Mais uma vez, aconteceu Casainhos!
Pelo quinto ano consecutivo, o
inicio de Novembro é marcado pela ida a Casainhos. Quinto ano que vou escrever
um texto sobre uma prova da qual aparentemente não teria nada de novo a dizer.
Afinal de contas o percurso é mais ou menos sempre o mesmo, o almoço também
nunca foi diferente, até as pessoas vou vendo as mesmas ano após ano. Mas a
verdade é que nunca resisto a escrever sobre este domingo, invariavelmente um
dos melhores do ano. Em nenhuma outra prova do país me sinto tão em casa. Todos
me tratam pelo nome. Desconfio que é assim com quase todos os 300 que lá vão, mas
não quero saber. É como se fizesse parte da família.
É isso, família.
O Trail de Casainhos é como se
fosse um daqueles ajuntamentos familiares em que se matam saudades dos avós e
daqueles tios que não vemos há meses. Há riso, boa disposição, comida com
fartura em cima da mesa e um almoço que se prolonga até meio da tarde!
Este ano choveu. Não,
desculpem, acho que não passei bem a mensagem. Este ano CHOVEU.
Estava a chover quando fomos levantar o dorsal, estava a chover durante a prova
e continuou a chover enquanto estávamos a almoçar. A certa altura, durante a
corrida, a chuva era tanta que tinha dificuldades em ter os olhos abertos e ver
o caminho! Condições perfeitas, diria eu, para uma prova com cerca de 14km e
660 metros de subida onde o ritmo é sempre elevadíssimo. Não há cá tempo para
sentir frio ou para gestão de esforço, é prego a fundo do primeiro ao ultimo
segundo!
Há coisas que não mudaram mesmo nos ultimos 5 anos. O meu ar envergonhado, o ar ameaçador do Sommer e o facto de chegar à frente dele. Sim, sim.. para o ano é que é, diz ele. |
Foi isso que fiz. Às 10:45
arranquei a ritmos perfeitamente anormais para mim numa prova de trilhos, de repente
estava no grupo dos 5 primeiros a correr abaixo de 4. Tenho notado ultimamente
que demoro uns bons 20 minutos até começar a sentir-me bem a correr, talvez por
isso aquela primeira subida em trilho tenha sido tão massacrante! Mas não havia
tempo para pensar nisso, lancei-me na descida atrás do Zeca e ultrapassamos
mais um na subida seguinte em estradão. Íamos em 3º e 4º! Descemos furiosos
pelos trilhos técnicos de Casainhos para o que pensava serem cerca de 3 ou 4km
rolantes antes de atacarmos a parede da prova, mas este ano houve uma alteração
e tivemos uma boa subida em single track antes de lá chegar. Comecei a subir a
trote à frente do Zeca e a aproveitar os pequenos patamares mais planos que o
zigue-zague do trilho proporcionava, mas percebi depressa que a minha
respiração estava muito mais ofegante que a dele, ainda lhe ofereci passagem
algumas vezes, o que acabou por acontecer logo no inicio da parede da prova.
A parede de Casainhos é mítica. Não é uma mega subida, ainda assim
ainda vence 160+ em 500 metros, mas tem algumas características muito
engraçadas. Primeiro é muito exposta, o que neste dia de diluvio foi
significativo, depois é toda feita num trilho bastante inclinado e trabalhoso,
e finalmente tem um patamar a meio que não deixa ver a segunda metade da subida
até o transpormos. Ou seja, tudo o que uma boa subida de montanha deve ter, mas
em ponto pequeno! É espetacular ouvir os comentários do pessoal que não costuma
correr em montanha.
Nunca uso fita para registar a frequência cardíaca, mas é nestes
momentos que gostava de ter isso. Tenho a certeza que todos os 500 metros foram
feitos bem no limite. Ainda assim o limite não foi suficiente, o Zeca fugiu
definitivamente e ainda me apanharam mais dois companheiros que vinham logo
atrás. Quando cheguei lá acima não sabia se havia de vomitar ou atirar-me para
o chão a chorar. Decidi ficar pela terceira opção, que foi desatar a correr
atabalhoadamente pelo estradão, entretanto transformado em rio, com água a meio
da canela.
Até ao fim ainda fui vendo o Carlos, que ia em 5º, mas apesar de
ir ganhando terreno nas descidas nunca o consegui acompanhar nas subidas. Cheguei
ao campo do S.C. Casainhos com 1h15 em 6º, 20 segundos atrás do Carlos e 4
minutos depois do 1º! Eu sei que só faço estes "brilharetes" quando
não há concorrência, mas, porra, é uma adrenalina do caraças ir a controlar as
posições sempre no limite. Uma prova à Tiago Godinho!
Mas este ano o destaque de Casainhos esteve longe de ser o meu
sexto lugar. Muito longe! As verdadeiras campeãs foram a Sara, a Sra. Ribeiro e
as mulheres do Zeca, Salvador e Diogo (lembram-me do acampamento na Freita Sky
Marathon?). As 5 propuseram-se a fazer a simpática e acessível (pensavam elas)
prova de Casainhos. Tirando a Sra. Ribeiro, todas tinham zero experiencia de
trilhos e apanharam logo o maior diluvio que vi nos últimos anos. Às tantas já
estávamos os 5 à espera delas e a conjeturar se teriam o que era preciso para
acabar. Achámos que chegariam mal dispostas e prontas a baterem-nos! Não podíamos
estar mais enganados. Passadas 3h15 de lama, quedas, corrida, chuva torrencial,
trilhos técnicos e paredes transpostas lá entraram as 5 na reta da meta, a
correr, sorridentes, umas ao lado das outras. Foi lindo! Uma festa enorme, gargalhadas
e vídeos, vinham a explodir com histórias para contar, mas essas tiveram que esperar
pelo urgente banho quente.
Foto de família |
O terceiro ato deste domingo perfeito foi nas mesas do almoço.
Elas 5, nós os 5, mais o João e o Bruno, colegas de trabalho que arrastei para
esta vida, e o Ângelo, uma espécie de irmão que tenho desde o primeiro dia de
faculdade, em 2002, e que também se estreou nos trilhos neste dia. Tenho a
certeza que às dores musculares da corrida se juntaram também maxilares doridos
de tanto rirmos, por entre pratos de feijoada, canja e arroz doce. Depois do
café, lá para as quatro da tarde, quando os lábios das raparigas finalmente
perderam a cor roxa do frio e a feijoada pesava como um tijolo na barriga, lá
fomos para casa para uma merecida sesta no sofá.
Com o Ângelo |
Que dia perfeito.
Acho que sei porque é que vejo sempre as mesmas 300 pessoas ano
após ano em Casainhos. São as 300 pessoas que sabem que este é o segredo mais
bem guardado do trail Lisboeta e não perdem tempo a inscreverem-se antes que
esgote. Os outros... fiquem atentos em 2019, a família pode sempre aumentar! :)
Muitos parabéns pelo dia perfeito e pelo 6º lugar à geral!!! Isso já é de elite!!! :)
ResponderEliminarUm abraço e força para os próximos desafios
Impressionante, 7,5 km de casa e nunca lá fui.
ResponderEliminarImperdoável, mesmo.
Ainda mais pelo que, ano após ano, escreve sobre.
Parabéns pela prova e classificação, assim como à armada feminina.
Abraço
Grande Filipe! Estou como tu... já deve ser a 5° ou 6° edição que participo. Gosto do ambiente e partilho da tua opinião.
ResponderEliminarPS: Mal sabes tu que já vinha todo roto...😉👍
Abraço e para o ano lá voltaremos.
Maravilha! Claramente que a classificação final é o que menos interessa no meio dessa prova em família. Que senhor dilúvio que apanharam! Abraço!
ResponderEliminarEstou a ver que lhe estás a pegar no gosto das provas com a corda na garganta... Cuidado, uma vez lá dentro e já não sais mais de lá :p
ResponderEliminarParabéns pela tua prova e pela da Sara!
Estou feita, portanto... :/
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