, houve de tudo. Partes corriveis, partes técnicas, boas subidas (total cerca de 2200d+), bons abastecimentos... Foi uma prova rolante, mas nem por isso pouco dura. Com esta organização, parece-me que tem capacidade de ser uma referencia a nível nacional e uma excelente porta de entrada para as distancias mais, digamos, ultra. 

Ah, e lembram-se da batata que tinha no lábio? No fim já tinha desaparecido! Por isso já sabem, se algum dia uma melga vos picar no lábio e ficar inchado, vão correr 80km que isso passa!


segunda-feira, 10 de novembro de 2014

VI Trilhos de Casainhos - A FÚRIA!!!

Os Trilhos de Casainhos devem ser das provas de trail com mais tradição em Portugal. É uma distancia pequena, como cada vez há menos nos trails que se fazem, o que a torna uma excelente porta de entrada para a modalidade. Além disso é muito perto de Lisboa, o que permite uma grande afluência de pessoal da região, incluindo muita gente da estrada. Para mim era o culminar de uma semana de treinos durinha, a ultima a sério antes dos 80km do Arrábida Ultra Trail. 



A hora tardia da partida, 10:45, permitiu um acordar perfeitamente descansado. Saí de casa com o João, meu cunhado que se ia estrear no trail, por volta das 10 horas. Apesar de ser um horário pouco habitual, não me pareceu de todo desajustado. A prova era pequena, estamos em Novembro, acho que não havia necessidade de se começar mais cedo. Levantámos o dorsal sem qualquer problema, e fomos equipar para o carro. Até que, a 15 minutos da partida, desata a chover torrencialmente. A partida foi dada debaixo de chuva forte e num autentico lago que entretanto se tinha formado. 



Decidi que nesta prova, por ser curta, iria tentar acompanhar os mais rápidos pelo menos nos primeiros quilómetros. A ideia não era lutar por alguma classificação, mas evitar congestionamentos quando fosse a entrada nos trilhos e, admito, perceber em que ponto estava a minha forma. 

Os primeiros 2km seriam dentro de Casainhos, de forma a dispersar o pelotão. Colei-me a uma grupo de cerca de 10/20 pessoas que iam nos primeiros lugares e deixei-me levar pelo entusiasmo.

Gastei eu uma fortuna num impermeável para correr à chuva de tshirt....

A entrada nos trilhos deu-se por volta dos 1.5km. Continuava num grupo de +/- 10 pessoas agora a correr em trilhos bastante rápidos. Corria-se a subir, acelerava a descer, saltos por cima de riachos e rochas.. Os primeiros 4 quilómetros foram todos feitos abaixo de 5min/km. Nunca tinha corrido tão depressa num trail, mas estava sentir-me bem e continuei a acompanhar os cavalões que iam comigo. Como ia no meio de um grupo, acabei por dar pouca atenção às fitas. De vez em quando levantava a cabeça e lá via um ou duas, muito espaçadas. Eram aquelas fitas vermelhas e brancas, genéricas. Passávamos por cruzamentos sem fitas e o pessoal nem hesitava, é por aqui! diziam eles. Bem, eles devem saber o que fazem. Mais um cruzamento sem qualquer marcação, desta vez abrandámos todos. Alguém lá mais abaixo vê uma fita. Ok, boa, siga! Toca de descer a fundo! Cada vez menos e menos fitas, mais um ou dois cruzamentos e nada. 

Mau.. Estávamos agora num vale com cerca de 4km de prova. Ia concentrado numa descida em lama quando oiço alguém dizer: Pronto, já houve merda! .

Parou!

Olho para a frente e estão 10 colegas parados a olhar em volta, os 10 que lideravam a prova. Junto-me a eles com o meu grupo de cerca de 7 ou 8. Mas viste alguma fita?? Não, ninguém tinha visto. Quando é que foi a ultima que viste? Sei lá, lá pra cima! respondiam outros. 

Txiii o que para aqui vai...

Impropérios lançados para o ar, juras de ódio infinito ao Sporting Clube de Casainhos, acusações de falta de respeito, de vergonha, etc etc etc. A frustração era muita, e aumentou enquanto subíamos agora vagarosamente o monte que tínhamos acabado de descer. Continuamos a andar para trás. Pelos vistos, as tais fitas que vimos seriam de outras provas, mas eram iguais! 

Confesso que nesta altura estava bastante irritado. Já pensava no post demolidor que iria escrever e que milhares e milhares de pessoas iriam ler! Era uma vergonha! O primeiro elemento da organização que apanhasse ia levar com uma descarga de fúria enorme, isto era inadmissível!! 
Deslarguem-me que eu vou-me a eles!!
Voltámos ao percurso com quase 6km a mais que os colegas, éramos os últimos destacadissimos. Corríamos agora por uns trilhos estreitos engraçados, muito limpos, daqueles rápidos e técnicos onde eu adoro correr. 

Eh, calma, não te esqueças que estás furioso!!

Estávamos quase nos 5km (reais) de prova, onde estaria o primeiro abastecimento. Pronto, agora é que era, vou soltar um inferno em cima destes aldabrões que me fizeram pagar uma fortuna e depois gozam comigo!!!!

No sitio exacto lá estavam eles. Um rapaz e uma rapariga com um colete refletor a distribuir águas e...sorrisos. Passei por eles, recebi uma água, retribui um sorriso e agradeci os incentivos que eles gritavam a quem passava. 

Hm.. Estes eram dos bons, não devem estar ao corrente da enorme farsa que está a ser esta prova! Vou guardar o inferno e descarregar em cima de outro! Mas vou descarregar!!

Continuei a correr, e continuaram os trilhos de qualidade. Agora numa zona a descer, com muita lama. As subidas nunca eram demasiado duras nem as descidas demasiado perigosas, era tudo na dose certa. Trilhos bem abertos, bem sinalizados e muito divertidos. 

Uma passagem interessante pelas ruínas de um castelo e a subida ao cabeço de Montachique, no ponto mais alto do percurso com 409m. 

Castelo de Montachique 
A descida foi mais uma vez espectacular. Pela primeira vez arrisquei muito a descer, não pensei muito no "e se", deixei-me ir e a coisa compensou. Alguns quilómetros muito rápidos e descargas de adrenalina brutais enquanto voava por escorregas de lama. Estava agora a apanhar a cauda do pelotão, que se iam chegando para o lado e me deixavam passar, deixando sempre um incentivo.

Ah, a fúria, nem me lembrava dela... MAS ELA ESTÁ LÁ!! GRRRR

Aos 10km de prova encontro o João. Chamo por ele e explico-lhe entre sorrisos que me tinha perdido logo no inicio. Vai muito bem disposto e incentiva-me a continuar com força. 

Passei por mais algumas pessoas da organização que ali estavam à chuva e ao frio e orientar os atletas ou a distribuir água. Confesso que nem sequer me lembrei de falar do assunto, mas com certeza eles estariam ali a ganhar pelo menos 5 mil euros cada um e aqueles incentivos que gritavam eram perfeitamente cínicos, porque eles queriam era que eu me enganasse outra vez!!! Bem, mas isso fica pra depois, agora estou a gostar tanto do percurso que não me vou chatear. 

Pensando bem, são todos amadores, e a inscrição só custou 7.5€, incluindo almoço... MAS ELES SÃO MERCENÁRIOS!!

Aos 13km (reais) de prova, estava o maior desafio do percurso. A parede de Ribas. Seria um muro com cerca de 1km e 150m d+. Nada por aí além, mas o suficiente para me fazer subir agarrado aos joelhos. Chegado lá acima estavam duas pessoas da organização, muito simpáticas como sempre. Ainda não são estas que vão apanhar com a fúria...

O ultimo 1.5km até à meta é a descer por estradões com muita água e lama. Continuava a sentir-me muito bem e forcei o ritmo. Estava agora de volta a Casainhos e a entrar no largo do campo de futebol, onde estava o pórtico. A prova passou dos 15km anunciados para 21, que cumpri em 2h08. Vistas bem as coisas, adorei a prova e o percurso, diverti-me muito nos trilhos rápidos e foi um óptimo treino para a Arrábida. Também o João adorou e ficou com vontade de repetir uma aventura nos trilhos. Foi uma manhã perfeita!

Ah, não, espera, não foi nada.. A FÚRIA!!

Lá ao fundo vejo uma pessoa da organização a tirar os tempos e registar os números. Pronto, é agora.

Canalizei toda a fúria que restava e apontei-a à senhora da organização. Coitada, nem sabe o que lhe espera!! Vou largar aqui tudo, vai ouvir das boas, se for preciso ainda a deixo a chorar!!! NEM VAI SABER O QUE LHE BATEU!!!!!

PASSEI A META, DESLIGUEI O CRONÓMETRO, DIRIGI-ME À SENHORA E DISSE-LHE:

- Olhe, perdi-me.

E sorri.

A senhora olhou para mim, sorriu, e encolheu os ombros.

Pronto, ficamos assim :)





terça-feira, 4 de novembro de 2014

Sabes que és um corredor quando...

  • O par de sapatos mais caros que tens é o de corrida
  • Quando vais na auto-estrada e vês uma placa a dizer "Área de Serviço a 30km" pensas: conseguia correr até lá.
  • Já usaste pelo menos uma vez um par de calções sujos para correr porque não tinhas nenhuns lavados.
  • Ficas com inveja quando vais de carro e passas por alguém a correr.
  • Fazes planos para arquivar os dorsais das provas que participas, com data e tempo feito, e passado pouco tempo já tens dorsais espalhados por todo o lado. Que não deitas fora porque... Bem, porque não!
  • Não sabes onde guardar tantas t-shirts de provas.
  • És capaz de gastar mais dinheiro num impermeável do que num casaco para usar no dia a dia.
  • Alguém passa por ti a meio do treino e imediatamente assumes que ou está a correr há menos tempo ou vai fazer uma distancia menor.
  • Reviras os olhos com as seguintes perguntas: em que lugar ficaste; quanto tempo fez o primeiro; quantos quilómetros tinha essa maratona.
  • Tens pelo menos uma unha negra ou a cair.
  • Já leste o blog do João Lima
  • Sabes quando falta 1km até à tua casa, em todas as direcções possíveis.
  • Passas por um subida de carro e pensas "que bom sitio para treinar rampas!"
  • Pagas 15€ para correr num sitio onde podes correr de graça.
  • Acordas com alegria mais cedo ao sábado do que qualquer outro dia da semana, para poderes fazer um treininho longo
  • Ficas irritado com o médico quando ele te diz que tens que parar 2 semanas.
  • Não fazes planos para a sexta feira à noite há anos, porque sábado de manhã é dia de longo.
  • Planeias as tuas férias em função das corridas onde estás inscrito.
  • Não fazes alongamentos antes de correr. Mas sabes que devias fazer...
  • Sentes-te 1000 vezes mais badass (há falta de melhor termo) quando passas pelo mesmo sitio a chover do que quando está sol.
  • A primeira reacção que tens quando cais é parar o cronómetro.
  • Ouves "tás mas é maluco!" pelo menos 3 vezes por semana.
  • Dás uma volta ao bairro antes de parar, porque faltam 200 metros para os 15km.
  • Escolhes comprar meias escuras não porque fica bem, mas porque se nota menos a sujidade.
  • Fazer as tuas necessidades básicas no mato deixou de ser um problema. 
  • Aceleras o passo quando passas por um grupo de pessoas.
  • Sentes-te culpado porque só correste 3 vezes a semana passada.
  • Trocas mais vezes de sapatilhas do que os pneus do teu carro.

Se te identificas com pelo menos 20 das 26 alíneas atrás...... Tens um problema :)


domingo, 2 de novembro de 2014

Correr com amigos.

Este fim de semana tinha no menu um longo de 27km. Nada de especial, uma corrida tranquila igual a tantas outras! Começo a equipar-me, encho a mochila de água, um gel, uma barra, agora vou só ali à dispensa buscar as sapatilhas e.. AAAAAH, UM BICHO!!


Eishhh que já se me agarrou às pernas, tou lixado! 

Tentei livrar-me dela, mas nada. Estava para ficar. O problema é que agora já estava todo equipado e pronto a sair, faltam duas semanas para os 80km da Arrábida, é o ultimo longo que faço, por isso é muito importante! Pfff, tinha que aparecer logo hoje... 

Já sei, vou convidar um amigos para vir comigo, a coisa torna-se mais fácil e vou distraído.

Os meus companheiros habituais de corrida estavam todos com horários ou treinos desencontrados dos meus, por isso decidi ligar a um pessoal com quem já não corria há anos. Uns telefonemas rápidos e a coisa estava alinhada. Não os via há muito tempo, mas já me fizeram boa companhia há uns anos, talvez a coisa corresse bem.

Assim que desço as escadas do prédio já estava o Fachada à minha espera. A meio dos alongamentos ele começa a falar-me de prestidigitação, de monogamia, de um tal zé que tem um Cadilac.... Eu gosto do Fachada, a sério que gosto, mas o gajo é um bocado pretensioso e hoje estava com pouca paciência para ele, muito sinceramente. Corremos mais ou menos 1km e depois despachei-o, não estava para isso.


Por sorte tinha combinado com o Capitão Fausto ali ao pé do pavilhão. Mal o apanhei notei logo um aumento de ritmo! O Fausto nunca me falha. Apesar de não nos conhecermos há muito tempo sempre nos demos bem. 


Já com alguns quilómetros nas pernas, e enquanto falávamos sobre a Teresa, reparei lá à frente numa data de pessoal parado. Ao longe não percebi logo, mas assim que me cheguei perto percebi quem era. Já não via esta malta há que tempos! Penso que desde doismileoito! 



De repente estava no Santiago Alquimista, em 2009. Os quilómetros passam e nem me lembro que estou a correr. Esta é a melhor parte de correr com estes amigos. Normalmente gosto de ir absorto nos meus pensamentos, concentrado no caminho, nos sons que me rodeiam, na respiração, mas de vez em quando sabe bem partilhar a experiência. 

Entretanto juntaram-se a nós o Samuel Úria, que vinha com a Márcia. 


Como a menina não acertou o passo, segui sozinho com o Samuel. Calhou bem, ele é o companheiro ideal para esta parte do percurso. Entendo-me muito bem com o Samuel, e às vezes penso porque é que não corremos mais vezes juntos. As pedras rolam debaixo dos pés numa descida mais inclinada e já vou a pensar em tudo menos na corrida. Viajo para os anos de faculdade, para os trajectos Ajuda - Caparica, por cima da Ponte 25 de Abril a caminho da escola, tantas vezes acompanhadas por um Samuel que dava os primeiros passos. 


O ritmo do treino segue assim certinho mais uns quilómetros. O melhor destes longos, sem uma maratona no horizonte, é que não estou minimamente preocupado com o ritmo, vou à velocidade que me apetece. Aliás, à velocidade que me provocar o mínimo de desconforto! Vou a correr só pelo prazer de correr, e a companhia ajuda muito. 

Entretanto a coisa ficou séria. O Samuel cansou-se e começou a atrasar-me o ritmo. Os excessos do Halloween estavam a fazer-se sentir e eu também estava a ir abaixo. Nessa altura passei por uma casa ocupada e estava lá dentro uma mulher a dias, que se juntou a mim.

Bem, suponho que o oficio de mulher a dias seja bom para reforço muscular, porque esta senhora deu-me uma abada do caraças! Dei por mim a fazer os quilómetros mais rápidos de todo o treino, e isto aos 20km!


Entusiasmado, lembrei-me de outros amigos meus que também adoram correr a ritmos altos. Fiz imediatamente um desvio no caminho para passar pela zona onde eles costumam andar, com sorte estariam lá.

...e estavam mesmo!!


Continuam obcecados pelo aspecto. Já lhes tinha dito que o Variações já morreu, mas eles querem uma tesoura na barba.. 

Acertei o passo com o deles, e assim fui mais uns quilómetros. Até que à beira do trilho por onde andava vejo uma guitarra. Peguei nela. Era bom treino para os bastões, pensei eu. De repente o trilho transformou-se numa praia, corria agora na areia solta. Lá ao fundo estavam o Ângelo, Nuno e Tito. No mar via o pessoal do surf. Olhei para baixo e em vez das Adidas Boost tinha umas havainas! 

Vejam lá se reconhecem o cromo da guitarra branca :) 

Era como se já não estivesse a correr, não fazia o mínimo de esforço! A amiga Preguiça há muito que tinha ficado agarrada a um eucalipto e eu continuei com outro pessoal até chegar finalmente a casa. O treino estava feito e revi uma data de amigos antigos! Nada mau para uma manhã de sábado :).

No fim os meus amigos foram-se todos embora neste autocarro.
E vocês, gostam de correr sozinhos ou "acompanhados"? :)