Estava a 5 ou 6km da meta instalada na Lousã, em 15º ou 16º, na descida final do incrível Louzan SkyRace deste ano. Deixei tudo o que tinha e não tinha naquela descida. Arrisquei como raramente arrisco, a adrenalina vinha a níveis altíssimos, sentidos apurados, músculos e respiração no limite! Passei por 3 ou 4 caminheiros quando, 10 ou 15 metros à frente, tropecei, caí, rebolei, e, como que aproveitando o movimento natural da cambalhota, voltei a levantar-me e segui exactamente no mesmo passo. Acho que nem senti o chão, queria era seguir caminho e surfar aquela brutal onda até ao fim!
Foi então que, quando me levantei, ouvi aquela frase.
"Para que é essa pressa toda?! Já não vais ganhar nada!"
Ao longo da vida tenho-me cruzado com pessoas destas. Mais do que não perceber porque é que faço o que faço, porque é que me esforço, porque é que acordo todos os dias de madrugada, abdico de muito e vivo obcecado com esta paixão tão forte que é a corrida, mais do que isso tudo, são pessoas que, a viver na sua zona de conforto, vêem com desdém aqueles que lá fora ousam fazer mais, ser mais.
"Todos os dias? Isso só te faz é mal"
A grande maioria das vezes é inconsciente, eu sei que é. Mas de vez em quando lá me cruzo com um deles e de imediato sinto aqueles tentáculos negros a quererem agarrar-me. A meter-me peso em cima, 1 grama de cada vez. A puxar-me para a sombra.
"Mas treinas tanto para quê? Já ganhaste alguma corrida?"
Aprender a reconhecer estes polos negativos foi o primeiro passo para me tornar imune. Decidi afastar-me o mais que posso deles. Aprendi a rodear-me de pessoas positivas, que gostem genuinamente tanto de falar como de ouvir.
"100km? Para quê? Que parvoíce!"
O desporto, em particular a corrida, é o mais puro exemplo de meritocracia. Se trabalharmos, se nos esforçarmos, temos a recompensa. Gosto de estabelecer objectivos difíceis porque sei que trabalhando lá chego e, por outro lado, acho que é da maior importância fazer coisas difíceis!
Hoje em dia quando percebo que alguém me está a prender uma âncora ao pé não fico irritado. Educadamente, e com um sorriso, digo-lhes:
É verdade, nunca vou ganhar a corrida. Mas ai de mim se não vou fazer o meu melhor em tudo o que faço!
Brutal como sempre longe desses polos negativos :-)
ResponderEliminarPouco ou mesmo nada se consegue sem trabalho ou treino se aplicarmos à corrida ou desporto em geral. Se é para ser até ao último pingo, que seja. A decisão é tua e ninguém tem nada a ver com isso. Só tem que respeitar e se não o fizerem, longe que já foram tarde. O contrário também é valido.
ResponderEliminarGrande Abraço Filipe e estás cá uma maquina :)
Lá dizia o "outro", No pain, no gain... Mas eu também vejo pessoal de sobrancelha levantada quando digo que vou caminhar ou correr devagarinho... Cada um treina e "surfa" as descidas como acha melhor, como gosta... Uns vão a rebolar outros devagarinho, o importante é sair do sofá.
ResponderEliminar**
Pode não dar para um livro de auto-ajuda mas dá para umas palestras ;)
ResponderEliminarParabéns pelo desabafo!
"são pessoas que, a viver na sua zona de conforto, vêem com desdém aqueles que lá fora ousam fazer mais, ser mais"
ResponderEliminarFazendo aqui a análise psicológica da coisa, esta frase diz tudo. Essas pessoas fazem esses comentários porque elas próprias se sentem desconfortáveis com o que tu fazes. De cada vez que tu fazes mais uma das tuas "loucuras", estás a lembrar muito boa gente da sua própria inércia e preguiça... Eu incluída!
A diferença é que, de facto, ao invés de te dizer "para quê essa correria se não vais ganhar nada?", eu prefiro dizer-te "és louco mas quem me dera ser como tu! És uma inspiração e é incrível o teu foco e persistência e a forma como, em cada prova, dás tudo o que tens e não tens, independentemente do resultado no final!".
Eu não sou a pessoa mais optimista do mundo, mas tento não ser âncora... Cada um tem os seus objetivos, os seus propósitos, e cada um sabe de si e das suas motivações.
Há uns anos ouvi uma palestra da Susana Torres (a "famosa" coach do Eder...), em que ela dizia que um dos primeiros exercícios que fazia sempre que começava a trabalhar com alguém era, precisamente, identificar essas "âncoras" negativas que cada pessoa tinha na sua vida. Às vezes, nem temos bem noção, mas permitimos que gravitem à nossa volta pessoas que nada nos acrescentam e só nos puxam para baixo...
Pensa lá em escrever o livro, que já tens uns quantos a querer comprar :D
Excelente texto! Uma vénia! :)
ResponderEliminarAbraco!
Mais um excelente texto, neste caso, o desporto é apenas acessório.
ResponderEliminarEssa malta é a mesma que pergunta, com um sorriso mal disfarçado, depois de uma prova, ou na conversa sobre alguma prova: "Então ganhaste?" ou "Em que lugar ficaste?".
Dos que me posso afastar, milhas de distância, de preferência a passo rápido.
Deduzo, portanto, que não tens uma âncora tatuada no braço :)
Abraço
Revejo-me em tudo o que disseste. Neste período de há uma semana estou parado por lesão e mortinho por voltar à rotina. Mas sei que gravitam as âncoras à volta a dar para trás
ResponderEliminarHá que ser forte e seguir em frente rumo aos nossos objectivos.
Abraço
Excelente texto onde me revejo. Cada um com os seus objetivos. Temos de estar seguros do que queremos e para onde queremos ir. E isso é subjetivo. Cada um tem as suas âncoras. Força!
ResponderEliminarÉ incrível o que consegues passar nestas tuas palavras. Quase que me senti por lá! Não sei se alguma vez vou ao Pisão mas um obrigado pela "experiência" passada nestas linhas.
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