Assim que saí do ultimo abastecimento, a 11km da meta, comecei com uma contagem decrescente. Não de quilómetros, mas de metros! Cada passo em frente ouvia uma voz no cérebro a dizer "já chega Filipe, não vês que estás desfeito? Não aguentas, já chega...". Olhava 10 vezes por minuto para o relógio e a porcaria dos metros não passavam. Quando tentava correr era uma dor agonizante nas articulações dos pés que eu forçava até ao limite, até ceder e voltar a andar. Não me lembro se foram 11km a subir, a descer ou em plano, já era tudo igual. O que eu sei é que se aumentassem 100m àqueles 11km era como se me apresentassem uma nova ultra pela frente.
Há aquele pessoal que diz que anda à procura dos seus limites. Não sei, não gosto muito de frases feitas. Mas uma coisa é certa, a palavra "limite" adquiriu um novo significado durante as mais de 18 horas que andei pela Serra de Sicó.
Cartaz oficial da prova |
Tinha tirado a sexta-feira de férias, e com a miúda na creche consegui dormir bastante, relaxar em casa e preparar tudo calmamente para a aventura. É engraçado, por várias vezes pensei para mim mesmo "o dia não acaba sem antes fazer 111km!" mas sinceramente ainda me parecia um bocado irreal, como se ainda não me tivesse apercebido da epopeia que me esperava mais logo à noite, o que até nem foi mau já que andei muito pouco ansioso durante o dia.
Chegámos a Condeixa às 18h e fomos levantar o dorsal, processo que decorreu normalmente. Volto para o carro e mostro o dorsal à Sara: "Hãn?? Esse é mesmo o teu número??" ahahah nem me tinha apercebido!
A sério que não foi de propósito!! :D |
Como já por aqui disse, tento sempre aliar às provas que vou fazendo um programa familiar. Desta vez encontrámos uma casa para alugar em Casmilo, local de passagem da prova e a cerca de 8km de Condeixa. Uma casa super confortável que aconselho a toda a gente que esteja a pensar fazer uma escapada de fim de semana! Foi lá que jantámos calmamente os três e ainda tive tempo para descansar um pouco na cama até às 23h. Era hora de rumar a Condeixa!
A "nossa" casa. A miúda não fazia parte da mobília. |
Estava um ambiente espectacular na praça da meta, parecia quase aqueles arraias de verão, nas festas da cidade. Eram centenas de pessoas a apoiar, não sei se familiares ou habitantes de Condeixa, mas em número como nunca tinha visto numa prova de trail! Rapidamente encontrei os meus colegas de equipa. Era altura de me despedir da Sara e da Maria Amélia e juntar-me aos outros cerca de 260 atletas que já tinham feito o controlo zero.
David (em 1º plano), eu, Omar, Joel, Vasco e Jorge |
A ansiedade e o nervosismo eram palpáveis. Risos nervosos, ultimas verificações quase maníacas do material, algumas fotos de grupo, incentivos aos amigos, despedidas de familiares... Toda a gente que anda nisto já sentiu o que são aqueles últimos minutos antes da partida, é incrível! Nesta altura tive um breve momento de introspecção e comecei a pensar na aventura brutal que cada um de nós ia enfrentar. Como cada uma daquelas almas viveria nas próximas horas, quem conseguiria e quem sucumbiria, os pensamentos que passariam pela cabeça de cada um e a maneira como aquele desafio lhes toldaria a vida.
Bem, lamechices à parte, vamos lá a isto!
Depois da partida percorremos cerca de 5km ainda dentro de Condeixa. Notava-se o respeito que todos tinham pelos 111km, já que não se viam muitos dos habituais aviões que gostam de bater recordes pessoais de velocidade nestes primeiros quilómetros. Muito pelo contrário, todos iam muito descontraídos e bem dispostos.
O percurso podia ser dividido em duas partes, com uma passagem aos 50km pelo ponto de partida. Mas não era só no papel que as duas partes eram distintas, iríamos perceber, e bem, no terreno. Quase como se fossem duas corridas diferentes!
Com a primeira subida, aos 6km, apareceu também um inimigo que nos iria acompanhar até ao fim: a chuva. Não era a chuva grossa dos Abutres, mas antes uma chuvinha molha parvos acompanhada por um nevoeiro denso que não nos largaria nunca mais. Estas condições podem parecer até óptimas para a corrida, mas sendo esta uma prova que duraria muitas horas, temos que nos lembrar de certas condicionantes. Primeiro nunca consegui sentir-me confortável, a chuva não era grossa mas era forte o suficiente para nunca me sentir seco. Segundo e mais importante ainda, era o nevoeiro. Durante cerca de 90% do percurso não conseguíamos ver mais que 50 metros à nossa volta. Agora imaginem o que é correr durante mais de 18 horas e só conseguem ver o trilho, estradão ou estrada à vossa frente! Nada de paisagens brutais, nada de distracções, só o caminho à vossa frente. Psicologicamente foi terrível!
Antes de chegarmos ao primeiro abastecimento, aos 10km, tive o meu momento "Calma Lá Oh Artista, e Mete-te No Teu Lugar!". Um senhor mais velho meteu conversa comigo e começou a falar-me do antigo circuito nacional de montanha, e de como estas provas eram diferentes há 30, 35 anos. Elah, 35 anos?? Nem era nascido ainda! Pois bem, o senhor tinha 64 anos, estava a fazer os 111km e tinha no currículo pequenas provas como as 100 milhas Ehunmilak, no país Basco!
O primeiro abastecimento apareceu depois de umas subidas +/- difíceis e uma descida complicada, mas vim sempre a resguardar-me e sentia-me super bem. Quando percebi que o abastecimento estava ali em baixo pensei logo que não valeria a pena parar ou então só comia uma bananita. Isto pensei eu, até ver o banquete que nos esperava! Bem, não há palavras para descrever os abastecimentos desta prova! Nunca vi nada parecido! Mas quanto a isso, falaremos à medida que formos avançando. Digo-vos apenas que estava a pensar comer apenas uma banana e acabei por comer pão caseiro com presunto e queijo fresco! :)
Depois do abastecimento surgiu a primeira de algumas subidas mais agressivas, daquelas de fazer os gémeos entrar em combustão. Felizmente não se prolongou durante muito tempo e ainda não seria esta a deixar marcas. O percurso nesta primeira parte seguia bastante acessível. Algumas, poucas, subidas, alguns trilhos bons de correr e alguns, muitos, estradões.
O segundo abastecimento surgiu aos 16km. Outra das características desta corrida era o perfeito posicionamento dos abastecimentos. Nunca estavam a mais de 10km e muitas vezes a distancia até era menor. Estamos a falar de 11 abastecimentos MUITO completos! Por exemplo, neste segundo (e reforço, segundo) aos 16km comi uma bifana quentinha super saborosa!
Não, não era um casamento. Era um abastecimento à Sicó! |
Na chegada a Penela, onde estava o terceiro abastecimento, encontrei os meus amigos Omar e Joel. Tinham passado por algumas dificuldades (principalmente o Omar, que vomitou algumas vezes) e estavam a aproveitar o abastecimento para se recomporem. Juntaram-se a mim, ao David e ao Jorge e seguimos por alguns quilómetros os 5.
Os 20km que se seguiram até à Base de Vida, em Penela, foram a minha melhor fase na prova. Sentia-me muito bem e o desconforto intestinal tinha sido resolvido numa casa de banho de um abastecimento. Sim, usei uma sanita num trail, espero não ser penalizado por isso! O Omar, já restabelecido, começou a aumentar o passo (normalmente ele é muito mais forte que eu) e eu fui acompanhando. Ficámos os dois sozinhos e assim seguimos até ao fim. Não tive medo de estar a abusar porque não me sentia a fazer esforço nenhum! A chuva até tinha abrandado e só sentia frio imediatamente após os abastecimentos, onde me estava a demorar sempre um bocadinho de mais, viria a perceber depois.
Ah, pequeno aparte, no abastecimento dos 40km existia nada mais nada menos que Sopa da Pedra!! ahaha Não tive coragem de comer, mas deixo aqui um louvor à organização! Fiquei-me por uma taça de arroz doce :)
Chegámos ao Pavilhão de Condeixa, à Base de Vida (53km), local onde estava o primeiro saco com muda de roupa, com 6h50, um pouco antes do nascer do sol. Ainda bem, estava muito saturado de correr à noite e o frontal aleijava-me na testa e nas orelhas. Não troquei de roupa nem de sapatilhas, mas decidi demorar-me bastante tempo. Sentei-me, estiquei as pernas, conversei com quem lá estava... Estive perto de meia hora no pavilhão, muitíssimo tempo. Mas era por uma boa causa! Certo..?
Não sei... Algo de estranho se estava a passar. O descanso, em vez de me dar energia, estava a ter o efeito precisamente contrário. O sorriso que trazia à entrada do pavilhão tinha desaparecido e comecei a sentir-me muito desconfortável. Decidi arrancar um pouco à frente do Omar para o abastecimento, que ficava numa escola a 200m do pavilhão. Eram 7:20 da manhã e o dia já tinha nascido, talvez o sol e a visão da manhã me dessem alento.
Assim que saio do pavilhão foi como se me tivesse caído uma bigorna em cima. O dia que eu pensava que tinha clareado era afinal cinzentão. Uma rajada de vento frio gela-me e empurra a chuva que era agora muito mais forte que há pouco. Foram 200 metros completamente desanimado até chegar à cantina da escola, onde havia massa à bolonhesa para comer. Quando lá entrei até estava atordoado. Não tinha fome, sentia-me pesado, triste, desanimado. Como é possível uma mudança tão radical desde que entrei até que saí do pavilhão? Sentei-me numa mesa sem comer nada à espera do Omar. Ele chegou e comeu um prato de massa. Eu pedi o mesmo mas não consegui comer nada. Ficámos ali mais 10 minutos e eu a afundar-me cada vez mais. Vesti o impermeável e fiz-me ao caminho.
Ia começar a segunda parte da prova. Agora era a sério.
Foi assim, fisicamente bem mas psicologicamente de rastos, que percorri um dos trilhos mais espectaculares de todo o percurso, logo à saída de Condeixa. Muito técnico, a fazer lembrar a loucura dos Abutres (sem a lama), junto a um ribeiro de águas cristalinas e uma cascata daqueles que só se vêem nos postais!
Nesta altura comecei a ficar preocupado. Enquanto percorria este trilho ouvia tudo quase como se fosse um eco e a minha visão estava sempre a tremer. Sentia uma dormência nos lábios e temi não conseguir continuar. O Omar perguntava-me se estava bem, respondia-lhe que me estava a ir abaixo. Pedi-lhe para ele seguir sozinho (algo que repeti 675 vezes aproximadamente durante a prova), que precisava de estabilizar. Ele insistia em esperar por mim e ir ao meu ritmo. Felizmente, mais uma vez o abastecimento não tardou e pude sentar-me um pouco enquanto comia uma sopa quente. As tonturas passaram, mas o mal estar insistia em ficar.
Se os 20km até ao pavilhão de Condeixa foram a minha melhor fase, os 20 que se seguiram foram de longe a pior. Falava com o Omar das famosas mortes e renascimentos que acontecem nas ultras, como tanto eu como ele já tínhamos passado por isso. Foi a essa esperança de segunda vida que me agarrei com todas as forças, mas ela estava a tardar em surgir.
A tal chuva molha-parvos acompanhada de nevoeiro nunca deu tréguas, o que aumentava o desconforto e enlameava os trilhos. Não calamiticamente como nos Abutres, mas o suficiente para dificultar as subidas mais inclinadas. O percurso variava entre estradões longos e trilhos muito interessantes. Quanto à paisagem: zero. Praticamente não dei por ela. No fim de uma grande subida ouvia as eólicas com o seu barulho característico, sabia que provavelmente ali existia daquelas vistas de encher a alma, mas eu só via 50 metros de estradão à frente. Era quase como se corrêssemos de palas, muito muito desgastante!
Um exemplo da vista que tínhamos. Ah, e reparem no colega lá em baixo a subir de gatas! |
Os 70km coincidiram com a subida ao ponto mais alto do percurso, com 500m. Depois de alguns quilómetros a subir tínhamos agora um estradão ligeiramente a descer pela frente.
"Vamos a isso", disse para o Omar.
Começámos a correr.
Corremos até uma grande e divertida descida por um trilho inclinado e técnico que serpenteava pela encosta. Fizemos a descida sempre a correr até desembocar em novo trilho plano onde continuámos a ... correr!
Algo estava a mudar. O Omar disse-me que estava com melhor cara e a verdade é que estava a começar a sentir-me bem! Conversávamos e riamos, falávamos dos trilhos e da vida em vez de mortes de renascimentos. Foi assim com este espírito que cheguei ao abastecimento de Degracias, aos 74km. Assim que começo a descer a rua para o abastecimento vi o tónico que me faltava para me trazer de novo para o mundo dos vivos: a Sara e a Mel!
Nota-se muito que fiquei contente por as ver? :) |
Fartei-me de comer neste abastecimento, que mais uma vez era completíssimo! Insisti no pão caseiro com presunto e queijo fresco, que era o que me sabia melhor, mas variedade não faltava.
Normalmente não gosto nada que esperem por mim, percebo que me querem ajudar, mas a verdade é que não gosto de pensar que estou a empatar alguém nem de me sentir pressionado a aumentar o meu ritmo. Depois dos 53km, quando eu fui abaixo, o Omar sentiu a necessidade de não me abandonar. Sei que ele podia bem ter feito pelo menos hora e meia a menos do que fez. O que me impressiona mais no Omar é que apesar de ter um potencial brutal (de certeza que vai andar lá na frente muito em breve) para ele há sempre valores mais altos que se levantam. Ajudar os amigos é um deles. Obrigado por isso Omar!
No abastecimento de Degracias |
Seguimos novamente juntos e com um andamento confortável até entrar no Vale do Poio. Quando começámos a descer para o vale olhámos para a outra encosta e vemos um grupo a correr num estradão. Nãooo, pensámos nós, de certeza que já ali passámos! Se numa prova de estrada já chateiam os retornos, imaginem num trail! Começamos a correr num estradão muuuuuito chato, ligeiramente a subir que nunca mais acabava. Foram 3 ou 4 quilómetros ali, na base do vale, com metros e metros de estradão pela frente. Assim que inclinava um bocadinho começava logo a andar! O Vale do Poio estava a tornar-se uma valente poia até que vemos uma placa a dizer "Trilho do Poio" a entrar pra dentro das árvores. Trilho? Pronto, menos maus, vamos a isso!
Parecia que nos tinham dado um doce, desatámos logo a correr pelo trilho! Foi dos que gostei mais do percurso. Perfeitamente corrível, sempre aos ésses no meio de uma vegetação muito densa que até nos cobria a cabeça! Andámos naquele paraíso cerca de 1.5km até que saímos da vegetação e damos de caras com a zona mais impressionante da prova: o Canhão do Poio.
As fotos não lhe fazem justiça, muito menos print screens de uma filmagem que fiz com a go pro, mas era uma espécie de Grand Canyon. Duas grandes escarpas que se erguiam à esquerda e à direita e nós ali a andar num trilhozinho na base de uma delas! Ainda por cima o tempo ajudou e até abriu nesta altura! Fez-me pensar novamente na monotonia que é correr com nevoeiro, ter o privilégio de ver estas coisas ajuda muito.
O posto de abastecimento de Poios, no fim do Canhão, situava-se ao quilómetro 83. Antes de lá chegarmos devemos ter passado por um carro dos bombeiros. Digo "devemos" porque eram tantos ao longo do percurso que a probabilidade de fazer 5km sem ver bombeiros era muito pequena! Impressionante, é o que me ocorre dizer! Eram centenas de bombeiros sempre com carros e ambulâncias. Nunca estive numa prova assim.
Comi uma canja no posto de Poios (havia comida quente em praticamente todos os postos) e segui caminho, sempre com o Omar. Continuava a sentir-me bastante bem, mas naturalmente desgastado pelos muitos quilómetros que levávamos nas pernas. Principalmente os pés, que estavam cada vez mais doridos. Decidi fazer a prova toda com as minhas Salomon velhinhas o que pode ter sido um erro, mas não tinha confiança nenhuma nas Skechers. Infelizmente, penso que desta é que foram para melhor :(
Já não é só a malha exterior, já tem mesmo buracos :( |
A segunda Base de Vida era em Tapéus, aos 93km. Aqui podíamos mudar novamente de roupa. Mas o que é que interessa mesmo em Tapéus? A mudança de roupa? Os massagistas que lá estavam? A assistência de bombeiros? Não, nada disso. Em Tapéus o que interessa reter é que havia leitão para comer!!! ahahah Sinceramente, nunca vi nada assim. Até comentei com o Omar que ao contrário de todas as provas, nesta ia acabar com mais peso em vez de perder!
Saímos de Tapéus para enfrentar a ultima subida antes da meta. seriam cerca de 7km até Casmilo, onde estava situado o ultimo abastecimento. Foi neste percurso que terminou o meu estado de graça. Desta vez já não era nada psicológico, nem tonturas ou tremores. Estava pura e simplesmente esgotado!
Infelizmente era este o meu estado quando, a meio do trajecto, atingimos a marca dos 100km!
Porra, são 100km, foi a primeira vez! Que se lixe o cansaço e a porcaria da saturação, deste momento nunca mais nos esquecemos!!
Antes de Casmilo passámos por uma das zonas mais técnicas do dia, o Trilho das Buracas. As Buracas são uma formação geológica muito interessantes nas escarpas daquelas montanhas. Segundo percebi, eram antigas salas de grutas que ficaram a descobertos depois do desabamento de algumas encostas. O trilho era muito dificil e a progressão lentíssima. Fizemos as contas e demorámos 50 minutos a percorrer 5km!
Buracas de Casmilo |
Chegados a Casmilo tínhamos tinha mais uma vez à minha espera a Sara e a Maria Amélia! Infelizmente, a primeira coisa que ela nos diz é que o nosso colega de equipaVasco estava na ambulância a receber assistência médica! Tinha-se sentido mal e vomitado. Lembram-se da Sopa da Pedra? Pois, o amigo Vasco achou por bem comer! ahah Fomos logo a correr para a ambulância onde estava o Vasco embrulhado numa manta térmica a receber assistência com uma cara chateada.
Atão pah, vais ficar por aqui?
Perguntei eu.
A médica vira-se para mim e abana a cabeça a dizer que sim.
Ao que o Vasco responde:
Hãn? Nem pensar, isto é pra acabar! ahaha
Depois de alguma negociação com a médica, lá ficou decidido que iríamos os três juntos até ao fim! Ele ficou na ambulância a aquecer um pouco enquanto eu e o Omar fomos comer. Nada mais nada menos que caldo verde e uma bifana!
Os três e a ambulância! |
O Vasco rapidamente se apressou em dizer para nós seguirmos sozinhos, que ele não se importava de ir atrás porque estava mais lento. Mas eu sabia que tinha estoirado há algum tempo e que iria ser eu a fazer de âncora. E assim foi.
Voltámos ao inicio deste post. Estes 11km foram os mais difíceis dos 116. Começou com cerca de 2km sempre a descer por um trilho corrivel e bastante divertido. Percorri-o a correr, com dentes serrados e dores horríveis a cada passada. Quando acabava a descida e começava a subida era um sacrifício voltar a apoiar-me nos bastões, os braços estavam super doridos. Os pés, mais uma vez, eram o pior de tudo! Não a nível de bolhas, mas as articulações no tornozelo latejavam. A somar a isto tudo estava completamente drenado de energia e muito saturado de ali estar.
Mas já faltava tão pouco...
O Vasco e o Omar estavam a ganhar nova vida com o aproximar da meta e eu só os puxava para trás. Sentia-me pior que nunca por os estar a prender, mas simplesmente não tinha mais nada para dar!
A cerca de 500 metros da meta disse-lhes: pronto, vamos a isso.
A uns metros do pórtico estava a Sara e a Mel, que puxei para o meu colo antes de passar a meta. Que ela fique orgulhosa do pai daqui a uns anos, é a única coisa que eu quero.
Dizem que se vive uma vida cada vez que se corre uma ultra. Esta, vivi-a com o Vasco e principalmente com o Omar. Dei-lhes um abraço sentido no fim e digo-lhes agora que nunca me vou esquecer desta ultra aventura. Obrigado aos dois! Obrigado também à minha super mulher Sara, que percorre o que for preciso para me apoiar em todas estas doideiras.
Quantos aos ensinamentos desta prova de como vai influenciar a minha preparação para o MIUT... Bem, falamos disso noutra altura. Agora vou ali comer o queijinho curado que ofereceram no fim e continuar a aproveitar esta nuvem de endorfinas onde me encontro a flutuar no preciso momento :)
Oh Filipe... nem sei como comentar este teu artigo!
ResponderEliminarOntem tive a felicidade de seguir a tua prova pelas passagens nos controlos, com actualização na hora, e fiquei muito feliz com o teu feito. Claro que me chamou logo a atenção o teu fabuloso número de dorsal :)
Muitos parabéns!
Um abraço
Estrondoso, Filipe, estrondoso! :)
ResponderEliminarAté parei de comer o sushi para ler isto com atenção! :)
Um dia espero correr os 3 dígitos, mas até lá, vou-me ficando pelo sonho!
Muitos parabéns e acho que a malta devia juntar-se para fazer uma vaquinha e comprar-te uns ténis novos! :D
Grande abraço!
A Salomon devia oferecer-lhe uns sapatos novo! O Filipe já é um PRO e faz imensa publicidade à marca! ;)
EliminarCorrendo o risco de perder a minha oportunidade, indo para ti, aqui tens algo que até podes desconhecer...
Eliminarhttp://salomonspain.es/salomon-field-testers/
Ainda deves ir a tempo de te inscrever, digo eu...
Não tenho palavras!
ResponderEliminarBRUTAL!
(E pronto amanhã lá vais ter de ir para os aplausos lá no UK!...)
Grande abraço.
Parabéns pelo enorme desafio! A Associação Mundo da Corrida é provavelmente a melhor organização de trails em Portugal. Um abraço e boa recuperação
ResponderEliminarGanda Filipe, Muitos parabéns!!!...brutal a tua prova e a respectiva descrição ...obrigado por isso, vou tirar algumas ilações para as minhas aventuras.
ResponderEliminarGrande Abraço para ti e para o Omar tb (com amigos assim vale a pena)
P.S. E tenho a certeza que a Mel no futuro vai sentir um grande orgulho de ti!!!
Muitos parabéns, Filipe! (Agora por aqui) :) Um espectáculo de prova e de relato. É claro que a Mel se vai orgulhar de ti. Deve ser um sentimento de superação fantástico.
ResponderEliminarBeijinhos e boa recuperação!
Meu caro, mesmo que a Mel ainda não saiba, tenho a certeza que já se orgulha e muito do pai que tem!
ResponderEliminarDito isto, andam a faltar-me sinónimos para "Brutal", "Fantástico", "Animal", "Inspirador" ou espera um pouco que vou calçar umas sapatilhas e já venho!
Gabo-te ainda a paciência e capacidade de escreveres este belo relato ainda no fim de semana!
Confesso que ainda não senti o apelo dos 3 digitos nem ainda o percebo (mesmo que o sentisse neste momento de forma talvez dê para...42 :) ) mas é sempre um exemplo a seguir ler aogo como a tua posta!
Outra coisa, com amigos desses realmente a dureza é a mesma, a forma de a ultrapassar é que deverá ser mais simples, ou menos complicada.
Abraço e bom descanso!
PS: esse apoio familiar deve ser no mínimo fantástico!
Arrepiante é o sentimento ao ler o relato. Eu que fiz uns simples 25k e neste preciso momento tenho dificuldade em levantar as pernas, nao consigo imaginar tamanha odisseia!!! Parabens e obrigado por partilhar :)
ResponderEliminarPedro
Brutal Filipe, que relato e feito fantástico.
ResponderEliminarMuitos Parabéns pela conquista.
Grande Abraço
Excelente relato Filipe, deu para sentir a emoção.
ResponderEliminarObrigado pela Partilha
Parabéns amigo, para além da superação da dor e do querer ficou ainda a vontade de tudo contar como foi. No ponto onde me encontrava a 2 kms da meta onde terminava os trilhos de lama a registar em foto a vossa passagem bem me apercebia do estado físico lastimoso em que se encontravam, mas em todos também vi a vontade férrea em terminar. Parabéns e boa recuperação
ResponderEliminarParabéns Filipe, fui um dos bombeiros que teve com o seu amigo Vasco no Casmilo, fui-lhe buscar três chás, nunca vi ninguém beber tanto chá xD. Li o seu artigo e posso comprovar um espírito notório de entreajuda e amizade durante toda a prova por parte de muitos concorrentes, além disso quase todos os concorrentes nos davam um palavrinha a nós bombeiros, foram bastantes simpáticos, foi a primeira vez que tive de prevenção num trail e gostei bastante, parabéns a todos! :)
ResponderEliminarOra essa Filipe, estamos lá para isso, obrigado pelas suas palavras e para o ano há mais xD
EliminarBoa prova, complementada com uma boa crónica!
ResponderEliminarBom espírito de entreajuda e camaradagem!
Que bom terminar uma Ultra de três dígitos com a filha ao colo!
Reconhecer o apoio incondicional da mulher, para além de altamente justo, é um gesto bonito!
E eu sei do que estou a falar. Corro há 40 anos, tenho centenas de provas nas pernas e ontem, nos 25 km, fiz a minha centésima prova com 20 ou mais km!
Parabéns e boa recuperação!
Orlando Duarte
MUITOS PARABÉNS FILIPE!!!!
ResponderEliminar116 KM!!!! BRUTAL!!!!!!!!!!!!!!!!!!
O João estava a seguir o teu progresso e foi-nos informando, ficámos entusiasmados por ti em cada passagem nos controlos e quando chegaste à meta!
Grande feito! E grande relato! Revivi um pouco do que foi a nossa prova, também passámos em muitos desses sítios e também comemos muita coisinha boa. Os abastecimentos nesta prova eram dos melhores de sempre! Comi tanto queijo! E o que me soube bem quando aos 53 km comi um caldo verde.
Olha, sem mais palavras sobre o teu enorme feito!
PARABÉNS!!!!
Beijinhos
Brutal o relato e a prova Filipe! Que dureza.
ResponderEliminarSimplesmente inacreditável :)
Boa recuperação
Muitos parabéns Filipe!
ResponderEliminarQue grande relato sobre um grande feito!
Força para o próximo grande desafio!
Abraço
Parabéns Filipe! Grande relato daquilo que (deve ser) uma grande prova.
ResponderEliminarSó por esta crónica, já me dá vontade de experimentar os 3 dígitos em sicó 2016... :)
Ai mãe... eu juro que não conseguia tal feito.. és todas as palavras animalescas que te possas lembras na gíria do trail! Parabéns mesmo! É uma coisa para a vida mesmo!
ResponderEliminarFico à espera dos ensinamentos que retiraste desta prova para o MIUT.
Um grande abraço e parabéns outra vez!
PS: Para a próxima leva uma mochila maior e trás umas coisas dessas mesas de comida, é que fiquei com fome só de olhar eheheh
Muitos parabéns amigo Filipe! Muitos parabéns mesmo!
ResponderEliminar"Porra, são 100km, foi a primeira vez! Que se lixe o cansaço e a porcaria da saturação, deste momento nunca mais nos esquecemos!!"
E é isto! Aposto que este momento valeu os 111 Kms :)
Abraço
Passei os últimos dias a ler o blog, desde o inicio!
ResponderEliminarIncrível a evolução, a força de vontade, motivação. Quando for grande quero ser assim!!
Espero um dia encontrar-te uma prova e dar-tos pessoalmente, mas por agora ficam aqui:
Muitos Parabéns, por tudo: pela evolução, por esta prova, e pelos relatos, que nos conseguem colocar no local a viver o momento!
Abraço