As minhas corridas na estrada

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Porque fazemos o que fazemos.

Este fim de semana, em conversa com uns amigos Muggles, veio à baila a empreitada que o português José Massuça vai iniciar no Hawai daqui a uns dias: o EPIC 5. Trata-se de um ironman por dia, durante 5 dias, em 5 ilhas diferentes daquele arquipélago. Imediatamente a conclusão de todos foi que isso é uma parvoíce e que "já é de mais". Bem, de todos menos...eu. 

Não sei exactamente em que ponto da minha vida se deu a mudança. Tempos houve em que eu próprio falei em exagero, loucura ou ultrapassar limites. Como em 2010, quando corri a minha primeira maratona e me falaram em ultras. Ou 2012, quando fiz o meu primeiro trail, de 30km, e no mesmo dia se corriam os 80km do UTAX. 

O que leva alguém a fazer 5 ironman seguidos? Atravessar o Canal da Mancha a nadar, correr 250km no sitio mais quente do planeta, 300km nos Alpes ou na Via Algarviana? O que leva alguém, que tem uma família e uma profissão, a passar horas a treinar de madrugada, quando não tem a mais pequena ambição de sequer chegar a um pódio, quanto mais fazer uma vida disto? 40 ou 50 minutos de exercício 3 vezes por semana parece-me perfeitamente razoável para ter uma vida saudável, porque é que não ficamos por aí? Porquê perseguir uma série de conquistas inúteis, como tão brilhantemente o Rui Pinho descreveu depois da sua participação no UTMB'17?

A resposta não vem na forma de uma epifania. Aliás, sinceramente nem sei se há uma resposta! Cada um tem as suas motivações, suponho. Descobrir até onde podemos chegar, estar em comunhão com a natureza, a aventura ou a competição. Eu persigo aquela sensação de estar na linha de partida de uma aventura que durará 1 ou 2 dias, depois de horas e horas de treino, sem fazer a mínima ideia do que me espera. A conquista da distancia, do desnível, o virar de um cume, a vertigem de uma descida, o medo, a euforia, o desespero...

Mais do que uma resposta a esta pergunta, o ponto de viragem aconteceu no momento em que percebi uma coisa muito simples: nós somos capazes. 

Não é nenhum gene especial ou super poder físico. 

Sim, eu sei que isto soa a Gustavo Santos, mas a conclusão não podia ser mais básica e despretensiosa! É que, por arrasto, de repente damos por nós a fazer a pergunta que pode mudar a nossa vida: porque não?

Eu não sei qual foi a motivação do Massuça para ir fazer o EPIC 5, mas entendo-o. 




4 comentários:

  1. A adrenalina de passar a meta e atingir um objectivo...

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  2. Completamente de acordo com o que muito bem dizes.
    Cada um sabe de si e das suas capacidades / sonhos / objectivos / desafios.
    O problema é que o pessoal adora ser juiz em causa alheia, não seguindo uma frase dos índios Sioux que diz "antes de julgares alguém, tens primeiro que palmilhar milha e meia com os seus mocassins"

    E isso dos limites... também eu, antes de começar a correr, achava que era uma loucura uma Maratona. Aliás, quando me estreei na Mini da Ponte e me perguntaram se ia à Mini ou Meia, respondi convicto "Mini! Meia nunca farei" Um ano depois estava na mesma ponte a estrear-me em Meias...

    Um abraço e que cada um seja feliz com o que faz, sem julgamentos alheios

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  3. Julgar, não julgo ninguém. Cada é um livre de fazer o que quiser. Eu por vezes tenho pensamentos que podem gerar controvérsia, como por exemplo ouvir falar de alguém que faz um triplo Ironman e fico a pensar "mas porquê?!".

    Mas a verdade é que acabo no fim por admirar essa pessoa. E o porquê, para mim basta dizer "porque quero". Cada um tem as suas motivações pessoais mas no fim tudo se resume à superação pessoal. É sempre um cliché mas é a realidade!

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