As minhas corridas na estrada

domingo, 27 de outubro de 2019

20km de Almeirim - ORGULHO

Hoje corri, pela 14ª vez, os 20km de Almeirim. Já aqui escrevi várias vezes sobre esta prova, que se confunde com a minha cidade, Almeirim. Para mim, os 20 são Almeirim. É neste dia que gosto mais da minha cidade, de cada rua e de cada pessoa que, orgulhosamente, sai à rua. 

Almeirim é uma cidade com uma história gloriosa ligada ao atletismo de rua. Grandes campeões já por aqui passaram. Já se correram campeonatos nacionais de maratona, campeonatos da Europa de meia maratona, é daqui o record nacional dos 20km! Já mudou a data, já mudou o percurso, já houve e deixaram de haver prémios monetários, há cada vez mais concorrência (quantas provas houve este fim de semana, 20?), mas ano após ano há uma multidão de fieis que vem correr nas ruas largas de Almeirim. A nossa cidade. 

Partida. Foto da Fátima, também sempre presente!
A mim, a prova nem correu muito bem. Tinha um ritmo idealizado e a estratégia era tentar aguentá-lo até ao fim. Falhei redondamente. Os sub 4'/km deixaram de aparecer lá para os 11, 12km e foi a sofrer até ao estoiro final, depois da ponte da vala, à entrada de Almeirim. Terminei com 1h21 e muito, quase 22. Mesmo assim, algumas horas depois, há um sentimento que me enche por completo: orgulho

Orgulho pelo Miguel, o grande Madruga, o homem que ouve o nome dele gritado pelo menos por 500 vezes durante o percurso. Fez uma prova de sonho, um tempo brutal. Orgulho pelo Rodrigo, o meu mais antigo companheiro de corridas, que a uma semana da maratona do Porto está numa forma incrível. Fomos juntos até à ponte da vala, depois deixei de ter pernas para o acompanhar. Pelo Mota, que, sempre certinho, fez uma prova perfeita, de trás para a frente. Isto depois de completar 32 anos a semana passada! Eles os três, comigo a fechar o quarteto que treina junto quase todos os dias, deram o 4º lugar por equipas à equipa de Trail da Associação 20kms de Almeirim! Nada mau, para quem gosta é de andar no monte!

Todos dentro do minuto 21!

Orgulho pelo David, que voltou com uma prova bombástica, a alcançar um 3º lugar À GERAL na nova prova de 10km. Orgulho pelo Alexandre, que com pouco mais de duas semanas de corrida fez uns 20 perfeitos e, melhor que tudo, acabou com verdadeira alegria e satisfação. Orgulho pelo João Martins, uma das pessoas mais esforçadas que eu conheço e que me dá uma alegria incrível ver a cumprir os objectivos. Pelo Humberto, que apesar de não ter chegado ao almejado 100, treinou durante meses de forma obstinada de madrugada e isso é mesmo o mais difícil. Pelo Rui, que esmagou os tais 100 e provou ser merecedor do titulo de fingidão. Quer dizer, ainda tem o Gonçalo à perna, que no meio de tanto queixume sacou uma prova fantástica! Pela Sara e, principalmente, a minha Maria Amélia, que já está a entrar no espírito Vinte e completou os 6km da caminhada! Pelo Valter, cada vez mais a cara e a voz de Almeirim, que fez um grande trabalho como speaker. Orgulho pelos ansiães Manuel Almeida, Zé Teodósio e Carlos Garcia, que já estavam lá nos meus primeiros 20, em 2005, ainda lá estão e por lá ficarão muitos anos! Orgulho pelos 80 ou 90 Almeirinenses que saíram à rua nesta manhã para se superarem, para fazerem desporto, para viverem! 

Esta é mesmo a nossa prova. Até para o ano!

Pódio do concelho, do escalão M35. Sim, o pódio dos maiores da rua. O maior é o Rodrigo!

Humberto, Alexandre, Neta e Gonçalo 

Foto de Família da Associação 20kms de Almeirim

Vintes do Trail presentes nos vinte da estrada!

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Louzan Skyrace (24km) - Fast & Furious

No site da Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal podemos ler o seguinte:

Em resumo, Skyrunning é uma atividade de corrida pedestre essencialmente na montanha. Os percursos de skyrunning apresentam um elevado desnível positivo, secções técnicas e inclinações acentuadas (superiores a 30%), podendo utilizar caminhos, trilhos, rochas ou neve. 

Eu acho que deviam acrescentar um parágrafo a dizer:

Bem, mas se querem mesmo saber o que é Skyrunnning, vão até à Louzan SkyRace.


Finalmente, fotos de qualidade neste blog! Pois claro, o Miguel Cadalso (M.C.) foi à prova, lá me safei! 
Antes da prova começar já estava tudo a bater certo. Um ambiente familiar, grandes atletas à partida, excelente organização no secretariado e na zona da meta, um percurso certificado pela Federação Internacional de Skyrunnning (o 1º em Portugal) e um dia perfeito na Lousã. Com neblina lá em cima, tempo frio e húmido de Outono e depois de uma semana de chuva. Parecia de encomenda! às 8:30 de domingo lá partiram os cento e poucos atletas para a primeira, e certamente memorável, edição da Louzan Skyrace!

Partida, foto da organização.
O percurso é simples de explicar: 24km com 2200+, 3 subidas e 3 descidas. Três picos para conquistar pelo caminho mais curto (e necessariamente inclinado), um deles o Trevim, e três descidas a pique. É isto que eu adoro no sky: curto e grosso. Desnível, intensidade, técnica e velocidade!

Cerca de 1km em estrada depois da partida foi o que chegou para nos levar à base da primeira montanha. Um arranque rápido tratou de elevar as pulsações e o desnível começou logo a ser-nos servido em doses consideráveis. Primeiro num estradão e muito pouco depois naqueles trilhos de sonho da Lousã: terra castanho-escuro, mole, sem pedras, a serpentear pelas árvores.

M.C.
O modo fast & furious estava ligado, estendia o trote até ao limite, ajudado pelos bastões, até ceder e ter que caminhar. Assim que o terreno permitia voltava a ele, revigorado. 500, 600, 700+. Olhava para o relógio e os metros verticais subiam bem mais depressa que os quilómetros horizontais. À medida que nos aproximamos da cota 1000 o tempo vai piorando, aumenta o vento e o nevoeiro. Começo a ouvir as eólicas, escondidas pelo nevoeiro, quando a vegetação desaparece e o vento aumenta. Sinal que estou perto do topo! Ataco o pico a trote ao mesmo tempo que desarmo os bastões e abro a passada nos 50 metros de planalto antes da descida. Mesmo antes de a atacar olho para a frente e vejo, numa pequena aberta das nuvens, a Serra da Lousã em todo o seu esplendor! Solto um sorriso de pura excitação e meto uma abaixo enquanto me lanço na descida!

M.C.
Inclinada, muito inclinada! Xisto solto por todo o lado! Levo os bastões desarmados, um em cada mão, o que me garante o equilíbrio para descer a uma velocidade bem acima do que normalmente acharia razoável. Tento não pensar muito nisso e acelero ainda mais quando o trilho passa do xisto à terra! Vejo agora no Strava que o ritmo andou quase 1km pelos 4'/km baixos! Já desde o inicio da subida que não passo nem sou passado. Aliás, não vejo ninguém nem à frente nem atrás! Só oiço o bater furioso dos meus pés e a respiração ofegante!

Chego em êxtase da descida a Cerdeira, local do primeiro abastecimento e base do ataque ao segundo pico. Quase nem abrando enquanto pego numa banana à pressa e começo a subir a trote.Volto a armar os bastões. Em movimento, sempre em movimento. Cerca de 1km de sobe e desce rápido levam-nos à pornográfica subida ao Trevim. 

Cerdeira. M.C. 
Uauuuu que subida! Perfeita, perfeita! Subimos por um vale cheio de pedra, muito apertado, com água a escorrer por pedras cobertas de musgo. Super inclinado, super dificil! Que monumento!! Saímos do vale/cascata e entramos numa zona de muita pedra, perigosa, molhada, fria. Apetece-me gritar enquanto sinto o coração a sair da boca. Tinhas as pernas no limite quando o trilho abriu e ficou corrível, tratei de forçar novamente o trote. Vai, vai, vai..!!!


M.C. e M.C.

Trevim.

Uma pequena volta às antenas. Não se vê nada nem ninguém, está muito nevoeiro e frio. Tento recuperar o fôlego enquanto corro os 100 metros a direito antes da descida. Volto a desarmar os bastões, respiro fundo e...siga!!

Faço-me ao trilho a descer a uma velocidade proibitiva. Conheço esta parte inicial do Louzantrail e de uns treinos que lá fiz. É brutal, pouco inclinada, muito técnica e rápida! Saímos deste trilho para 50 metros num estradão e entramos num trilho de terra. Abro a passada, aumento a velocidade! Uma escorregadela e outra e outra... O trilho transforma-se num autentico escorrega de lama, não consigo dar 3 passos sem escorregar de rabo! Tento mais uns metros mas estou cada vez mais lento, depois de mais uma queda decido armar os bastões. Está melhor, mas é mesmo muito dificil, caio vezes sem conta! 

M.C.
Segundo abastecimento. Bebo três copos de isotónico, recuso a comida, tinha metido um gel. Pergunto se a ultima subida estava perto, informam-me que são mais 1km. Ok, bora!

Segue-se 1km num estradão a descer. A fundo, aproveito para dar o gás todo. O trilho aparece. Em terra, macio, mesmo bom. As pernas da subida teimam em aparecer, não consigo manter o trote. Toca a bastonar. Puxa, puxa, puxa..!!! Gradualmente vou entrando na subida, que está cada vez mais inclinada, mas sempre num trilho aos ésses pela terra escura. Tal como nas duas anteriores, quanto mais subo melhor me sinto. O trote volta a aparecer já junto ao pico, mesmo a tempo de o virar. Olho para o relógio: 18km e 2050D+. 

Arruma bastões, respira fundo, mergulha!!!

Yep. Era por ali abaixo! M. C.
Uuuiii que loucura! Que inclinação! Fazemos uma parede com 40 e muito por centro a descer, onde no dia anterior andou o km vertical. Quadricepes a arder, sigo no limite, a fazer uns 10 passos por metro, para tentar manter algum controlo! Saímos da parede, inclinação acalma mas aumenta a tecnicidade. Tumba, tumba, tumba, sempre a puxar! Tropeço, caio, rebolo. Levanto-me, pego nos bastões e siga!

Últimos 3km, andamos muito em estradões e trilhos fáceis, velocidade várias vezes abaixo dos 4'/km! Sinto-me com força, com energia no depósito que nunca mais acaba. Não vejo ninguém nem à frente nem atrás há que tempos, mas isso não interessa nada, ia rebentar com aquela descida! 

M. C.
Uma ultima pequena subida feita no limite e finalmente os 2km finais para a meta. Puxo, meto a carne toda no assador, nem nos 700m finais, feitos na estrada, eu desarmo! Mais um esforço e...META!

Até ao fim!
Com o Hugo Água, na meta! Foto da Carmen Almeida
Puffff!! Que prova!! Que adrenalina! Muitas horas depois, à noite, enquanto tentava dormir, ainda estava elétrico! Que brutalidade de percurso, o melhor que já fiz na Lousã! 3h43 foi o que demorei, classificando-me em 16º. A posição é a mediocridade do costume, mas esta foi daquelas que me deixou mesmo orgulhoso. Foram 3h43 no limite, de faca nos dentes. Hoje tenho os quadricepes desfeitos das descidas mas a mente ainda está naquela subida ao Trevim, naquela ultima descida, naqueles trilhos brutais! 

Obrigado Montanha Clube, obrigado Louzantrail! Foi do caraças!!!








segunda-feira, 7 de outubro de 2019

III Freita Sky Marathon - Colher frutos na Freita

Passaram mais de dois meses desde a ultima vez que fiz uma prova, a Arada Night Race. Na semana seguinte tive a minha habitual (e justificada) quebra anual. Logo a seguir à prova fiquei com febre durante uns dias e demorei umas semanas até me sentir bem novamente. A coisa bateu certa com o meu plano de abrandar um pouco nos meses de Julho e Agosto e preparar o segundo semestre de provas como deve ser. Assim foi, continuei a treinar todos os dias mas com menos intensidade e, devagarinho, foram voltando as boas sensações. As pernas foram ficando mais leves, a velocidade estava a aparecer e sentia-me cada vez melhor a subir. Chegado a meados de Setembro já só tinha uma coisa em mente: voltar a correr com dorsal!

Frecha da Mizarela, foto da organização.
Eu adoro correr em provas. Adoro competir! Mas, atenção, não quero dizer que vá para as provas com a ilusão de discutir pódios, muito menos a vitoria. Não, sei bem o meu lugar. Quando, muito esporadicamente, acontece, é porque a concorrência também não é enorme. Mas uma coisa ninguém me tira, que é chegar ao fim com a consciência que dei tudo o que tinha, desde o primeiro metro! Foi por isso com níveis de ansiedade fora do normal, motivados pela ressaca de voltar a ter essas sensações, que me apresentei em Felgueira, no meio da Serra da Freita, para a minha terceira participação da espetacular Freita Sky Marathon (FSM).

Partida, na Eira d'Além. Foto da organização
Esta é sem dúvida uma das minhas provas preferidas. Tem uma característica que a distingue de todas as que já fiz, o nível de dificuldade vai aumentando gradualmente ao longo dos 42km, culminando na terrível parede que temos que transpor a apenas 2km da meta. Não sei se era esse o objectivo do Ricardo Fernandes quando desenhou este percurso, mas bate certo na perfeição. Depois, outra coisa que gosto, é que o percurso é igual todos os anos. Talvez pelo meu histórico na natação, tenho tendência a comparar registos actuais com anteriores. Uma das coisas que me leva a repetir provas é precisamente tentar superar o que fiz nos outros anos. Era esse o objectivo para 2019: superar as 7h05 de 2018 (em 2017 tinha feito 7h38). 

Em 2017, na primeira edição, descrevi o inicio da FSM como fofinho. São 17km com cerca de 800+, percorridos em trilhos pouco técnicos, misturados com 2 ou 3km de estradão e umas poucas levadas que obrigaram a saltitar e a ter algum cuidado extra. Claro que só é fofinho se formos com pouca intensidade. Parti cheio de vontade e fiz os 17km sempre perto do limite, subidas a trote e descidas a arriscar. Cheguei à aldeia de Berlengas, início da primeira grande subida, com média de 5'40''/km! 

É ali por volta dos 17km, depois da descida abrupta, que realmente começa a prova.
Nas Berlengas começamos a primeira das duas grandes subidas, cada uma com 800+, a primeira em 5km e a segunda em 3. Gosto mais da primeira. Começa por percorrer um trilho muito técnico e inclinado depois da Cascata das Porqueiras (trilho esse feito a descer no UTSF, que tanto trabalho me deu), depois acalma um pouco mas continua embrenhado no bosque até chegar à aldeia da Lomba, onde havia um abastecimento. Aí a subida começa uma segunda fase, esta em paisagens graníticas, sem trilho, mesmo como eu gosto! Com passagens muito técnicas entre maciços de granito enormes, pedaços bons para trotar e outros mais trabalhosos, quase sem darmos por isso já estamos perto da cota 1000 e a percorrer os 2km de planalto antes de começar a descer de novo o Vale Mágico, de volta a Lomba. 

Cascata das Porqueiras, sacado do Google. Claro que não tirei nenhum foto......
Seguindo a máxima de ir aumentando a dificuldade ao longo do percurso, a descida é técnica QB. Um trilho brutal na encosta do vale, com muita pedra (xisto) e a requerer atenção constante. Nova passagem pela Lomba a meio da descida e siga para o fundinho do vale, onde um pequeno e fresco ribeiro, no qual praticamente tomei banho, marca o inicio do KV da Freita. 

Seguia-se a segunda grande subida, com o mesmo ganho de elevação da primeira mas com cerca de metade do comprimento. Em que é que isso se traduz? Pois claro: inclinação com fartura!

Nesta já não há cá patamares para trotrar ou trilhos variados, é apontar pra cima, cabeça baixa e toca a trabalhar! A parte final é coincidente com o famoso trilho de Bradar aos Céus do UTSF, onde ainda há poucos meses penei como um cão. Foi precisamente aqui que tive a minha pior fase nesta FSM. A parte final, feita debaixo de um calor considerável e num trilho xistoso muito exposto, aqueceu como um forno. Comecei a entrar em desequilibro, a transpirar e a beber muita água, com as pernas a perderem forças e a respiração descontrolada. Foi com muito esforço que voltei a meter o trote no estradão ligeiramente a subir já perto do Pico da Gralheira. 

Radar meteorológico no Pico da Gralheira. Do Google, pois claro.
Estavam cumpridos 34 dos 42km. Quase no fim, dizem vocês. Pois bem, na verdade é este ponto que, para mim, marca o meio da prova!

Ia entrar agora na fase decisiva da FSM. Seguiam-se 4 rounds de uma luta intensa, 4 etapas distintas que, tal como é apanágio desta prova, aumentam gradualmente de dificuldade até ao final!

Round 1

Depois de 2km de descida fácil, durante os quais dá para abrir a passada e as pernas começam a desabituar da pressão, uma pequena, mas inclinada, parede de 100+ separa-nos de Cabaços. O desconforto enorme de trocar as pernas de descida pelas de subida é atenuado pela chamada da Sara, que me liga a dizer que está em Cabaços com os miúdos à minha espera. 

Foto da Sara, com a Mel lá atrás, a chegar ao controlo de Cabaços.
Round 2

Mal saímos de Cabaços entramos no infernal PR7. A descida para a base da Mizarela é feita a 4 apoios e constantemente a pensar no passo seguinte. Na base da cascata saltitamos por enormes pedras de granito e voltamos e enfiar-nos no mato para uma parede escalada no meio de raízes e terra preta. O round acaba com uma seta à esquerda e a entrada num balcão que nos dá uma assombrosa vista para a Frecha da Mizarela, este ano com um caudal considerável de água!

Foto do ano passado, na base da Mizarela
Round 3

Agora seguimos completamente embrenhados no PR7. Uma descida suicida enfia-nos no vale onde corre a água da Mizarela. Constantemente a ter que saltar balcões de pedra, num trilho onde os bastões só atrapalham. Tomo um gel a meio da descida já a pensar no round final, mas sinto-me bem. A Sara disse-me em Cabaços que seguia em 10º, o que me surpreende. Não estava à espera de estar tão bem! Desde o km vertical que não via ninguém à frente ou atrás, por isso subir posições estava fora de questão, mas ia dar tudo para manter a que ocupava! O tempo de prova também estava com bom aspecto, um bocadinho menos de 6 horas quando comecei a subida final. Se tudo corresse normalmente chegaria bem antes das 7 horas, mas ainda falta aquela ultima parede...

O PR7, tirado do Google. Dá para perceber bem o tipo de terreno.
Round 4

Aí estava ela, a 2km da meta, a parede final. No papel nem parece grande coisa, tem apenas 800m de comprimento. Mas são os quase 300m de subida, com inclinações que chegam bem acima dos 35%, numa fase tão tardia da prova, que a tornam implacável. É toda feita numa crista completamente exposta, que nos deixa ver do primeiro ao ultimo metro da subida. Meti bastões a trabalhar e icei-me por ela acima, sempre no limite, a escorrer água. Pelo canto do olho vi o 11º e logo a seguir o 12º a começar a subir, levava uns 7 ou 8 minutos de vantagem. Era pouco, o 12º estava com um grande ritmo e tinha ganho uma posição, qualquer hesitação minha e era virado também! A parte final foi toda feito no limite! Com as pernas a ameaçar ceder bebi os dois últimos goles de água que tinha e estava a poupar para aquele ponto. Com um grito virei a subida e debrucei-me sobre os joelhos por não mais que 10 segundos. Rapidamente desmontei os bastões e, sem olhar para trás, lancei-me à descida! 

Estava feito! A descida passou sem incidências, 6h33 depois estava de volta a Felgueira. 33 minutos a menos que o passado e mais de uma hora a menos que 2017! Segurei a 10ª posição mas, acima de tudo, foi aquela adrenalina brutal de ter conseguido cumprir o plano que me deixou nas nuvens. Ao analisar a actividade no Strava percebo que bati os records pessoais nos 12 segmentos onde passámos. A sensação de trabalho recompensado é impagável, treinei muito para conseguir estar nesta forma e é espetacular colher os frutos!