As minhas corridas na estrada

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

III Grande Trail das Lavadeiras - Puro.

Há sítios em Portugal onde o difícil é não fazer um bom percurso de trail. Por exemplo, na Lousã ou na Estrela é uma questão de compilar os melhores trilhos e paisagens e perceber o que funciona ou não funciona. Depois há outros que são uma folha em branco. Não há montanha, não há trilhos, nem sequer há paisagens de tirar o fôlego. Quando alguém decide fazer uma prova num desses sítios tem duas hipóteses: utiliza a meia dúzia de carreiros existentes, liga-os com quilómetros de estradão/alcatrão e chama os amigos para um convívio anual que certamente não durará muitas edições mas que no fim colhe os mais rasgados elogios do primo e do cunhado, ou então, se quer fazer uma coisa memorável, só tem uma solução: arregaçar as mangas e trabalhar. E, meus amigos, esta malta da Granja do Ulmeiro trabalha que se farta!

Antes da partida, com os companheiros do Grupo Desportivo da Parreira
Poucos minutos antes da partida, o speaker de serviço dizia-nos com um pesar na voz que, por terem vedado o acesso numa parte inicial, tiveram que alterar o percurso, por isso o primeiro quilómetro e meio seria em estrada. Quase consigo imaginar 2 ou 3 lavadeiros que dormiram mal na noite que souberam que o percurso ia ter 1.5km de alcatrão. E como é que lidaram com isso? Fácil, à maneira GTL: com trabalho! Assim que termina esta volta inicial pela Granja, entramos num single junto ao Mondego com quase 3km (sim, 3km!) todo aberto de propósito para esta edição! 

Um dos que deve ter dormido mal, no trilho novinho junto ao Mondego.
Rapidamente a prova se mostra, com subidas feitas a quatro e descidas de rabo. Tirando os Abutres, em nenhuma outra prova utilizei tanto as mãos para conseguir progredir. Aos quilómetros de trilhos abertos nos últimos anos juntaram-lhes outros tantos, prolongando-os e fazendo ligações entre eles, com os estradões a rarearem cada vez mais. O parte pernas é constante, assim como o piso muito pesado e enlameado. Passamos metade do tempo a saltar por cima de troncos ou a baixar-nos por baixo de outros, subimos escadas de madeira e degraus cavados na terra. descemos por cordas enlameadas, enchemo-nos de lama até à cintura e depois lavamo-la em água suja e gelada... Diversão do primeiro ao ultimo metro! 

Eu sei que já usei esta foto o ano passado, mas ilustra na perfeição o que é esta prova.
Não há lugar à monotonia nesta prova, mesmo que a altitude máxima sejam poucos mais de 100 metros. Não há uma falha na marcação nem um abastecimento fora do sítio. Há trilhos muito técnicos e há trilhos muito rolantes, outros cheios de pedras, outros com raízes e outros cobertos de vegetação que mais parecem um colchão. Há para todos os gostos, mas, acima de tudo, há trilhos, muitos trilhos!

Um percurso assim tão recortado normalmente quer dizer uma coisa: trilhos! E aquela parte junto ao rio engana, é o trilho que foi aberto de propósito, apesar de ser sempre a direito

Por causa do parte pernas, quase nunca deu para meter um ritmo constante, daí esta parvoíce de picos no gráfico da velocidade
Quanto à minha prova, fiquei muito satisfeito! Consegui vir a andar bem (para mim) até ao fim, sem grandes quebras, apesar de vir perto do meu limite. Ainda antes dos 20km fiquei sozinho e até ao fim (43km) andei sempre sem companhia. O percurso não passa por nenhuma povoação, por isso as únicas pessoas que vi durante horas foram os voluntários nos abastecimentos e os bombeiros que estavam nos locais mais perigosos. Foi espectacular estar embrenhado sozinho ali no meio daquele mato tantas horas, numa espécie de missão solitária.

Depois de dois meses de treino exclusivo para a maratona, está a saber muito bem voltar ao mato, e não podia pedir melhor que este percurso de puro e duro trail, com tudo a que temos direito. 

No fim um banho bem quentinho, para tirar os quilos de lama que ainda ficaram, mesmo depois de 100 metros numa espécie de lago com água por cima do joelho já perto do fim, duas bifanas de porco no espeto, uma taça de arroz doce e ficou feito!

Desculpem a porcaria das marcas de água, mas ainda não encontrei outra foto minha e sou um bocado forreta! A foto é do...adivinhem :P
Antes, na reta da meta, o speaker que me terá reconhecido do artigo do ano passado, disse que eu era um amigo do GTL. Mais que amigo, sou um admirador confesso do que este pessoal conseguiu ali fazer. Voltarei sempre que puder e, entretanto, continuarei com a minha cruzada: é obrigatório que mais gente conheça o GTL!



terça-feira, 15 de novembro de 2016

Trilhos de Casaínhos 2016 - Crónica de uma batalha

Este domingo foi dia da romaria anual de Casaínhos, uma prova curtinha (15km) com tudo na medida certa: subidas, descidas, trilhos e feijoada. Dia de convívio, de reencontrar amigos e finalmente conhecer outros. Foi essas coisas bonitas todas, foi... Mas antes disso também foi palco de uma batalha sangrenta que perdurará nos anais da história. 

Essa, a história, surge aqui relatada numa parceria Quarenta e Dois / Crónicas do Sr. Ribeiro, num texto escrito a duas mãos (cada um escrevia 1 ou 2 parágrafos e passava ao outro):



O Sommer chegou primeiro, levou toda a família e amigos. Talvez o peso da derrota do ano passado o tenha feito querer equilibrar a balança, e como de balanças percebe ele, levou mais carga para o seu lado.

O Filipe apareceu quase em cima da hora, com um ar de falsa descontração, sentia-se a pressão por trás dos sorrisos que tentava distribuir gratuitamente às pessoas que se aproximavam sentindo já o sangue da batalha.

Parou o carro à frente do seu adversário e antes de sair disse entredentes à mulher para seguir o guião. Mestre da dissimulação, meteu o mais falso dos sorrisos quando, cordialmente, cumprimentou o seu oponente. Nesse momento tenso, o Filipe reparou num leve tremor da sobrancelha direita do Sommer. Estava a resultar.

A conversa de circunstância quase os faz vomitar de angústia, mas o tempo passou e estavam agora a 5 minutos da partida. O Filipe conta as camisolas pretas da MRT que o cercam e arrepende-se de não ter trazido ele próprio reforços.

Lado a lado, esperaram tensos alheios ao bulício que os rodeia quando soa o sinal da partida que, sem aviso, os lança numa luta feroz.

O de Almeirim sabe que tem de assumir a prova, tem de encostar o de Lisboa, logo ali em Casaínhos, antes mesmo de Fanhões. E, assim, imprime um ritmo controlado apenas meio segundo acima daquilo que sabe que o seu opositor anafado aguenta. “Assim ele sofre, mas não rebenta, para já…”
Habituado aos esquemas, o Sommer combatente trafulha, procura esconder-se no meio da multidão, “Vou apanhá-lo de surpresa!”

E assim passam a porta do Estádio Municipal e voam pela estrada para uns primeiros quilómetros bem ao jeito do Filipe, que se apercebe pelo canto do olhos das dificuldades que o gordo tem em manter um ritmo alto enquanto saltita desconfortavelmente no estradão irregular. Chega a ser constrangedor.

O fosso estava criado, mas é nas subidas que o esquilo mais se sente em casa e, quando atacam a primeira, um trote tranquilo é o suficiente para se aproximar do ofegante adversário que se debatia num engarrafamento causado por outro frequentador de Monsanto. Enervado, o Sopa da Pedra sente a pressão e segue atabalhoado trilho acima, à espera que a descida o confortasse.
Virado o monte, abrem-se as portas do Inferno!!!!

À frente, o Filipe perde a noção da distância para o seu perseguidor e dispara com medo de ser agarrado, lá atrás, o gordo chegado ao cimo do monte, não teve outra hipótese, tapou o nariz, fechou os olhos e mergulhou, corajosamente, soltando um guincho, para fora de pé.

Era a primeira descida, o primeiro encontrão, as primeiras pedras, o da frente, procurava material para sopa, o de trás, não queria cair e ficar em picadinho!

“Mantém o ritmo só mais um bocado!!!” implorou a si mesmo o desgovernado ribatejano, enquanto aproveitava cada bocadinho de descida para ganhar metros à bulldozer que o perseguia. Aproximava-se o meio da prova e a decisiva parede, oásis de esperança para o Sommer, que se benzia a cada curva e contra-curva enlameada das descidas de Casaínhos.

Já na base da parede, o da frente nem teve coragem de olhar para trás "rais parta o gordo, que me respira no pescoço", pensou. Foi mãos nos joelhos, língua a raspar o chão e toca a papar metros que o grandão até bate palmas nesta subida.

Já lá em cima, virou-se, lentamente, como quem contempla a paisagem, mas o gordinho já não caía nessa, sabia que o Filipe o procurava e por isso atirou-se para o chão, com estrondo, escondendo-se por entre a vegetação, tentando que o opositor não o visse. Levantou-se quando se sentiu em segurança e galgou os metros finais, procurando encurtar a distância que os separava!
“Está a funcionar!” pensou, primeiro, para depois achar que estava a ser enganado, “Calma, está a funcionar bem de mais!!! Aqui há gato!”

Terminou a subida ainda a tempo de ver o adversário a fugir.

Parecia tão perto, mas perto também estava o fim da prova e da sua energia.

Era agora ou nunca, pensou o Sommer, enquanto recusava, a arfar, um copo de água oferecido no abastecimento, e arranjava maneira de voltar a colocar no sitio o pulmão que entretanto se tinha desalojado. Esqueceu o amor que até então sentia pela vida e atirou-se a mais uma descida num single aberto de fresco, cheio de raízes sacanas.

O de Almeirim, ainda meio desconcentrado com a visão do gordo a atirar-se para cima de uma silva lá atrás a meio da subida, decide que já não estava para brincadeiras e aumenta a parada. Faltava meia dúzia de quilómetros e tinha o passarão na mão.

O Sommer desesperava com a velocidade com que o trapaceiro se afastava, e balbuciou qualquer coisa para o seu companheiro do lado, mas quando não teve resposta, reparou que estava sozinho...
Estaria a enlouquecer? Seria o fim?

Sozinho atacou aquela que já não era a última subida, mas parecia ser uma depois!

O de Almeirim, com medo, tinha fugido! Engendrou um novo plano maquiavélico, para dar a estocada final no gordo… Ia lançar a contra-espionagem! Deu ordem de arranque aos seus reforços, para baterem as várias estradas, que se cruzavam com a prova, a fim de saber o paradeiro do perseguidor e gerir o ritmo sempre naquela sua forma malandra, abrandar, para o gordo salivar, e voltar a arrancar para o badocha desesperar…

“Desculpas!”, respondeu a Sara do Filipe, quando o gordito no seu delírio disparou qualquer coisa sobre carregar um companheiro ferido aos ombros durante os últimos quilómetros. "Ele vai todo torto e já não sabe o que diz, arranca que é teu", disse a matreira numa sms enviada ao Filipe, que ganhou novo ânimo.

O plano do campino tinha resultado. Faltava ultrapassar uma última parede e depois deslizar para a meta.

Frustrado, lá atrás o esquilo dizia mal da vida e pontapeava pedras na descida enquanto pensava o que tinha corrido mal.

Já com o Estádio Municipal em vista o nosso Ribatejano, finalmente, com gosto riu, por mais uma vitória que lhe sorriu.

Mas faltava alguma coisa… Emoção talvez… Uma perseguição final?? Cadê do gordo??

Ainda do outro lado da encosta, triste, cansado, suado, desidratado, arrastava-se ao som do oboé. Pópópó…

O gordo pensava em dizer, quando chegasse, “À terceira é de vez!”, mas sabia que lhe esperava de resposta, “Não há duas sem três”…

Dobrou a encosta e rebolou com o que tinha, para o estradão que lhe faltava, apanhou a parede caiada do Estádio, e virou, envergonhado passou o portão para os metros finais de mais uma humilhante derrota.

Por mais um ano ficará o machado de guerra enterrado entre os restos da feijoada ao almoço. A azia da derrota deu lugar àquela provocada pelo enfardamento de enchidos e a rivalidade diluiu-se em cerveja preta.

O sol pôs-se sobre o campo de batalha de Casaínhos, segue-se mais um ano, milhares de quilómetros separam os nossos guerreiros do seu próximo embate. Alguns – muitos - destes serão palmilhados pelos dois, fingirão amizade e partirão juntos em aventuras por este mundo fora, acertarão o passo e até darão a mão para ajudar o outro, mas sabendo sempre que se estão a medir e a preparar para o próximo derby de Fanhões, a prova que fica para lá do espírito do trail.


segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Maratona do Porto 2016 - Quem dá o que tem...

Desde o final do ano passado que o regresso à Maratona estava nos planos. A ideia era focar o ano nas duas grandes provas (MIUT e UTMB) e depois aproveitar um ultimo trimestre descontraído que incluiria uma maratona do Porto, assim, como dizer, a rolar (lol). Mas a prova rainha não se compadece com estes paternalismos e acabou por ser um dos momentos mais intensos do ano. Afinal de contas, a Maratona é a Maratona…


Há 3 anos tinha sido a minha 4ª maratona, e este ano regressei ao Porto para a sétima. Muito mudou entretanto. Mudei eu, que passei a focar-me muito mais na corrida de montanha, e mudou a própria corrida, deixando a partida de ser no centro do Porto para junto ao rio, em Matosinhos. Sinceramente, esta mudança para mim é irrelevante. Não é isso que vai mudar a essência do percurso. Esse, na sua grande maioria, era e continua a ser centrado no Rio Douro. Para a frente e para trás, sempre junto ao Rio. De notar, isso sim, o aumento de público tanto em número como em entusiasmo, com algumas zonas muito preenchidas!


Vista do pórtico antes da partida.
Esta maratona trouxe outra novidade: pela primeira vez na vida fiz uma corrida em equipa. É muito raro, tanto em estrada como em trail, seguir muito tempo com a mesma pessoa. Não gosto de adaptar o meu ritmo, seja para andar mais depressa ou mais devagar. Mas fiz todos os treinos de preparação para o Porto com o Rodrigo, estávamos exatamente no mesmo ponto e tenho a certeza que, se tivéssemos corrido em separado, os nossos tempos teriam sido iguais. Ambos um pouco mais baixos, mas iguais.


Com o Alexandre (estreia) e Rodrigo (segunda maratona)
Como já vos tinha dito anteriormente, com o decorrer dos treinos mudei de ideias de uma maratona "tranquila" para um ataque ao meu melhor tempo, de 3h19. Defini com o Rodrigo que fixaríamos o ritmo alvo nos 4'40''/km, o que daria algo na casa das 3h17. Para mim, a definição do ritmo da maratona é dos passos mais importantes na preparação. Tem que haver uma perfeita noção do trabalho feito e das nossas capacidades. Não podemos correr o risco de sermos ambiciosos de mais e levar a marretada no fim. Mas se queremos ir no limite, estabelecer um ritmo baixo de mais pode ser frustrante, na medida em que chegamos ao fim com a sensação que podíamos ter dado mais.

A partida foi dada na avenida entre as rotundas da Anémona e do Castelo do Queijo. Com vários blocos divididos por tempo e numa avenida larga, era de esperar que o pelotão fluísse bem, mas curiosamente não foi o caso. Talvez por logo a seguir à partida termos subido a Avenida da Boavista, os primeiros 2km foram bastante confusos, com alguns esticões e paragens. Demorámos um bocado até entrarmos no nosso ritmo.


Junto ao Parque da Cidade.
Mais aceleração menos aceleração, passámos nos 10km confortáveis e certinhos no ritmo alvo. Já se sabe que os primeiros 10km de uma maratona são os 10km mais fáceis que vamos fazer, se assim não for algo está errado.

Enchido o chouriço na volta à doca de Leixões, a prova começou realmente com nova passagem na Rotunda da Anémona, aos 12km. O pelotão dispersou finalmente e corríamos, agora sim, à vontade. Distraídos pela paisagem, os quilómetros passaram sem darmos por eles e o ritmo foi aumentando sem grandes sacrifícios.  Por volta dos 19km, nova estreia! Já posso dizer que tenho algo em comum com a Jéssica Augusto, depois de um pit stop numa casa de banho portátil. Despachado o assunto, meti um bocado de mais andamento para voltar a apanhar o Rodrigo, o que aconteceu cerca de 2km depois, mesmo a chegar à Ribeira. Muita gente na rua e a incentivar na pequena rampa de acesso à Ponte D. Luis, que subimos algo sofregamente. A Meia Maratona estava logo ao virar da ponte, no empedrado de Gaia, a qual cruzámos 1h38 depois da partida - mesmo em cheio nos 4'40''!


Pórtico da Meia Maratona
Confesso que gosto de provas com retornos. É impossível não nos distrairmos à procura de caras conhecidas, a gritar incentivos e a ouvir alguns de volta. Essa é a melhor parte deste segmento do percurso de ida e volta à Afurada, porque de resto é um pouco desinteressante, com a agravante de ter partes muito chatas de empedrado. No entanto estávamos a sentir-nos bem, e o Pacer das 3h15 no raio de visão (estaria a 300/400m) dava uma motivação extra. O ritmo voltou a aumentar e a passagem aos 30km com 2h19 até indicava que estávamos a ganhar algum tempo ao objectivo, mas foi então que levámos o primeiro pontapé nas canelas: a rampa de acesso à Ponte D. Luis para a travessia de volta ao Porto.

Passagem na Ponte D. Luís
Imediatamente senti que algo tinha mudado. Falei com o Rodrigo e ele confirmou que se estava a sentir um bocado desconfortável. A nossa prova ia entrar numa nova fase, a partir daqui só teríamos os depósitos de reserva, a luta ia começar.

Ultrapassada a Ponte voltámos à direita para novo enchimento de chouriço de 1.5km para cada lado. O ritmo não era fluído e olhava constantemente para o relógio, ainda assim mantinha-se no pretendido apesar de muito mais esforçado. Nova passagem por baixo da Ponte D. Luís aos 32km. Disse ao Rodrigo: pronto, metade está feito.

Os 32km são uma marca importantíssima na Maratona, e no Porto ainda adquire um significado maior. Deixa de haver atletas mais lentos em sentido contrário e ficamos apenas nós e uma recta infindável de 10km. A contagem decrescente ia começar.

Ponte D. Luís vista da Ribeira
9.
O trigésimo terceiro km foi dos mais memoráveis pela passagem no túnel. Eye Of The Tiger a bombar, 5 ou 6 televisões com a famosa corrida do Rocky Balboa pelas ruas de Philadelphia, e alguns cartazes motivadores. Muito bom!


8.
Logo a seguir ao túnel, uma subida. Uff!! Fazemos um esforço enorme para volta aos 4'40'' mas ainda conseguimos. Com que consequência??


7.
Porra. Porcaria do vento tá sempre contra?? E as descidas? Só subimos?? Não se desce?? Ritmo já nos 4'50''. Ui, que vai custar!


6.
Disse ao Rodrigo que estava a quebrar, para ele avançar se quisesse. Claro que ele também estava a quebrar, estava exatamente como eu. Ritmo a diminuir, margem a desaparecer.


5.
Estou. Farto. Do. Douro.


4.
Batemos no muro com força e seguimos atordoados. Digo asneiras a uma cadencia maior que os passos por minuto. Apetece-me caminhar um bocado mas não o faço por causa do Rodrigo, provavelmente ele está a pensar o mesmo. Porra destas bandas que só tocam forró ou lá o que é esta merda!


3.
F***** para os 39km!! Farto desta m****, f*****!!! O ritmo foi definitivamente por água abaixo, estamos completamente em modo sobrevivência!


2.
MERDA.


1.
NUNCA MAIS NA VIDA FAÇO UMA MARATONA!! Mas como é que é possível passar pela placa dos 41km e achar que ainda falta uma eternidade?? Corro completamente tenso, curvado, com os maxilares serrados e literalmente a rosnar. Enchente brutal na subida de 500m que nos leva até ao Queimódromo.


0.5.
Olha a Sara com a Mel ao colo! Fim da subida! Então mas isto tá a acabar? Oh Rodrigo, tu queres ver que já tá??


0.195.
Braços no ar, pernas leves, ADORO ISTO!


0.
TÁ FEITO, TÁ FEITO!!

[Rodrigo, a sério que não uma foto nossa na meta??]

Ainda abraço o Rodrigo antes de desfalecer no chão. Olho para o relógio, 3h19m56s, 3 minutos a mais do que aquilo a que nos tínhamos proposto. Os mesmos 3 minutos a mais que demorei a fazer a segunda meia em relação à primeira.

Aquela recepção.
Um fracasso? Nem por sombras. Estou super satisfeito com a nossa prova e orgulhoso do Rodrigo, que retirou meia hora ao seu anterior registo e do Alexandre, que terminou brilhantemente a sua primeira maratona. Deixámos tudo, mas mesmo tudo nas ruas do Porto e chegámos com o depósito completamente vazio. Foi muito difícil, e já não me lembrava quão difícil é. No fim o tempo não foi mau, acabei por igualar praticamente o meu record. Digamos que foi uma batalha muito difícil, no Porto, que terminou num empate com sabor a vitória. Isto faz-me lembrar alguma coisa... :)




quarta-feira, 2 de novembro de 2016

20km de Almeirim - 2016

Já tentei aqui pelo blog algumas vezes, mas é muito difícil definir por palavras o que significam para Almeirim, e particularmente para mim, os 20km. Há alguns factos que o explicam: é das provas mais antigas e com mais tradição em Portugal, neste momento é a única com a distancia de 20km, foi palco para os grandes nomes do atletismo português brilharem (o record nacional dos 20km foi estabelecido em Almeirim). É isso tudo, mas os 20, para nós Almeirinenses, é muito mais que factos.  Os 20 são a nossa prova. Mais que isso, os 20 são a nossa cidade. Até podem ser organizados por uma minoria de Almeirinenses (e eu até conheço pessoalmente muito poucos), mas todos nós que já os corremos, que já aplaudimos ou que já esperámos numa rua fechada para passar os sentimos como nossos. É na nossa rua que todos os anos passam 2000 pessoas a correr, são as nossas águas que bebem, a nossa sopa que todos falam e as nossas caralhotas que arrancam sorrisos.


Este ano comemorou-se a trigésima edição seguida, a primeira sem o membro fundador e pioneiro do atletismo em Almeirim Gabriel Duarte, a quem se fez uma justa homenagem na partida. Mas a melhor homenagem que lhe fizeram foi precisamente não mudarem nada. Tudo nos 20 trabalha em piloto automático. Eles, as formiguinhas, sabem exactamente o que fazer e onde estar. Nós, os que corremos, só temos que dizer presente. E os outros, os que enchem a recta da meta, os que espreitam à janela, os de Alpiarça que  esperam à entrada da barragem, os dos restaurantes que esperam 5 minutos antes de ir preparar a sopa para os turistas, esses só têm que continuar a observar com um sorriso orgulhoso. Porque afinal, os 20 também são deles.

Homenagem ao Gabriel Duarte
Este ano corri os meus nonos 20. O plano era percorrê-los a ritmo de treino longo, já que no próximo domingo é a Maratona do Porto. Tentei convencer-me a mim mesmo disso, mas não precisei de mais que 3km a seguir à meta para saber que só me estava a enganar. Nos 20 é para dar tudo, ponto! Acabei no limite, apesar de um tempo uns bons minutos pior que o meu melhor, e com a certeza que as pernas no dia seguinte iam protestar (e assim foi). Mas que se lixe, nada paga aquele sentimento de passar a voar pelos nossos quintais, de desesperar pelo retorno em Alpiarça, de antecipar o sofrimento na subida da Compal e finalmente percorrer a Avenida 25 de Abril com a certeza que se deixou tudo, mas mesmo tudo, nas ruas da nossa cidade. Só assim é que vale a pena! 

A entrar na recta da meta. Eu disse que ia a dar tudo!