As minhas corridas na estrada

domingo, 14 de novembro de 2021

"Ter fé é dançar na beira do abismo". Vem aí o Madeira Island Ultra Trail.

Há cinco meses que não escrevo aqui. Não há volta a dar, pela primeira vez em quase 7 anos não me tem apetecido escrever.

Apesar de nulos em escrita, foram 5 meses fartos em corrida. Não em provas, mas em corrida. Daquela pura! Muitas saídas de madrugada na Estrela, na Gardunha, na Lousã e até nos Açores. Quase sempre sozinho, outras vezes acompanhado apenas por uma ou duas pessoas, foram corridas onde senti uma sintonia comigo mesmo que não me lembro de alguma vez ter sentido ao longo dos anos todos que corro. Talvez por isso, pelas peças todas que encaixaram na perfeição e conseguir tirar da corrida tudo o que preciso, me tenha afastado do blog.

Nascer do sol no Cântaro Gordo, na Estrela

Nascer do sol no Pico da Vara, em São Miguel nos Açores

E....nascer do sol no Trevim, na Lousã! O que é que querem, gosto de treinar cedo...

Bem, mas chega de melodrama e sentimentalismo. Vamos lá despachar a ordem do dia que os 3 ou 4 que ainda estão a ler já começaram a olhar para as notificações no telemóvel. 

Desde os 65km da Freita, o ultimo relato que aqui escrevi, o meu foco virou-se para o Adamastor do costume: o MIUT. O meu 6º MIUT, que, fruto daquilo que nós sabemos, este ano passou do habitual mês de Abril para Novembro.

Desde então participei apenas em duas provas. Os 50km do Estrelaçor e os 20km de Almeirim. Ambas correram muito bem. Foram as primeiras duas provas desde que comecei o blog sobre as quais não escrevi no fim. Infelizmente, um ou dois dias após cada uma delas, faleceram dois familiares muito próximos, o que obviamente me deixou sem disposição para relatos. Segue um curtíssimo resumo:

No Estrelaçor ficou provado mais uma vez que aquele é um traçado perfeito para mim, com a primeira metade muito técnica e a segunda muito rolante. Também já percebi que entre os 30 e os 50km é a distância onde sou mais competitivo, e isso provou-se na Estrela, com um 10º lugar da geral. 

Não tenho uma única foto no Estrelaçor, mas esta é de um treino que fiz na Estrela e passámos ali naquele lago lá em baixo. Por isso....serve!

Nos 20km consegui finalmente alcançar algo que perseguia há meia dúzia de anos, o sub 1h20. Acabei com 1h19m39s, mesmo à justa, com uma média de 3'59''/km! Soube extraordinariamente bem voltar a correr os 20, depois de um ano de interregno. Tanta gente conhecida a puxar por mim quase que aliviou o sufoco que é correr 80 minutos de corda na garganta. Eu disse QUASE! 

Com o Mota, o Rodrigo e as nossas camisolas novas! 

Eu disse que tinha sido um sufoco.

Se bem se lembram, no final de 2019 e inicio de 2020 treinei com a beAPT, do Armando Teixeira, com vista ao MIUT 2020, que foi cancelado. Foram meses de mudança radical de métodos de treino e, apesar de ter sido durante tão pouco tempo, notei logo uma evolução brutal. Nunca mais voltei a treinar com eles, não que não quisesse, mas infelizmente é um esforço financeiro que não posso assumir hoje em dia. No entanto muita coisa ficou desses meses. Claro que sem o método de um profissional a orientar, mas algumas linhas básicas ficaram gravadas. Passei a sair mais vezes da zona de conforto nos treinos e passei a dar muito mais valor à intensidade do que ao volume de km. 



Só mais duas fotos de treinos perfeitos nestes meses. A primeira na mariola grande do KV do Alvoco e a segunda num qualquer bosque de sonho da Lousã.

Foram assim os últimos 2 meses de preparação para o MIUT. Poucas provas, semanas de treino de muita carga e sensações ótimas! Tudo estaria perfeito e encaminhado para um bom MIUT, mas......

O gémeo.

Raramente estou lesionado. Deve ser aí de dois em dois anos. Detesto falar sobre isso, quanto mais escrever sobre isso... Mas justifica-se, porque neste preciso momento, domingo, a 5 dias de sair de Porto Moniz, ainda tenho sérias dúvidas se vou partir na Madeira. Já que à pergunta se "devo" partir sei a resposta. 

Sim, é dramático. Começou uma semana antes da Estrela, 7 semanas antes do MIUT. Corri o Estrelaçor já limitado e desde então foram 5 semanas de carga cumpridas a toque de anti-inflamatório. Não me orgulho nada disso, mas foi literalmente isso: um treino - um comprimido no fim. Cumpri o plano com o gémeo preso por um arame, mas os 20km de Almeirim trataram de o torcer até ficar da espessura de um fio de cabelo. 

Toda a minha esperança estava depositada nas ultimas duas semanas antes da prova. Parei de correr, comecei a fazer massagens. Mas, infelizmente, ao fim da primeira semana de emergência, as perspetivas não são boas.

Vou entrar na ultima semana e não volto a correr até sexta feira à meia noite. Não faço ideia se consigo chegar sequer ao fim da primeira subida, mas, conhecendo-me, já sei que não vai ser por falta de tentativa. Duas semanas sem corrida claro que vão debelar a boa forma que tinha, mas numa prova de 115km não é por estar 10% em pior forma que me preocupo. Só queria que das 398 variáveis numa ultra daquelas que podem deitar tudo a perder, não conseguir correr por causa de uma dor no gémeo não seja uma delas. 

Enfim. O MIUT não espera por ninguém e está aí à porta. A minha prova preferida, o meu arqui-inimigo. Estou muito ansioso, nervoso e pessimista. Não sei se é daqui que vai sair o primeiro DNF da minha vida, mas não me vou ficar sem dar luta. 

Vamos a isso.

Algumas fotos do site oficial, para inspiração.








5 comentários:

  1. Força, Filipe. Também inflamei uma canela no Marão, quando tudo parecia estar a correr tão bem... Mas pronto, não podemos escolher como chegamos às provas. :) Agora é gerir até lá e aparecer na partida com um sorriso na cara :) Espero que recuperes bem e que a corra te corra como queres, para depois poder vir aqui ler mais um relato ;) Força!
    Richard

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  2. Dá lhe companheiro💪
    Dos fracos não reza a história.

    Nelson Bento

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  3. Todos que seguimos o teu blog, sabemos da tua história com o MIUT. É frustrante a tão pouco tempo de estar atrás da linha de partida estar nessa situação.
    Que estas duas semanas de pausa, que te privaram de treinar, tenham sido o suficiente para conseguires atravessar uma vez mais a ilha.
    Força, diverte-te e desfruta.
    Boa prova

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  4. Meu parça, boa sorte! A cabeça não vai limpa, mas vai com vontade! Fico acompanhar deste lado!

    https://andaviana.wordpress.com/

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  5. É inevitável sentir a tua angústia, ao ler estas palavras. Lamento pelas tuas perdas, e lamento pela o teu gémeo.

    Não percebo nada de ultras, muito menos de provas de 3 dígitos, mas a minha pouca experiência já me disse que a cabeça tem um peso brutal na forma como fazemos uma prova. Eu sei que não é a cabeça que cura o gémeo, mas também sei que, como dizes, vais lá, vais com tudo e vais dar luta até ao fim! E, olha, eu vou estar a torcer aqui por ti e pelo teu gémeo, porque o foco e a vontade não te faltam. Boa prova, diverte-te e aproveita a terra incrível que é a Madeira, por mais que uma pessoa lá volte. Um beijinho, Filipe! Força!

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