As minhas corridas na estrada

domingo, 16 de agosto de 2020

Distrito de Santarém - Pico Aire (679m)

Quando fiz a lista dos cumes correspondentes a cada distrito reparei que a grande maioria até já tinha subido. Haviam dois mais óbvios: Lisboa (Montejunto) e Santarém (Aire). De facto, acho que já subi mais de 100 vezes cada um deles! Pensei se faria sentido incluí-los na minha lista, afinal quase todas as semanas lá vou, por outro lado o que não faria mesmo sentido era retirar deste projecto as duas serras que mais me dizem em Portugal! Decidi avançar, mas com uma condição: o treino teria que ser guiado por alguém que tivesse lá ido ainda mais vezes que eu. 

O Vale Garcia. Fotografia tirada num outro treino

A escolha para o distrito de Santarém, o meu distrito, era mais que óbvia. Com certeza absoluta a pessoa em Portugal que pode afirmar com mais propriedade que aquela é a sua Serra. Mostrou-a aos amigos, à família e a milhares de pessoas, através da organização do Trail do Almonda, que vai para a 11ª edição. Um dos mais antigos e respeitados ultra-maratonistas em Portugal! Pois claro: o Aníbal Godinho!

Eu sei que a malta lá atrás está desfocada, mas eu também queria era mostrar o Aníbal!

O encontro com o Aníbal estava marcado para as 8 de Domingo. À hora certa lá estava com o João Miguel, meu companheiro de Almeirim em tantas dessas dezenas de incursões a Aire, para nos juntarmos a um grupo muito porreiro de malta da equipa Caracol Trail Running e outros amigos, como o ilustre Hugo Água e o Rui Lopes, que vieram de Coruche. Como sempre acontece nestes treinos em grupo (pelo menos a mim, que não o faço com muita frequência) os normais constrangimentos de meter conversa com pessoas com quem não convivemos habitualmente desaparece no preciso momento em que se inicia o cronómetro. De repente éramos todos amigos de longa data, irmãos de armas a contar histórias de batalhas passadas! 

Com o grande Henrique Dias.

Apesar da Serra d'Aire, pertencente ao Parque Natural das Serra d'Aire e Candeeiros (para quem não conhece, quando se vai na A1 para Norte, Aire é a serra que fica do vosso lado direito), estar a menos de 45 minutos da minha casa, confesso que até há coisa de dois não ia lá assim tantas vezes. Descobri Montejunto mais cedo, há 5 ou 6 anos, e fiz o erro de me acomodar lá. Mas Aire lá estava, proeminente, visível a quilómetros de distância em qualquer sitio da nossa Lezíria. Sabia que mais cedo ou mais tarde ficaria intimo dela.

Primeiro foi o Fojo, um trilho pelo qual me apaixonei. Subi-o e desci-o dezenas de vezes, numa espécie de introdução a Aire. Lentamente fui juntando trilhos, imaginando ligações, pesquisando dezenas de treinos do Aníbal e outros habituais e através de muito corte e cola de tracks fui entrando na Serra. Agora já temos uma relação. Imagino percursos e sei por onde ir se quiser alguma coisa mais rolante ou meter mais desnível. Conheço os trilhos mais bonitos e vistosos e as pedras mais desconfortáveis. Os pontos de água e os diferentes pontos de encontro.

Foto do Fojo, numa madrugada destas.

Começámos por subir um dos meus velhos conhecidos: o trilho dos medronheiros, que liga com o Fojo para formar o meio km vertical de Aire. Um trilho muito inclinado, difícil, no meio de árvores, silvas e medronheiros. A ligação foi feita ao muito recente Trilhos dos Escuteiros, talvez o mais percorrido da serra nos últimos meses e um dos meus preferidos. 3km de subida muito variada, com patamares, muita pedra, zigue-zague e entrada e saída de bosques. Talvez o trilho mais desafiante da serra! A ligação ao parque de merendas, na face norte da serra, foi feita por um muito massacrante estradão coberto de brita de calcário, mas este é daqueles que vale a pena porque dá acesso a um dos melhor caminhos da serra, o trilho que faz o planalto inteiro, subindo ligeiramente até às antenas e ao Pico Aire. Inclinação pequena, muitas curvas e contra-curvas, uma maravilha para fazer toda a trote quase sem esforço! Lá em cima picámos o ponto no marco do Pico, ponto mais alto do distrito de Santarém com 679m e finalmente descemos pelo meu primeiro amor nesta serra: o Fojo. 

Foram 22km com 1000D+. Andámos a bom ritmo, foi um bom treino! 

679 metros. Pico Aire

Mas... sabem que mais? Isso não interessa nadinha! 

Como já expliquei no post do Marão, este "projecto" é muito mais do que treinar e subir aos marcos geodésicos. O que eu queria mesmo era ouvir as historias sem fim do Aníbal, conhecedor em primeira pessoa de tudo o que é corrida fora de estrada em Portugal, conversar com o Henrique sobre treino, trabalho e tudo e mais alguma coisa, ficar a conhecer a campeã Tetyana, falar com ela sobre o seu filho campeão de natação. Encontrar o Carlos, com quem tinha partilhado uns km o ano passado no Almonda, e o Ricardo. Rir com o Hugo enquanto as conversas fluíam já no Centro Escolar do Pedrogão, onde comemos um delicioso bolo de cenoura feito pela mãe do Henrique. Queria mesmo era ver o olhar orgulhoso do Aníbal e companhia, enquanto lhes explicava quais eram os meus trilhos preferidos da serra. É claro que conhecia o percurso. Conhecia-o de trás para a frente! Mas fazê-lo com o Aníbal foi impagável e precisamente o que eu quero que isto seja.


Mas é claro que não podia ficar por aqui. Depois de um banho tomado nos balneários do centro escolar, seguimos para casa do Aníbal para almoçar! Basicamente fomos do quintal dele para casa dele, faz sentido. Lá se juntaram os filhos do Aníbal, o grande Tiago Godinho, que de certeza conhecem, e a simpática Joana, que deviam conhecer. A Maria do Rosário, mulher dele, os vizinhos do lado (literalmente), a Sara, o Hugo, o João Miguel.... Mais de 3 horas de almoço, entre amigos e família. A conversa era infinita, por entre km e km de trilhos e provas, risos e histórias intermináveis. Impossível pedir mais: correr em casa e sentir-me em casa. Entre amigos. 

O distrito de Santarém está riscado da lista, mas algo me diz que as visitas a Aire vão continuar por muito e bom tempo. 

3 comentários:

  1. Estou com inveja … só tenho isso a dizer ;)
    Aquele abraço

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  2. Tão bom :) Afinal, mesmo numa serra que conheces tão bem, conseguiste ter um treino espectacular, em boa companhia e com um final em grande :)

    Apesar de também gostar de treinar sozinha, acho que os treinos de grupo com desconhecidos, têm sempre essa magia de nos fazer todos amigos por umas horas. Há sempre histórias e aventuras a partilhar, e a conversa nunca acaba :) Mais um dos encantos das corridas!

    Deixa a miúda crescer mais um bocadinho, que fica em casa dos Avós, enquanto os Pais vão explorar melhor esta serra, inspirados pelos teus tracks todos :)

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  3. Indo com outra pessoa há sempre coisas novas que descobrimos :) Auto-desafio muito fixe o que criaste por ti próprio. Além de desafiar os nossos conhecimentos geográficos, conhecemos novas histórias e cantinhos. Estava a aqui a pensar e já fiz trails em 2 distritos: Braga e Aveiro.

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