As minhas corridas na estrada

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Lamurias

Aviso à navegação: este post contém doses elevadas de queixume e lamurias, avancem por conta própria e risco.

PORRA PRA ISTO!

Farto, farto, FARTO destas merdas de dores e dorzinhas que não há meio de passarem! Desde Arga, altura em que provavelmente atingi um pico na preparação para o UTAX, que parece que abri a puta da caixa de Pandora. Ora é o gémeo direito, depois o gémeo esquerdo que tinha ciúmes, depois a merda do pé que no trabalho achou boa ideia virar-se ao contrário, bastões de carbono trocados por canadianas de alumínio... Três meses sem jeito nenhum de pára arranca nos treinos, provas canceladas umas atrás das outras, objectivos redefinidos, forma a milhas de distancia, moral a descer, peso a subir... BAAAAH!

Eu sei, o corpo humano não é uma máquina e o esforço a mais eventualmente tem que se pagar. Há 3 anos que não tinha um período de paragem de mais de uma semana, calculo que isto seja uma espécie de karma de corredor. Mas porra, já chega!!

Isto tudo conseguiu eclipsar um ano que até Setembro estava a ser perfeito, com boas provas e principalmente muito e bom treino. Se nos primeiros 9 meses tive uma média de 300km/mês, passei a 170 no ultimo trimestre. Até o somatório final ficou nos 3200km, aquém dos 3400 do ano passado. 

Entretanto têm sido muitas as provas canceladas. Mora, Ericeira, São Silvestre e Vicentino já saltaram, agora são os Abutres que estão no limbo. O que me assusta mais é o primeiro grande objectivo de 2016 a aproximar-se a passos largos, o MIUT. Faltam apenas 4 meses e sei, por experiência própria, que terão que ser 4 meses muito intensos para sobreviver novamente à Madeira. Quanto ao segundo objectivo, se tiver sorte falaremos dele a 13 de Janeiro.

O lado positivo é que parecem haver melhorias ultimamente. Vou arrastar-me para aquela luzinha ao fundo do túnel e rezar para que não seja só um frontal com pouca pilha esquecido no chão. Um revés agora era devastador para a moral e para os objectivos do ano novo que se aproxima.

Vamos lá a isto, então.


segunda-feira, 23 de novembro de 2015

I Meia Maratona de Évora - Correr no estado puro.

Este domingo corri a minha segunda prova de estrada do ano. Foi em Évora, a minha cidade portuguesa preferida. Desde que descobri a montanha têm sido cada vez menos as incursões no alcatrão, mas desenganem-se se acham que é por já não gostar. Foi no alcatrão que descobri a minha paixão pela corrida, naquela Meia Maratona de Lisboa, em 2003, onde levei das maiores marretadas da minha vida. Não, eu tenho corrido poucas provas de estrada porque, pura e simplesmente, tenho medo delas!

Partida brutal na Praça do Giraldo
Passo a explicar: eu não vou para estas provas passear. Não contem comigo para essa coisa do "ir em ritmo de treino". Tenho plena consciência que nunca hei-de ganhar nada, mas raios me partam se não deixo tudo o que tenho na estrada! Há muito poucas coisas que se comparem a irmos no limite, com todas as fibras do copo a pedir para parar ou abrandar, com músculos a arder, garganta com sabor a sangue, passar aquela ultima subida, aguentar naquele fio da navalha mais 100, 200, 3000 metros, dum lado a glória, do outro o inferno de ter de ceder, dentes cerrados, braços desconexos, passadas exageradamente largas, vês a meta, olhas para o relógio, mais um pouco e... vocês sabem o resto!

Até. À ultima. Gota.
A meia de Évora está incluída no circuito Running Wonders. Cinco corridas em locais turísticos, património da humanidade. A ideia de aliar a corrida ao turismo agrada-me bastante, pelo menos antes de começar a correr. Tenho que ser sincero, para mim, ao contrário de numa prova de trilhos onde os sítios onde passamos têm uma importância fulcral, na estrada isto só é importante até àquele momento mágico que é o tiro de partida. A partir daí meto a minha "game face" e só uma coisa importa: chegar ao fim o mais depressa possível. 

O tiro de partida foi dado na Praça do Giraldo. Lá estavam os cerca de 2000 atletas, divididos pela meia, mini (10km) e caminhada. Felizmente, os cinco mil anunciados pela organização não se confirmaram, porque nem a Praça nem os dois quilómetros iniciais dentro da parte histórica comportariam tanta gente. Foram dois quilómetros de uma espécie de trail urbano (seja lá o que isso for) que passou pelos espaços mais emblemáticos da cidade. Aqui reside a única critica que tenho a apontar a uma organização que roçou a perfeição. Preferia que após o inicio a prioridade fosse escoar o pelotão imediatamente para as avenidas e se guardasse a incursão mais urbana para o final. As bandas filarmónicas, as tunas, os músicos de rua, os monumentos e as travessas estreitas acabaram por ser abafados pela urgência de zigue-zaguear até encontrar caminho livre para correr. Esse, encontrei-o antes do terceiro quilómetro, quando entrámos nas variantes largas nas quais andámos 95% do percurso. Aí sim, começava a prova.


A meia de Évora não foi uma corrida fácil, tinha bastantes e longas subidas e este dia teve a agravante de estar uma grande ventania. Sim, estou a falar das subidas numa prova de 21.1km com 200d+! Há quem diga que uma prova de estrada com subidas é bom para o pessoal do trail, mas eu não podia estar menos de acordo. Estamos a falar de coisas completamente diferentes. Partindo do principio que vamos a um ritmo muito próximo do nosso limite em plano, uma pequena rampa pode ser tão assustadora como uma parede de 500d+ nos trilhos. Não há gestão de esforço, não há mãos nos joelhos ou parar a meio para recuperar o fôlego. O objectivo é um e só um: chegar lá acima e prejudicar o menos possível o ritmo médio, nem que para isso se chegue aos 200 bpm.

Aqui não dava para fugir do empedrado.
Apesar do percurso ser praticamente todo fora do centro da cidade, a presença de pessoas a apoiar foi constante, como tenho visto em muito poucas provas! Outra coisa que reparei foi o rigorosíssimo policiamento das ruas, a cidade literalmente fechou para esta corrida e é assim que deve ser. No geral, como disse no inicio, foi uma corrida que em termos organizativos esteve praticamente perfeita, apenas com o reparo que referi. Foi a corrida que Évora há muito merecia e será sem dúvida nenhuma um ponto de retorno anual obrigatório para mim. 

Foto do Sérgio Nuno Pontes
A minha prova foi exactamente o que estava à espera, muito aquém do que sou (e já fui) capaz. No inicio do ano, quando soube desta corrida, pensei que seria uma oportunidade excelente de finalmente fazer uma meia a sério, a rondar 1h25. O plano era após o UTAX dedicar-me 100% a ela, mas a porcaria da lesão estragou tudo. Sabia que estava a valer qualquer coisa à volta de 4:30 min/km e foi para esse ritmo que corri. Acabei com média de 4:24 e 1h34 de prova. Nada de especial, mas acreditem que foi TUDO o que tinha, por isso fiquei muito satisfeito.

Das medalhas mais bonitas que já recebi!
Tinha muitas saudades de correr na estrada. Confesso que me faz confusão o pessoal do trail que diz detestar estrada. Eu adoro correr, ponto. Não acho uma seca correr na estrada, simplesmente porque correr nunca será uma seca! Estas provas populares, para mim, representam a corrida no seu estado mais puro. Não há elementos externos a influenciar, há o teu corpo e a maneira como o preparaste. Ele não te vai entregar nem mais um grama do que lhe deste nas semanas anteriores, mas vai compensar-te o trabalho a 100% e isso para mim é lindo!

domingo, 15 de novembro de 2015

VII Trilhos de Casaínhos - Desilusão completa.

Depois da experiência ultrajante e enfurecedora que foi correr em Casaínhos o ano passado, quando seguia no grupo da frente e me perdi (e com isso perdi também, muito provavelmente, a hipótese de me qualificar para os mundiais de trail) e ainda assim acabei por passar uma excelente manhã, decidi que voltaria este ano. Desta vez ia provar, sem espaço para dúvidas, que aquilo não presta mesmo pra nada!


Infelizmente a coisa começou a correr mal assim que saí de casa com a família. O dia estava limpo e fresco. Hm.. "Com certeza lá em Casaínhos está a chover!". Mas não. Estava bom. 

Assim que chego e saio do carro, quem é que encontro? Aquele gajo que diz que só é maratonista quem faz sub 3 horas? O outro que diz que os ultras são peregrinos de Fátima porque andam nas provas, e que os que correm é porque estão dopados? Não, nada disso. Encontro o Paulo, um leitor do blog que se apresentou simpaticamente, o Ricardo Pebre, o famoso Espanhol (Nuno España), o Sommer e o Gonçalo, com quem tive um dos melhores treinos de sempre.... Enfim, só pessoal impecável! Estava a ficar difícil. Mas tinha a certeza que assim que começasse a prova a coisa ia descambar!


A minha cara de consternação aquando da partida
Lá arrancámos às 10:45 em ponto. O percurso foi muito alterado em relação ao ano passado, por isso corro sempre com a sensação que estou a conhecer os sítios pela primeira vez. E como foi bom conhecer aqueles trilhos abertos recentemente, limpos e rápidos, pela primeira vez! Ainda por cima, só para me irritar ainda mais, as marcações estavam perfeitas! Subimos os 3 primeiros quilómetros e descemos os 4 seguintes por single tracks muito variados. Em várias descidas, inconscientemente, sorria de prazer. Mas logo a seguir lembrava-me que estava ali numa missão!



A grande parede da prova este ano surgiu aos 7.5km. E que boa parede! Subi-a com as mãos nos joelhos e com a adrenalina extra de ir a olhar por cima do ombro à procura de um esquilo anafado que me tinha desafiado a uma prova dentro de uma prova, com a humilhação extrema do vencido ser oficialmente considerado um ovo podre. Subi com sabor a sangue na boca (já que falamos de esquilos..), a escorrer suor e pulsações no limite. Já perto do fim lembrei-me de já ter passado por um abastecimento e que, agora que estava com sede, de certeza que não havia nenhum lá em cima! ...Mas havia. Raios.

Metade da prova estava feita e até agora não tinha nadinha a apontar. Uma desilusão. Mas não perdi a esperança, com certeza a partir dali os trilhos iam ser substituídos por estradões, os voluntários deixariam de ser simpáticos (com alguns inclusivamente a tratarem-me pelo nome, como a Cláudia e o Jorge, vejam lá o desplante!), as marcações dos km deixariam de estar certas ao metro, as descidas passariam a ser chatas e as subidas curtas!

Mas não. Pelo contrário. Ainda ficou melhor! Trilho atrás de trilho, mais uma subida trabalhosa, voluntários em cada esquina, abastecimentos nos sítios certos, descidas técnicas e divertidas... Enfim... 

Praticamente dei a manhã por perdida quando passei a meta e fui recebido pela Sara e a Mel mas também por aplausos e sorrisos de pessoas da organização.

Com cara de poucos amigos na chegada
Saí de casa com o objectivo de confirmar que o facto de no ano passado ter sido das provas que me diverti mais tinha sido só um acaso, mas falhei redondamente. Mais uma vez acabei a prova em Casaínhos satisfeito! Uma desilusão..que me façam isto uma vez ainda vá, agora duas...

Pouco tempo depois chegou o Esquilo que já tresandava a ovo podre, mas que ainda assim se juntou a nós para o almoço. 


Ah! O almoço! É isso, de certeza que não presta pra nada! Pior, não só o almoço vai ser mau como o Espanhol afinal será um gajo horrível, o Sommer vai estar tão lixado que vai ser antipático e o ambiente será péssimo!! Só isso poderia estragar a manhã perfeita e confirmar os meus receios!

Desilusão, mais uma vez.. O almoço estava óptimo, o Espanhol é fixe e o Sommer continuou a ser dos gajos mais porreiros que conheci através do trail.

Bah...

O melhor é voltar para o ano.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

II Trail Vila de Nisa (30km)

Eu adoro treinar. A sério! Gosto de seguir um plano e saber que se fizer bem o meu trabalho vou receber uma recompensa. Mas, ao contrário dos puristas, o treino para mim não chega, preciso de recolher essa recompensa. Já muito foi dito sobre a diferença entre ir para as provas passar um bom bocado ou competir, eu não consigo separar as duas coisas. Podia pegar na família, ir passar o fim‑de‑semana ao alto Alentejo e aproveitar para dar uma corridinha, mas não é a mesma coisa. Gosto de estar na linha de partida. Gosto de olhar para trás e não ver ninguém, gosto de perseguir o gajo que vai 200 metros à frente e não sabe descer e adoro passar pessoas nas subidas. Dar tudo o que não daria num treino, sentir aquela adrenalina de recta da meta que nos faz esquecer as cãibras, ser recebido pela família e passar o pórtico de sorriso nos lábios! É um vicio tão grande como a própria actividade de correr e é incomparável a qualquer treino, por mais perfeito que este seja. Foi por isso que, ressacado, decidi inscrever-me no II Trail Running Vila de Nisa. 


A travessia do distrito de Santarém para Portalegre foi feita no próprio dia, na companhia do meu companheiro de equipa Joel e dos meus companheiros de aventuras Vasco e Rita. Tinha decidido com a Sara que, para poupar dinheiro, desta vez iria sozinho, por isso foi com surpresa e alegria que a meio da viagem recebo uma sms dela a desejar boa sorte e a avisar que estariam na meta à minha espera :) há coisas que o dinheiro não paga...

Eu e o Joel com a nova camisola do clube. Espectáculo!
Levantado o dorsal, equipamento preparado, pedi a um amigo um pouco de pomada de aquecimento para colocar no sítio onde tive a lesão depois de Arga. Foi a primeira vez que usei aquilo, talvez por isso tenha achado desnecessário lavar as mãos no fim e, já a correr, limpar o suor da testa, permitindo que a pomadinha de aquecimento me escorresse para os olhos durante as 4 horas seguintes. Sim, foi tão estúpido quanto soa...

Obrigado Google.
A partida foi dada às 9 em ponto para os cerca de 100 atletas que alinhavam à partida do trail longo (30km). Tenho, aliás, todos temos, aquele hábito de quando se vai a um sitio desconhecido fazer uma prova de montanha olhar à volta à procura dos montes mais altos. Em Nisa foi uma missão fácil, havia um que se destacava muito de todos os outros. No topo, melhor do que qualquer fita perfeitamente colocada a indicar o caminho, quase como um sinal gigante em Neon a dizer "vais passar aqui", lá estavam elas: as antenas! No trail há duas certezas, em caso de dúvida é para subir e se há antenas vais lá passar!

Até lá chegarmos tivemos que percorrer cerca de 5km de estradões com ligeiras inclinações. Bons para correr, aquecer e conseguir deixar de pensar de 5 em 5 segundos "está a doer?". A paisagem foi mudando muito à medida que avançávamos e nos aproximávamos do sopé da serra, a tal que se via à distancia. Esta atingiu a sua plenitude quando atravessámos uma linha de água na sua base, aos 9km. Agora sim, ia começar.


Como podem ver no perfil, a prova tem 9km iniciais praticamente só a descer, depois 8km finais onde se sobe ligeiramente. Quer dizer que os 1500d+ estão basicamente concentrados nos 13km intermédios. É precisamente nestes 13km que está a alma desta prova. Um Alentejo diferente que se explana em paisagens graníticas com muita vegetação e uma elevação até perto dos 500m. Os estradões foram substituídos por trilhos que serpenteavam na encosta à medida que nos elevávamos centenas de metros acima da planície alentejana, que se estendia até ao infinito. Depois de uma primeira subida de 150m verticais descemos por um trilho rapidíssimo até à aldeia de Pé da Serra, onde atacaríamos a maior subida da prova: uma parede de 250+ percorridos em 1km. 

Gosto destas subidas! Cada vez gosto menos daquelas subidas em estradão tipo corta fogo. Gosto de subidas que dêem trabalho, que se mostrem lentamente, que surpreendam depois de cada curva e não nos deixem adormecer a olhar para as sapatilhas. 

Marco geodésico no topo da subida. Outro ponto de passagem obrigatória no trail!
Chegados ao fim da subida havia o segundo abastecimento, muito completo, como todos os outros. Mas o melhor dos abastecimentos de Nisa não era o isotónico ou os salgados, eram os voluntários! Pessoas impecáveis, simpáticas e prestáveis, espalhadas por inúmeros pontos do percurso! Foi provavelmente a prova onde vi mais pessoas por quilómetro, não havia um único cruzamento que não estivesse vigiado. Não que fosse preciso, a marcação estava irrepreensível. 

Se esta subida tinha sido o prato principal, a descida e quilómetros seguintes foram a sobremesa de uma refeição de luxo. Foram quilómetros de trilhos apertados, limpos, abertos à mão. Descidas brutais, aos ésses, super divertidas. Há pouco descrevi-vos a minha subida ideal, já a descida aproxima-se muito das que apanhei em Nisa. Longa, técnica e com muitas curvas e contra curvas. Um contraponto perfeito àqueles estradões que descem a pique, onde a única preocupação é não massacrar demasiado as pernas a travar.  Muito, muito bons, aqueles trilhos! O percurso manteve-se espetacular até à Sra. da Graça, no topo da ultima subida de destaque da prova, que acabou numa estrada em calçada que me fez lembrar muito a subida a Marvão do UTSM. 

Sra. da Graça, lá em cima
Estávamos no km 22, ultimo abastecimento. A partir daqui o percurso tornou-se um bocado desinteressante, de volta aos estradões e as tais subidas e descidas que não gosto. Já foi em contagem decrescente de quilómetros que me arrastei até ao fim da prova, de volta a Nisa onde estava a minha comitiva de recepção!

Dá para ver as duas lá atrás, vieram a correr atrás de mim :)
Gostei desta prova. Aqueles 13km intermédios valem o regresso todos os anos! Organização imaculada, voluntários espectaculares, trilhos abertos de fresco, um percurso muito interessante num local inesperado. Aconselho toda a gente a experimentar para o ano! Infelizmente, tenho uma coisa a apontar. Algo que nunca falei aqui no blog, talvez por fazer parte da organização de uma corrida e saber que os custos de uma prova destas, ainda por cima sem patrocinadores, podem ser muitíssimo mais elevados do que as pessoas pensam. Mas os 15€, que apenas me deram direito ao dorsal e um íman como prémio de finisher (quando mo deram na meta pensava que era um daqueles papeis que diz logo o tempo e classificação), sem tshirt, sem almoço, sem um queijinho de Nisa (!!!), pareceu-me exagerado!


Quanto à minha prestação, dizer que foi sofrível é o mínimo, apesar do 31º lugar. Não tive pernas para a prova e acabei derreado, pela primeira vez com cãibras até quando tentava correr a direito. Disse no início que gostava de competir, e esta prova voltou a lembrar-me como o treino é importante. Não desfrutei da prova como gostaria e várias vezes senti-me frustrado por não estar a render. Depois de um mês parado é normal que assim seja, pelo menos estou satisfeito por a lesão não se ter manifestado! Felizmente o resultado foi sentir-me ainda mais motivado para voltar aos níveis que atingi na preparação para o UTAX. Porque há sempre algum gajo que pode ser ultrapassado numa subida!


Sessão de crioterapia que me soube pela vida!
Ah, a seguir fomos os 3 almoçar. Não nos deram nenhum, mas raios me partam se saio de Nisa sem comer um queijo! :)

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

O segundo post.

Estou fora do UTAX.

Sem dramas. O pouco entusiasmo que se gerou depois da corrida de segunda feira desvaneceu-se assim que pus um pé fora da cama na terça de manhã e voltou a doer-me atrás do joelho. Nesse momento decidi atirar a toalha ao chão e focar-me no que interessa agora: tratar disto e voltar ao mais importante de tudo, que é conseguir correr todos os dias.

Apesar de detestar desistir e virar a cara a um bom desafio, estou muito tranquilo com esta decisão por duas razões. Primeiro porque este ano já tive a minha quota de jornadas épicas com desfechos felizes. Se fosse antes do MIUT neste momento estaria a ponderar uma operação de urgência para colocar um tendão de carbono. Segundo porque a lesão aconteceu numa prova que mereceu entrada directa para o meu top 3 de corridas, o GTSA. Não senti que o muito bom treino que fiz em Agosto e Setembro tenha sido desperdiçado. Sinceramente, algumas daquelas madrugadas em Sintra ou em Monchique deixaram-me tão satisfeito como terminar uma prova, e fazer Arga sem dificuldades de maior permitiu-me desfrutar a 100% de uma corrida que, tal como o MIUT, estão noutro nível.

Nunca organizei a minha actividade como corredor por "épocas desportivas". Acho que isso não se aplica a gajos como eu, que vão fazendo as coisas ao sabor do vento. Por isso isto é o mais parecido que eu tenho de carregar no reset e preparar-me para o que aí vem. E sem vem coisa boa... :) 

A todos os que lá vão, saibam que vou torcer por vocês. Não vos digo nada de novo ao avisar para a jornada dura que vai ser. Invejo-vos, mas principalmente admiro-vos. Uma palavra especial para os meus companheiro João e Francisco, que tal como no Louzan me iriam acompanhar em mais um fim de semana em Gondramaz, vão embarcar na aventura da vida deles nos 52km do TSL. Vou estar a seguir cada passo vosso, como já fizeram comigo. 

Filipe Torres - DNS




segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Vou à luta!!

Trouxe de Arga muito boas recordações. Trouxe mais uma conquista, trouxe confiança, trouxe uma nova serra e novos horizontes. Infelizmente também trouxe uma convidada indesejada: uma lesão. 

Decidi há algum tempo que ia evitar falar de lesões nos posts sobre as provas, não quero que soe a desculpa para o que quer que seja, mas desde os 5km de Arga, depois da primeira subida, que corri com bastantes dores numa perna, ao ponto de ter consciência de que se me demorasse de mais nalgum abastecimento provavelmente não conseguiria voltar a correr. Pois bem, como esperado, no dia seguinte mal conseguia andar e iniciei então o calvário que me trouxe até este post.

Três semanas = 3 corridas e um total de 19km. Serão assim as 3 semanas que vão anteceder a minha participação no UTAX este sábado, provavelmente a prova mais exigente que vou participar até hoje. Adiei a decisão de participar até à pouco, depois de uma volta de 7km que consegui cumprir praticamente sem dores. 

Tinha dois posts em mente para hoje, este e um segundo, intitulado "DNS". Esperava escrever a opção "vou à luta!!" com um grande entusiasmo, mas a verdade é que este se esvaiu no título. Estou completamente e terrivelmente acagaçado! 

Nem sei o que vos diga... Sei que provavelmente é uma decisão parva. Vai ser difícil. Muito, muito, muito difícil. Mas vou à luta... Vou começar devagar, vou subir devagar, vou poupar-me nas descidas, vou sofrer nas subidas, vou arrastar-me na lama se for preciso, mas vou lutar. Disso podem ter a certeza.

Vá, ainda sobrava um bocadinho de entusiasmo para a escolha da imagem :)

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Grande Trail Serra d'Arga (53km) - A prova (quase) perfeita.

Não queria começar pelo fim, mas a descarga de adrenalina no domingo foi tão grande que o vou dizer já aqui: o Grande Trail Serra d'Arga é uma prova perfeita! Quer dizer..quase! Bem, fiquem por aí que vou concretizar.


Desde que chegámos ao Minho, no sábado depois de almoço, um nevoeiro cerrado não deixava que se visse mais que dois palmos à frente do nariz. Foi assim em Caminha, o que impediu de apreciar a paisagem da avenida junto ao Rio Minho e ver Espanha na outra margem, foi assim em Vila Praia de Âncora, onde ficámos na confortável Albergaria Quim Barreiros (é mesmo dele!) junto à praia, e continuou assim em Dem, pequena aldeia no sopé da Serra d'Arga, local de partida do GTSA. 

Centro de Caminha
Na manhã de domingo em Dem a temperatura era perfeita, a rondar os 17º. Cheguei um pouco em cima da hora com uns companheiros que estavam na Albergaria, a quem cravei boleia no próprio dia. Na rua da partida já estavam os cerca de 1000 atletas das provas de 53 e 33km. Passei pelo controlo zero (ouvi pessoas a dizer que tiveram penalizações de uma hora por não terem a manta! Não foi por falta de aviso...), fui até perto do pórtico e desloquei-me para um passeio, faltavam 15 minutos para a partida. A quantidade de caras conhecidas é impressionante, toda a elite lá estava, além de dezenas de caras que já vou conhecendo doutras corridas. O GTSA é uma espécie de encontro nacional do trail e ninguém quer faltar à festa!

A partida foi dada às 8 em ponto, depois de uma contagem decrescente a acompanhar as 8 badaladas do sino da igreja. Seguiu-se uma volta de 2km por Dem, de forma a dispersar o pelotão antes de enfrentarmos a primeira batalha. Reza a lenda que são 5, as batalhas de Arga, mas eu posso garantir-vos que não. São 6. E foi precisamente naquele ultimo round de uma grande luta que a Serra praticamente me derrubou. Lá chegaremos.


Foi ainda dentro da névoa que começamos a subida que nos levaria cerca de 500m acima de Dem. Com o pelotão ainda muito compacto seguíamos a bom ritmo pelos caminhos de granito que nos haveriam de acompanhar até ao fim da empreitada. Esta é logo a primeira diferença de Arga para o resto das provas. Aqui muito raramente vemos trilhos abertos ou estradões, quase a totalidade do percurso é feito por caminhos com rochas de granito arrumadas à mão.

Não precisámos de subir muito até estarmos por cima das nuvens. É sempre uma visão espectacular quando isso acontece, mas nunca tinha ficado tão impressionando como naquele dia. Ali estava todo o nevoeiro dos últimos dias, um manto branco denso, rasteiro que cobria tudo menos as montanhas. Mas o que me impressionou foi olhar para o horizonte e ver cumes de montanhas até perder de vista! Em 360º só se via branco e pequenas ilhas castanhas que se erguiam imponentemente. Uma coisa doutro mundo, arrepiante!

Esta fui eu que tirei, ainda com o pelotão muito junto, na Pedra Alçada, topo da primeira subida.
O primeiro round estava vencido. Chegámos lá acima com 5km, pelo mesmo caminho que haveríamos de descer no final da prova. Fiz as contas e, tirando a volta inicial por Dem, a descida teria 3km. Ou seja, a minha prova supostamente acabaria aos 50km, depois era "só descer". Como estava enganado...

Apercebi-me rapidamente depois de dobrar este cume o que se veio a confirmar ao longo da prova. Arga tem muito desnível positivo, 2700m segundo o meu relógio, mas aqui, mais do que em qualquer outro lugar em que tenha corrido, não se pode menosprezar o desnível negativo. As descidas eram quase sempre feitas pelos tais caminhos em granito. Imaginem uma espécie de calçada rudimentar, com grandes rochas de granito espalhadas de forma completamente heterogénea. Sem dúvida que tornam a subida mais confortável, mas a descer estamos constantemente a saltitar de rocha em rocha com a concentração no máximo para não torcer um pé. É impossível (pelo menos para mim) correr ali com um ritmo estável, estamos sempre a ajustar a trajectória, a saltitar, a travar, a desviar... É um esforço brutal para as pernas e exige concentração máxima. De facto, depois de terminar a prova, na minha opinião o mais difícil de Arga não são as subidas mas sim as descidas!

Caminhos de granito (retirado do blog "Corre como uma menina")
O inicio da segunda batalha coincidiu com a entrada numa face diferente da Serra. De repente as paisagens verdes, despidas e pontuadas por blocos de granito, foram substituídas por um bosque cerrado. Corríamos agora em cima de uma camada de caruma que devia ter uns 50cm de altura, parecia um autentico colchão que se deformava com os nossos passos. A subida foi-se mostrando tranquilamente. Serena, de segmento em segmento, de ponto de água em ponto de água, nunca demasiado inclinada e sempre pontuada por partes boas para correr. Foi só quando saímos da linha das árvores e voltámos ao granito que me apercebi que já tínhamos subido muito. Quando chegámos ao topo da subida e nos preparámos para uma pequena descida que antecedia o 3º round aconteceu-me uma coisa que nunca me tinha acontecido numa prova: arrepiei-me. 

Era isto que se via, foto do meu telemovel.
É impossível descrever por palavras, ou mesmo com uma fotografia, o espectáculo que a Serra nos proporcionou ali. O manto branco denso estava a dissipar-se, já só restava uma névoa quase fantasmagórica rompida pelos cumes de montanhas que se prolongavam até ao infinito. Nunca, nem mesmo no MIUT, fiquei com uma sensação de pequenez como ali. É verdade que nunca fiz uma grande prova na Estrela, já para não falar de maciços como os Alpes ou os Pirinéus, mas foi em Arga que tive a mais distinta sensação de estar em montanha a sério.

Foi a sorrir e arrepiado que fiz a descida até Arga de Baixo, base da terceira subida, onde estava situado o segundo abastecimento (não parei no primeiro). Os abastecimentos do GTSA são uma lição para todos os que dizem que gajos como eu não se podem queixar dos abastecimentos, e que estes só devem ter o mínimo, que o resto são mimos, e que lá fora não há nada disto, devemos ser autosuficientes, bla bla bla.. O GTSA é organizado por um dos melhores atletas de trail do mundo, é talvez a prova mais conceituada em Portugal e tem dos abastecimentos mais completos e variados que já apanhei. Ali não se pensa para os 10% da elite, pensa-se para os outros 90%. Além de terem uma localização e distribuição perfeita, tinham uma variedade como nunca vi. Já li por aí pessoas a queixarem-se que haviam poucos bidons para isotónico o que provocava algum tempo de espera. Epah, pessoal, não vamos exagerar...

Porto do espeto e sopa, aos 33km

Havia coisas como "gelatina com BCAA", mas eu gosto mais de mousse de chocolate
Tal como na segunda subida, nem dei por esta terceira passar. Ia com muito ânimo, a sentir-me muito bem fisicamente. O andamento era bom, os caminhos eram perfeitos, a paisagem distraía... Estava a aproveitar esta corrida como nunca. A descida foi pelos habituais caminhos de granito. Mais uma para moer os músculos. Tentei sempre resguardar-me nas descidas, nesta altura nunca ultrapassava ninguém a descer, tinha perfeita noção que mais tarde iria pagar se me excedesse. 

O terceiro abastecimento coincidia com o inicio da subida à Senhora do Minho, ponto mais alto da Serra d'Arga com 800m. Antes da prova, meti na cabeça que esta seria a subida mais difícil, por isso poupei-me até ali, sempre num ritmo confortável. Não sei onde fui buscar esta ideia, mas achava que depois desta subida a prova estaria concluída, mesmo faltando ainda quase metade do desnível por vencer. Estava redondamente enganado, mas lá chegaremos.

Ainda com o pensamento que a seguir era canja, dei tudo nesta subida. Posso dizer-vos: foi a subida que mais gostei de fazer até hoje. Tinha as pernas muito frescas e parecia que não tinha nenhuma limitação física a segurar-me. Demorei um pouco menos que meia hora a chegar lá acima e pelo caminho passei umas 20 pessoas! Acho que nunca tinha passado tanta gente numa subida, normalmente sou o gajo que se senta nas rochas a deixar os outros passar :)

Parte final da subida à Senhora do Minho. Foto do Nuno Silva no KV, retirado do Top Máquina!
Lá em cima fui recompensado por uma instalação com 4 ou 5 torneiras de água colocadas ali pela organização. O calor já apertava, praticamente tomei banho ali. Seguiram-se cerca 2km de corrida confortavel num planalto antes de iniciarmos a descida mais longa da prova. Estes 2km foram optimos para esticar as pernas. Ligeiramente a descer, trilhos em terra macia, corríamos quase sem pensar. Estava com a auto-estima nos píncaros. Já tinha ultrapasssado 4 das 5 (ou seriam 6) subidas do GTSA, ia com um ritmo muito abaixo do que esperava e, mais importante de tudo, sentia-me fresco como uma alface! "Já está!!" pensei eu. "És pouco estúpido és!!!" penso eu agora.

Fotografia no tal planalto.
Metade da grande descida foi pelos habituais caminhos. Desta vez, ainda embalado por uma auto-estima claramente exagerada, decidi abrir um pouco a passada e acelerei. O meio da descida, aos 33km, coincidia com a chegada à Montaria, meta da prova de 33km. Quando parei no abastecimento apareceram umas amigas que já não me diziam nada há algum tempo, a Perna Direita e a Perna Esquerda. "Aaaah, afinal estão cá! Como é que é? Já estão cansadas?? Então mas...não se estão a divertir tanto como eu??" penso que elas responderam "És pouco estúpido és!!!", mas não tenho a certeza.

Os 5km seguintes de descida, até ao Vale do Âncora, foram talvez os menos interessantes do percurso, se os 53km chegavam a ter 4km de estradões e estradas, 90% estavam concentrados nesta secção. Foi no entanto aqui que encontrei a minha excelentíssima esposa, que se perdeu a caminho da Senhora do Minho :)


Entrámos agora numa nova fase da prova, que será particularmente decisiva no meu resultado final: o Vale do Âncora. Foram 5km de subida sempre junto ao Rio Âncora, embrenhados num bosque muito fechado, com terra preta e húmida, muitas raízes, muito sobe e desce, paredes para escalar seguidas de descidas de rabo, ora dum lado ora do outro do Rio. Foi de longe a parte mais técnica do percurso e de repente, a envolvente que era estupidamente bonita, deixou de me chamar a atenção. Sentia as pernas cada vez mais presas e a queixarem-se no fim de cada obstáculo, e se eram muitos! Comecei a olhar para o relógio insistentemente, e isso nunca é bom sinal. Os quilómetros teimavam em passar, e eu só queria sair dali, voltar ao granito que pelo menos me deixava subir de maneira estável! Não me interpretem mal, foi das zonas mais bonitas de toda a prova, mas já só queria sair dali!

Foto da Sara, dá pra ver o tipo de piso.
Foi só quando saímos do meio das árvores que me apercebi que já tínhamos subido bastante. Esta primeira parte da ultima subida tinha sido devastadora para mim, a diferença que 5km fazem! Atingimos a marca de 44km no topo. Faltavam 9km para terminar a prova, é já ali! Quer dizer, é já ali mas primeiro tens que descer 150m verticais, só para os voltar a subir e meter-lhe mais 300 em cima! Esta é a parte mais sádica de todo o percurso. Quando acabamos de descer os 150m e chegamos ao ultimo abastecimento na base da descida conseguimos ver Dem e até dá para ouvir o speaker lá ao longe, era só descer mais uns metros e estávamos no paraíso, mas não, vais mas é subir aos 760m outra vez que te lixas!

Foto que a Sara tirou, era aqui que andávamos.
A subida final, o 6º round, o truque secreto que o Carlos Sá preparou para os mais distraídos, levou-nos novamente para as paisagens graníticas da Serra. Nesta altura um novo inimigo disferia golpes implacáveis: o calor. Desde o rio que sofria com o calor. Parava em todos os pontos de água e riachos para despejar água pela cabeça e tronco. Nesta altura batia-nos nas costas e estava mais forte que nunca. Comecei a debater-me com ameaços de cãibras constantes, assim como todos os companheiros que por ali andavam. A meio da subida há uma pequena descida que só consigo fazer a passo e muito hesitante. Quando entramos num estradão já muito perto do cume, o GTSA manda-nos um uppercut de direita que quase nos derruba. Uma ultima escalada, agora mais selvagem, sem caminhos, só com blocos gigantes de pedra que nos faziam levantar as pernas a ponto de se soltarem todos os músculos! 46, 47, 48km... Olhava para o relógio de 100 em 100 metros e aquilo não andava. À minha volta ia uma dezena de companheiros todos eles em dificuldades iguais, a Serra não é selectiva. Um ultimo esforço, uma ultima tentativa de soltar as pernas, e estávamos no km 50, de volta ao topo da primeira subida, na Pedra Alçada!

Pedra Alçada - Tirado do Google
Lembram-se de vos ter dito que estava redondamente enganado quando achava que a prova acabava aos 50km? Pois, quando cheguei lá acima e me mentalizei da brutalidade de descida que me esperava apeteceu-me dar um auto-calduço, mas daqueles mesmo fortes! Desde que corro em montanha demorei pouco tempo a perceber que as descidas podem ser tão ou mais massacrantes que as subidas, mas nunca senti tanto isso na pele como esta ultima descida de Arga. Tentava soltar-me, mas parecia um completo entrevado a descer. O saltitar das primeiras descidas tornara-se num espectáculo degradante, só me faltava um andarilho. Foi só a 500m da meta, agora já em estradão, que consegui soltar as pernas. Agora sim, 7h50 depois de partir, de volta a Dem, estava feito!

Foto da Sara, à chegada
Inscrevi-me no GTSA como um complemento de treino para o UTAX, mas para mim sempre foi muito mais que isso. Estava muito ansioso por participar nesta prova e a realidade superou em larga escala a expectativa. A prova tem de tudo, boas subidas, boas descidas, trilhos técnicos, paisagens brutais, abastecimentos perfeitos, marcações irrepreensiveis e um ambiente ímpar!

Mais morto que vivo (foto da Sara)
Ah, é verdade, querem saber o porquê do QUASE perfeito, não é? Bem, além do "quase" funcionar como um clickbait que faria inveja aos jornalistas do Correio da Manhã, encontrei um ponto negativo no GTSA: é longe pa caraças de Almeirim! Porra, 400km? Querem uma experiência extrema? Façam uma viagem de 400km de carro depois de correrem o GTSA! Ver se a organização faz alguma coisa em relação a isto, é uma vergonha!

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Como quem não quer a coisa...

E de repente, assim como quem não quer a coisa, falta apenas um mês para o último grande desafio de 2015, o Ultra Trail Aldeias do Xisto com os seus 112km e 6000D+. Será a minha quarta tentativa de superar os 100km este ano, e se conseguir serei totalista do Circuito Nacional de Ultra Endurance da ATRP.


A Serra da Lousã, mais propriamente a UTAX, traz-me muito boas recordações. Foi lá que fiz a minha primeira prova de montanha, em 2012, nos então 30km do Trail Serra da Lousã, e voltei em 2014 para os 45km da mesma prova, naquele que foi sem dúvida dos melhores percursos que já fiz. Na verdade já apanhei de tudo nesta Serra, desde a aventura épica dos Abutres a um quase KO técnico no Louzan Trail. Todas provas muito diferentes, não só no conceito mas porque a altura do ano em que são realizadas assim o possibilita. O denominador em comum é a fantástica Serra da Lousã, onde aparentemente é quase impossível escolher um mau percurso. 


Ao sobrepor os percursos da UTAX deste ano com o TSL do ano passado, Abutres e Louzan, constato que já devo ter passado por 60% dos sítios, incluindo grande parte dos Abutres, quase a totalidade do TSL e nem tanto o percurso do Louzan Trail. Curiosamente, e para espanto meu, uma prova com 112km na Lousã não sobe ao ponto mais alto da Serra, o Trevim! Isto parece ir de encontro a uma ideia que tenho desta organização: não é preciso fazer o percurso mais difícil possível, é mais importante que este faça sentido! Foi essa a impressão que fiquei no TSL, um percurso muito equilibrado e interessante. 


Precisamente por já conhecer algumas partes do percurso, e principalmente por conhecer a Serra da Lousã, há uma coisa que tenho a certeza que não vou encontrar: facilidades. Vai ser difícil, muito difícil. Não espero que seja mais fácil que o MIUT, por exemplo. Vai ser muito duro fisicamente mas também psicologicamente, já que no MIUT tínhamos o objectivo de atravessar a ilha e aquilo é mesmo grande, aqui vamos andar a "encher chouriços" (não no sentido depreciativo) numa Serra que não é assim tão grande. 

Quanto ao meu treino, e ainda com 4 semanas pela frente, confesso que me sinto bastante bem e confiante, melhor que antes do MIUT. Fui-me muito abaixo em Junho/Julho, logo a seguir ao UTSM, e nessa altura ainda pus seriamente a hipótese de passar dos 112 para os 50km, mas o tratamento de choque de Agosto deu resultado e está a ter seguimento em Setembro. Tenho posto mais quilómetros, mais desnível e principalmente mais horas em cima das pernas. Para muito têm contribuído os treinos na Serra de Sintra, sempre com um mínimo de 40km e 2000D+. Vale bem a pena a viagem madrugadora desde Almeirim!

Entretanto tenho um testezinho pela frente, uma provazita inofensiva chamada GRANDE TRAIL DA SERRA D'ARGA! :O Vai servir como ultimo grande aperto antes da UTAX (ficam a faltar 3 semanas de descompressão) e ao mesmo tempo um teste, já que desde 1 de Agosto (Óbidos) que não faço nenhuma prova. Das duas uma, ou saio de lá com a confiança em alta ou passo três semanas com pesadelos!

Quanto a Arga, há a assinalar o seguinte facto: vou ficar alojado na Albergaria Quim Barreiros. Estou agora à procura do restaurante Marante para jantar e da pastelaria Emanuel para o pequeno almoço.

...pronto, podem parar de rir.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Ultra Trail do Manel

Apesar de o conhecer há alguns meses, nunca me encontrei com ele. No entanto, o Manuel, ou Manel, é uma daquelas pessoas que não é preciso conhecer há muito tempo para saber que vai ser uma peça central na minha vida. Também ele já se iniciou na corrida, fez o primeiro trail em Óbidos, ainda acompanhado é certo, mas já temos combinado embarcar numa Ultra aventura lá para Março do ano que vem. Parece-me que vai ser épico, a aventura de uma vida! O Manel é esse tipo de pessoa, das que nos mudam a vida. Parece-me que vai ser ele que finalmente me convencerá a treinar de madrugada! 

Falo-te agora directamente, Manel: demora o teu tempo, gere o esforço. Estás prestes a começar a ultra maratona de uma vida, e eu vou estar sempre do teu lado, como a equipa que vamos ser. Encontramo-nos daqui a uns meses, 5 ou 6, vai passar rápido! Até lá, eu, a mãe e a mana vamos ficar aqui, ansiosos por te conhecer!


Imagem escolhida ao acaso, só para não spoilar o texto :)



segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Meu querido mês de Agosto.

Ok, vamos tirar isto da frente: uuuuh um mês sem cá vir, bla bla bla, é uma vergonha, bla bla bla, nunca mais faço isto, bla bla bla, peço desculpa aos milhares de quarentidoizódependentes etc etc etc.

Pronto, vamos ao expediente!

Não gosto muito de fazer posts sobre os meus treinos. Não que não me apeteça, mas acho que ninguém aí desse lado tem muito interesse, por isso tenho restringido os posts às crónicas das corridas. Mas como sou um gajo egocêntrico e já tinha saudades de escrever aqui, decidi quebrar a regra e escrever um interessantíssimo POST DOS TREINOS!

Lembram-se quando há uns posts atrás tinha dito que estava acagaçado com a minha forma e a perspectiva de participar nos 112km da UTAX? Disse na altura que o mês de Agosto era o do tudo ou nada, que alguma coisa tinha que mudar ou não valia a pena lá ir. O mês começou de maneira perfeita, no Nocturno de Óbidos. Senti-me sempre bem e fiquei muito satisfeito com a minha prova. O plano era participar a meio de Agosto no Ultra Rocha da Pena, mas soube-me tão bem correr à fresca em Óbidos que tive miúfa do calor e desisti de participar. No entanto, Agosto era o mês do vai ou racha, e se não rachava na Rocha tinha que rachar nos treinos, mais concretamente nas duas semanas de férias que tinha no fim de Agosto!

Estas não podiam ter começado de maneira melhor. ...nem mais cedo! Primeiro dia de férias, despertador para as 4 da manhã, siga para a Serra de Sintra! O plano era fazer um longo de 50km, a seguir um percurso disponibilizado pelo Sommer (Sr. Ribeiro), que me fez companhia a mim e a um amigo nos primeiros 15km. Aí juntou-se outro amigo que nos acompanhou nos próximos 25km. Acabaram por ser 40km, 2000D+, em cerca de 6 horas. Pronto, este foi o registo factual. Agora deixem-me dizer-vos o que realmente interessa: Sintra é brutal! Que sítio incrível! Será que vocês, pessoas que vivem em Lisboa e arredores, sabem a sorte que têm? Não, melhor, será que nós, portugueses, sabemos a sorte que temos por ter sítios como Sintra à distancia de uma viagem de carro? Que sitio perfeito, tem de tudo! Foi brutal ver o nascer do sol, passar frio de madrugada enquanto subíamos ao Castelo dos Mouros, assar ao sol na descida da Peninha, parar na Pedra Amarela para comer um sandes descansado enquanto via a paisagem, curtir uma descida de Downhill como se fosse um puto de 5 anos a chapinhar numa poça de água... Sem abastecimentos, sem marcações, sem ultrapassagens ou tempos limite, as 6 horas passaram e não dei por elas. Vou voltar, de certeza. 

Sande de Presunto na Pedra Amarela
Domingo era dia de rumar a Quarteira, onde passaria as próximas duas semanas. O pior sítio do mundo para levar os treinos a outros nível, dizem vocês. E têm toda a razão, mas eu tinha um trunfo chamado Hugo Sá! Lembram-se de uma campanha da Prozis que fornecia tracks com percursos no Algarve? Pois é, estes eram idealizados pelo Hugo, um nortenho que rumou a sul há uns anos. Foi ele que me apresentou o Cerro da Cabeça de Câmara, um monte com 200m de altitude a 10 minutos de Quarteira. Foi lá que conheci um percurso de 10km quase sempre em trilhos de Downhill (todos devíamos perder um bocadinho do nosso dia a agradecer ao pessoal do BTT) super divertido, rápido e variado. Foi lá que fiz um treino com o João, o meu cunhado, outro com o Bruno, o mentor do ATR (Algarve Trail Running) que além de ser um atleta brutal é um gajo impecável, foi lá que corri com o Eduardo Merino, das quintas-feiras bravas, foi lá que voltei mais 6 vezes nas minhas férias e fui feliz em cada uma delas. Ok, menos naquela vez, curiosamente no meu dia de anos, que caí numa curva e deixei metade da nalga esquerda agarrada às pedras do monte.


Via do Infante de um lado, trilho brutal do outro e um emplastro a estragar a foto.

Não queria perder esta oportunidade de mostrar a nalga no blog.
O mesmo Hugo apresentou-me uma porta secreta ali para o lados de Portimão que nos levou a um universo paralelo em pleno Allgarve, de seu nome Serra de Monchique. Confesso, nunca lá tinha passado. Era um daqueles básicos para quem o Algarve é só praia e confusão. Não é, é muito mais, e um bocado grande desse "muito mais" é Monchique. Que maravilha correr ali. Subimos das Caldas de Monchique até à Picota (770m), descemos até Monchique e voltámos a subir, desta vez até ao ponto mais alto do Algarve, a Foia (902m). Passámos por bosques cerrados, por planaltos de pedra, por trilhos apertados, vegetação alta, vegetação baixa, vimos o mar, vimos o Algarve inteiro, fizemos parte da Via Algarviana, apanhámos chuva, vento, sol, frio, calor.... Monchique é um sítio mágico que merece um boa prova de trilhos. Tenho a certeza que mais cedo ou mais tarde vai aparecer, espero que pela mão da gente competente da ATR (organizadores do Rocha da Pena). Depois de conhecer o Bruno e o Hugo sei que ficaria em boas mãos. Ah, e podem contar com a minha inscrição!

Não queria acabar o capítulo Algarve sem antes referir uma coisa: o Hugo Sá e o Bruno Rodrigues deviam ser promovidos como património regional. Estão de férias lá em baixo? Falem com o Hugo, ele não se importa de vos mostrar os melhores cantos, a sério. Já o Bruno só conheci no último dia de férias, mas logo se prontificou a mostrar mais trilhos. Boa gente, pessoas impecáveis. Dêem-lhes confiança e o trail do Algarve vai explodir, acreditem.

Com o Hugo na Foia, a 900m de altitude.
Para o último fim de semana de férias reservei um longo em Évora, terra da Sara. Procurei saber de trilhos da Serra de Valverde, mas à ultima da hora deu-me a preguiça e achei interessante correr uma parte da Ecopista de Évora, ramal de Mora. A Ecopista surge da conversão de um ramal ferroviário e procura promover pontos de interesse histórico/culturais. Basicamente é um estradão fechado ao transito automóvel de 60km que liga Évora a Mora, passando por Arraiolos aos cerca de 30km, foi este o percurso que me propus a fazer. Eu gosto muito do Alentejo, e de Évora em particular, é possivelmente a minha cidade favorita em Portugal. Mas tenho que confessar que fazer este treino não foi lá muito boa ideia. Começou não ser boa ideia quando decidi partir apenas às 8 (que resvalou para as 8:30), acabei já perto do meio dia com temperaturas muito próximas dos 40ºC. Depois não foi boa ideia porque o percurso não era bem o que eu pensava, este não sobe e desce os montes que vai apanhando, rodeia-os mantendo-se sempre no sopé. A paisagem não varia praticamente nada do inicio ao fim, mantemo-nos longe das povoações e mergulhados na planície alentejana. Foram 27km planos como uma folha de papel e abafados como um forno. Esgotei os 2.5 litros de água que levava e acabei a derreter com o calor... Vou dar certamente outra oportunidade a Évora, mas não por ali. Não há por aí nenhum Eborense que me queira fazer companhia um dia destes? 

Amarelo e azul, all the way.
Foram duas semanas com muitos quilómetros (179) mas pouco efectivos, acabei por não fazer muitos treinos técnicos e procurei apenas divertir-me e aproveitar. Não terá sido a maneira ideal de apurar a forma para enfrentar os monstros que se avizinham, mas não mudava nada. Os muitos quilómetros contribuíram no entanto para o mês mais produtivo de sempre, 384km em Agosto! Nada mau!

Agora venha Arga! 

...Bem, na verdade antes ainda vêm três semanas de treino intenso, mas dizer isso é menos dramático.